Exposição permanente em ambiente digital.

COLEÇÃO FULVIA E ADOLPHO LEIRNER DO ART DÉCO BRASILEIRO

Regina Gomide Graz. Mulher com galgo, c.1930. Tapeçaria pintada sobre veludo acrílico. 174,5 x 110 x 3 cm

Artistas em Destaque

Antônio Gomide, Regina Gomide e John Graz - Gustavo Brognara e Renata Rocco
Cássio M’Boy - Andrea Ronqui
Flávio de Carvalho - Breno de Faria

Destaques da Coleção

Art Déco no Brasil - Renata Rocco
Artes Gráficas - Andrea Ronqui
Mobiliário - Breno de Faria
Mobiliário da Casa Modernista da rua Itápolis - Breno de Faria
Arte Têxtil - Gustavo Brognara

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Antônio Gomide, Regina Gomide e John Graz
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Antônio Gomide, Regina Gomide Graz e John Graz são pioneiros do Art Déco no Brasil. A partir dos anos 1920, no contexto de revisionismo da ambientação das residências urbanas da elite paulistana, esses artistas realizam projetos de decoração de interiores que estabelecem uma ligação fundamental entre pintura, arquitetura e artes aplicadas, trazendo para a estética do cotidiano doméstico as formas do Cubismo e Art Déco, reunidos por Fulvia e Adolpho Leirner.

Os irmãos Gomide conheceram John Graz durante seus estudos na Escola de Belas-Artes de Genebra nos anos 1910. Nascido na Suíça, John Graz é um dos expoentes do modernismo brasileiro. Em 1920, Graz casa-se com Regina Gomide, estabelecendo residência em São Paulo, dois anos depois participando da Semana de Arte Moderna.

Entre 1925 e 1940, John Graz desenvolve projetos com grande êxito comercial para mobiliário, luminárias, painéis, vitrais e afrescos, em conjunto com Regina Gomide Graz, que se dedica ao trabalho com tapetes, cortinas, panneaux e almofadas. Trata-se de uma produção artesanal, executada sob encomenda, com materiais importados, exclusiva para uma elite privilegiada. Com Regina Graz, a arte têxtil ganha espaço na narrativa da arte moderna brasileira como um híbrido entre a pintura e a decoração, inserida em intensos debates internacionais durante os anos 1950 sobre a integração da arte ao cotidiano.

Em relação a Antônio Gomide, suas produções de temática nacional e popular voltadas às artes aplicadas enriquecem o panorama do modernismo ao chamar a atenção para as várias facetas do artista não apenas vinculadas à pintura de cavalete, mas à estamparia e às produções volantes, como leques e cardápios em papel-cartão, desenvolvidas no contexto do Carnaval, tema de grande interesse dos artistas modernos.

Gustavo Brognara e Renata Rocco

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Antônio Gomide, Regina Gomide and John Graz
[português]

Antônio Gomide, Regina Gomide Graz and John Graz are Art Déco pioneers in Brazil. From the 1920s on, in a context of revisions of the environment of the urban residences of São Paulo’s elite, these artists perform interior decoration projects that establish a fundamental link between painting, architecture and applied arts, bringing the forms of Cubism and Art Déco to the daily life aesthetics of homes, as it is case of the pieces gathered by Fulvia and Adolpho Leirner to compose their collection.

The Gomide brothers met John Graz during their studies at the Geneva School of Fine Arts in the 1910s. Born in Switzerland, John Graz is one of the exponents of Brazilian modernism. In 1920, Graz married Regina Gomide, setting residence in São Paulo and participating in the Modern Art Week two years later.

Between 1925 and 1940, John Graz developed projects for furniture, luminaires, panels, stained glass windows and frescoes that achieved great commercial success, together with Regina Gomide Graz, who worked on carpets, curtains, panneaux and cushions. These were handmade products made from imported materials and commissioned by a privileged elite. Regina Graz’s efforts assigned relevance to textile art in the narrative of Brazilian modern art as a hybrid between painting and decoration, inserted in intense international debates during the 1950s about the integration of art into everyday life.

Regarding Antônio Gomide, his productions were themed after Brazilian and popular topics and focused on applied arts, enriching the panorama of modernism by drawing attention to the various facets of an artist, not only linked to easel painting, but to stamping and daily life productions such as hand fans and cardboard menus, developed in the context of Carnival, a subject of great interest to modernist artists.

Gustavo Brognara and Renata Rocco

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Cássio M’Boy
[english]

Cássio M'Boy nasce numa pequena cidade do interior de São Paulo (Mineiros do Tietê) e cresce em Botucatu. Sua primeira formação artística se dá na capital paulista, nas aulas do pintor alemão Georg Elpons, seguida de uma temporada de estudos na Escola Nacional de Belas-Artes, no Rio de Janeiro.

É a partir do contato com os modernistas paulistas nos anos 1920 que passa a atuar nas artes decorativas, criando objetos de mobiliário e decoração e estampas para tecidos, com os quais obtém grande sucesso entre as elites paulista e carioca, junto a artistas pioneiros como os membros da família Gomide-Graz.

Destaca-se na categoria "artes aplicadas" no 1o Salão Paulista de Belas-Artes, em 1934. Três anos depois, é premiado com a medalha de ouro na Exposição Internacional das Artes e Técnicas em Paris e recebe o diploma do Ministério do Comércio e Indústria da França. Participa ainda do Salão de Maio de 1938.

Quando se muda para o Embu, nos anos 1940, passa a explorar a plástica das artes indígenas e africanas. A década de 1950 traz dois eventos de destaque: a primeira mostra individual no MASP em 1950 e a participação na delegação brasileira da XXVI Bienal de Veneza, na qual expõe duas obras e vende uma delas.

Cássio M'Boy teve atuação importante em outras frentes. Integra a Comissão Paulista de Folclore (entidade oficial da Unesco) e a Divisão de Festejos Populares do Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda. É ainda um dos artistas que realizam o vitral do Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Álvares Penteado (MAB FAAP), entre 1959 e 1960.

Andrea Ronqui

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Cássio M’Boy
[português]

Cássio M’Boy was born in a small town in São Paulo’s countryside (Mineiros do Tietê), growing up in Botucatu. His first artistic training took place in the capital, attending the classes of German painter Georg Elpons, followed by a period studying at the National School of Fine Arts in Rio de Janeiro.

It is from the contact with the modernists of São Paulo in the 1920s that he began to act in the decorative arts, creating furniture and decoration pieces and prints for fabrics, with which he obtains great success among the elites of São Paulo and Rio de Janeiro, along with pioneer artists such as members of the Gomide-Graz family.

M’Boy stood out in the category “applied arts” in the 1st São Paulo Salon of Fine Arts, in 1934. Three years later, he was awarded the gold medal at the International Exhibition of Arts and Techniques in Paris, also receiving a diploma from the French Ministry of Commerce and Industry. He also participated in the 1938 May Salon.

When he moved to Embu in the 1940s – São Paulo’s countryside –, M’Boy started exploring the plastic aspects of indigenous and African arts. The 1950s bring two prominent events: his first solo exhibition at MASP in 1950 and the participation in the Brazilian delegation of the XXVI Venice Biennale, at which he exhibits two pieces and sells one.

Cassio M’Boy played important roles on other fronts. He was a part of the São Paulo Folklore Commission (Unesco’s official entity) and the Division of Popular Celebrations of the State Department of Press and Propaganda. He is also one of the artists who made the stained glass piece of the Museum of Brazilian Art of the Armando Álvares Penteado Foundation (MAB FAAP), between 1959 and 1960.

Andrea Ronqui

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Flávio de Carvalho
[english]

Flávio de Carvalho nasce em Amparo da Barra Mansa, no interior do Rio de Janeiro, em 1899, tendo sua família se transferido para São Paulo em 1900. Em 1911, vai à França para estudar, transferindo-se em 1914 para a Inglaterra. Em 1922, retorna ao Brasil – após a semana de arte moderna – formado Engenheiro Civil. Trabalha em escritórios de engenharia e arquitetura por um breve período e já em 1926 começa a colaborar com ilustrações para o jornal Diário da Noite, onde também trabalha Emiliano Di Cavalcanti. Em 1927, participa sob o pseudônimo de Eficácia do concurso para o Palácio do Governo de São Paulo. Pela apresentação deste projeto, Flávio disputa com o arquiteto de origem russa e formação italiana Gregori Warchavchik a primazia na historiografia de ser introdutor da arquitetura moderna no Brasil.

Em 1929, une-se ao grupo antropofágico participando em 1930 como “delegado antropófago” do IV Congresso Pan-americano de Arquitetos no Rio de Janeiro, apresentando sua tese A cidade do homem nu. Em 1931, participa da XXXVIII Exposição Geral de Belas Artes no Rio de Janeiro, organizada durante a gestão de Lúcio Costa na Escola Nacional de Belas-Artes. Em 1932 junto com Di Cavalcanti, Carlos Prado e Antônio Gomide funda o Clube dos Artistas Modernos, o CAM. Em 1934 inaugura sua primeira exposição individual em São Paulo, que é fechada pela polícia e reaberta após ganhar no Justiça ação movida contra o Estado. Participa do 1º Salão de Maio em 1937 e apresenta sua tese O aspecto psicológico e mórbido da arte moderna. Em 1938, projeta e constrói um conjunto de casas de aluguel na alameda Lorena, na capital, e a sua casa, sede da fazenda Capuava, em Valinhos, no interior de SP. Em 1939 organiza o 3º Salão de Maio e edita a Revista Anual do Salão de Maio.

Breno de Faria

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Flávio de Carvalho
[português]

Flávio de Carvalho was born in 1899, in Amparo da Barra Mansa, in the countryside of Rio de Janeiro. His family moved to São Paulo in 1900. In 1911, he went to France to study and transferred to England in 1914. In 1922, he returned to Brazil—after the Modern Art Week—graduated as a Civil Engineer. He worked in engineering and architecture offices for a brief period and, already in 1926, he started to collaborate with illustrations for the newspaper Diário da Noite, where Emiliano Di Cavalcanti also worked. In 1927, he participated, under the pseudonym Eficácia, in the competition to design the Government Palace of São Paulo. For the presentation of this project, Flávio disputed the historiographical primacy of introducing modern architecture in Brazil with the architect Gregori Warchavchik, of Russian origin and Italian formation.

In 1929, he joined the anthropophagic movement; in 1930, he participated of the IV Pan American Congress of Architects in Rio de Janeiro as “anthropophagous delegate,” presenting his thesis ‘A cidade do homem nu.’ In 1931, he participated in the XXXVIII General Exhibition of Fine Arts in Rio de Janeiro, organized during the management of Lúcio Costa, at the National School of Fine Arts. In 1932, along with Di Cavalcanti, Carlos Prado, and Antônio Gomide, he founded the Clube dos Artistas Modernos (CAM – Club of Modern Artists). In 1934, he opened his first solo exhibition in São Paulo, which was closed by the police and reopened after winning a lawsuit against the State. He participated in the 1st Salão de Maio, in 1937, and presented his thesis ‘O aspecto psicológico e mórbido da arte moderna.’ In 1938, he designed and built a set of rental houses on Lorena Boulevard, in the capital, and his house, the headquarters of the Capuava farm, in Valinhos, in the countryside of São Paulo. In 1939, he organized the 3rd Salão de Maio and edited the Annual Magazine of the Salão de Maio.

Breno de Faria

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Art Déco no Brasil
[english]

O estilo Art Déco tem início em Paris em 1925 com a mostra Exposition Universelle des Arts Décoratifs, em um contexto que se convenciona chamar de “Espírito do Retorno à Ordem”. Disseminado internacionalmente entre os anos 1920 e 1930, o estilo se espraia por diversas manifestações artísticas como a pintura, a escultura, a arquitetura de espaços públicos e privados, a tapeçaria, o mobiliário, a moda, a mídia impressa, e objetos como luminárias, lustres, vasos, estatuetas em bronze, mármore e marfim, entre outros. Genericamente pode-se dizer que sua caracterização se dá pelo emprego de formas geométricas, linhas retas ou circulares podendo ser de linguagem figurativa ou abstrata.

No caso brasileiro, nas artes visuais, a sua introdução se dá por meio das criações do pernambucano Vicente do Rego Monteiro, do ítalo-brasileiro Victor Brecheret, do suíço John Graz, e dos paulistas Regina Gomide Graz e Antônio Gomide, artistas que travam contato com as vanguardas do início do século em Paris. Em paralelo, empresas de mobiliário como a Laubisch & Hirth e Red Star também trabalham no Brasil a partir desse mesmo estilo.

A coleção reunida por Fulvia e Adolpho Leirner a partir do início dos anos 1960 conta com diversas obras realizadas em estilo Art Déco. Esse inestimável conjunto é composto por tapeçarias, mobiliário, objetos – como relevo, vaso e pé de abajur -, pintura, estatueta, criados por Regina Gomide Graz, John Graz, Antônio Gomide, Cássio M’Boi, além de um raro painel desenvolvido pelo ítalo-brasileiro Antelo Del Debbio.

Renata Rocco

Galeria

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Art Déco in Brazil
[português]

Art Déco as a style began in Paris in 1925 with the exhibition Exposition Universelle des Arts Décoratifs, in a context that came to be conventionally called “Spirit of Return to Order”. Disseminated internationally between the 1920s and 1930s, the style spread through various artistic manifestations such as painting, sculpture, the architecture of public and private spaces, tapestry, furniture, fashion, printed media, and objects such as luminaires, chandeliers, vases, bronze statuettes, marble and ivory, among others. A generic characterization of Art Déco can consider the use of geometric shapes, straight or circular lines, which can be figurative or abstract.

In the Brazilian case, in the visual arts, its introduction takes place through the creations of the Pernambuco-born Vicente do Rego Monteiro, the Italian-Brazilian Victor Brecheret, the Swiss John Graz, and São Paulo’s Regina Gomide Graz and Antônio Gomide, artists who were in contact with the avant-garde movements of the early 20th century in Paris. In parallel, furniture companies such as Laubisch & Hirth and Red Star also work in Brazil with this same style.

The collection gathered by Fulvia and Adolpho Leirner from the early 1960s has several works made in Art Déco style. This priceless set consists of tapestries, furniture, objects – such as pieces in relief, vase and lamp’s foot – painting, statuettes, created by Regina Gomide Graz, John Graz, Antônio Gomide, Cássio M’Boi, as well as a rare panel by the Italian-Brazilian Antelo Del Debbio.

Renata Rocco

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Artes Gráficas
[english]

As fronteiras entre o que se entendia por artes “maiores” e “menores” vêm se desfazendo, conforme estas últimas ganham novos olhares e novas perguntas são feitas. A vasta produção de artistas – consagrados nas chamadas “belas artes” – no campo das artes gráficas torna-se sempre mais relevante, na medida em que revela características nos seus modos de fazer e na sua relação com os meios de comunicação de massa.

As peças gráficas provenientes da coleção de Fulvia e Adolpho Leirner ilustram a atuação de Antônio Gomide como artista gráfico no contexto dos bailes de carnaval em São Paulo, dialogando diretamente com os estudos para cartaz desses bailes de Fulvio Pennacchi e Emiliano Di Cavalcanti, já presentes na coleção do MAC USP. Além disso, o leque e os cardápios para os bailes do Hotel Terminus complementam o grupo de obras de Gomide já existente no acervo, que abrange estudos em aquarela para decoração de baile de carnaval, pintura em tela, afresco e estudos de estamparia, oferecendo um panorama mais completo da atuação diversificada do artista.

Já o estudo para cartaz de Tarsila do Amaral é um registro do seu contato com o ambiente soviético nos anos 1930 e se insere na produção em artes gráficas da artista, que inclui ilustrações para livros, algumas também presentes no acervo do MAC USP.

O conjunto de artes gráficas da coleção de Fulvia e Adolpho Leirner, assim, se destaca tanto pela qualidade das obras quanto por ilustrar a multiplicidade de suportes na produção desses artistas, ao mesmo tempo em que ilumina a coleção do Museu, contribuindo para sua função de museu universitário.

Andrea Ronqui

Galeria

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Graphic Arts
[português]

The boundaries between what was understood by “major” and “minor” arts have been breaking down, as the latter are observed through new eyes and questioned differently. The vast production of artists – renowned in the so-called “fine arts” – in the field of graphic arts becomes ever more relevant, as it reveals characteristics in its ways of doing and in its relationship with mass media.

The graphic pieces from the collection of Fulvia and Adolpho Leirner illustrate the performance of Antônio Gomide as a graphic artist in the context of carnival dances in São Paulo, dialoguing directly with the poster studies of these dances by Fulvio Pennacchi and Emiliano Di Cavalcanti, already present in MAC USP’s collection. Moreover, the hand fan and menus for the balls at Hotel Terminus complement the set of Gomide’s works already existing in the collection, which covers watercolor studies for carnival dance decoration, canvas paintings, fresco and stamping studies, offering a more complete panorama of the artist’s diverse performance.

The study by Tarsila do Amaral for a poster is a record of her contact with the Soviet environment in the 1930s and is part of the artist’s production in graphic arts, which includes illustrations for books, some also present in the collection of MAC USP.

The set of graphic arts from the Fulvia and Adolpho Leirner collection thus stands out both for the quality of the works and for illustrating the multiplicity of supports in the production of these artists, while illuminating the museum’s collection, contributing to its function as a university museum.

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Mobiliário
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Os itens de mobiliário na Coleção de Fulvia e Adolpho Leirner do Art Déco Brasileiro expandem as possibilidades de preservação, conhecimento e fruição de importante e ainda pouco explorada faceta da produção ligada à arte moderna no Brasil. A fabricação de mobília é uma das manifestações fulcrais do projeto moderno, tendo em vista a necessidade de composição dos ambientes criados pela linguagem arquitetônica modernista. O mobiliário já conta com uma história da experiência do habitar, tendo a sua própria trajetória no Brasil, mas é no final do primeiro quartel do século XX que podemos observar o começo de uma mudança dos paradigmas da produção moveleira.

Os exemplares que temos aqui são de Gregori Warchavchik com o mobiliário da Casa Modernista; Flávio de Carvalho com duas cadeiras; John Graz com mobiliário da década 1930; e Cássio M’Boy com uma cadeira. Espécimes de diferentes linguagens modernizantes que vão do racionalismo funcionalista ao sensual Art Déco, passando por inflexões de um primitivismo lírico. Esses podem ser considerados justamente autores e obras introdutórios do mobiliário moderno no país. Produção de fatura artesanal, mas que visa à estética do objeto industrial, que seria feito seriado, com materiais padronizados e em larga escala.

Elaborados para contemplar uma elite abastada com interesse em consumir e se associar ao mais próximo possível do que estava sendo elaborado e disseminado nos centros das economias avançadas de Viena a Nova York, esses objetos, produzidos por arquitetos, engenheiros e artistas, brasileiros e não brasileiros, majoritariamente de formação europeia, demonstram a vontade de sincronização, mesmo que em certos aspectos contraditória, com o que havia de vanguarda naquele contexto.

Breno de Faria

[topo]

Galeria

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Furniture
[português]

The furniture items in the Brazilian Art Déco Collection of Fulvia and Adolpho Leirner expand the possibilities of preservation, knowledge, and enjoyment of an important, yet little explored, facet of production linked to modern art in Brazil. The production of furniture is one of the central manifestations of modern design, in view of the need to compose the environments created by the modernist architectural language. The furniture already carries a history of the living experience, with its own trajectory in Brazil, but it is at the end of the first quarter of the twentieth century that we can observe the beginning of a change in the paradigms of furniture production.

The specimens we have here are the furniture of Casa Modernista by Gregori Warchavchik; two chairs by Flávio de Carvalho; 1930s furniture by John Graz; and a chair by Cássio M’Boy. Specimens from different modernizing languages, ranging from functionalist rationalism to sensual Art Déco, with inflections of a lyrical primitivism. These can be considered introductory authors and works of modern furniture in the country. Handmade productions aimed at the aesthetics of the industrial object, which would be produced in series, with standardized materials, and on a large scale.

These objects were designed to contemplate a wealthy elite with an interest in consuming and associating themselves to what was being elaborated and disseminated in the centers of the advanced economies, from Vienna to New York. Produced by Brazilian and non-Brazilian architects, engineers, and artists, mostly of European training, these objects demonstrate the desire for synchronization, even if certain aspects contradict what was at the forefront in that context.

Breno de Faria

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Mobiliário da Casa Modernista da rua Itápolis
[english]

A doação da Coleção Fuvia e Adolpho Leirner do Art Déco Brasileiro contempla um momento extraordinário da história da arte e da cultura no Brasil, o conjunto de mobiliário desenvolvido por Gregori Warchavchik para a Casa Modernista da rua Itápolis no bairro Pacaembu em São Paulo. Cabe aqui fazer um pequeno esclarecimento sobre uma ambiguidade quando se menciona essa produção do arquiteto. Existem duas casas projetadas pelo arquiteto que são comumente denominadas de modernistas, próximas cronologicamente, mas distintas em suas propostas. A primeira, que é conhecida hoje como Casa Modernista, é o imóvel da rua Santa Cruz no bairro Vila Mariana em São Paulo. Construída em 1927, foi projetada para ser a residência da família de Warchavchik que havia se casado naquele ano com Mina Klabin.

Alguns anos depois, em 1930, Gregori Warchavchik decidiu propor um projeto mais ambicioso e de caráter propagandístico, que levou o nome na época de "Exposição de uma Casa Modernista”. Ele concebeu uma casa para materializar o ideário modernista que defendia em publicações naquele momento, para isso construiu no novo bairro-jardim do Pacaembu a casa que foi preenchida, além do mobiliário por ele desenhado, com mais de cinquenta obras de diversos artistas modernos: Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Regina Gomide Graz, Lasar Segall, Jenny Klabin Segall, Di Cavalcanti, Cícero Dias, Esther Bessel, Oswaldo Goeldi, Jacques Lipchitz, Celso Antônio, Menotti del Picchia, Brecheret, Antônio Gomide, John Graz, Sonia Delaunay e Regina Graz. E como na sua residência particular, sua esposa Mina projetou os jardins desenvolvendo novamente uma linguagem moderna para o paisagismo. Essa casa foi aberta ao público em 24 de março de 1930, recebendo mais de vinte mil visitantes em poucos dias. O intuito era que as pessoas pudessem experimentar o que seria uma vida rodeada pela produção de vanguarda em todos os campos. Posteriormente a casa foi comercializada e Warchavchik deu os móveis para seu amigo Geraldo Ferraz, o escritor casado com Patrícia Galvão, a Pagu, que depois os presentearam ao seu filho Geraldo Galvão Ferraz, de quem Fulvia e Adolpho Leirner os adquiriram.

Breno de Faria

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Furniture of the Modernist House on Itápolis Street
[português]

The donation from the Fuvia and Adolpho Leirner Brazilian Art Déco Collection contemplates an extraordinary moment in the history of art and culture in Brazil: the set of furniture developed by Gregori Warchavchik for the modernist house on Itápolis Street, in the Pacaembu neighborhood, São Paulo. It is worth clarifying an ambiguity when mentioning this architect’s production. Two houses were designed by the architect and are commonly called modernists; they are chronologically close, but distinct in their proposals. The first, which is known today as Casa Modernista, is the property on Rua Santa Cruz in the Vila Mariana neighborhood, in São Paulo. Built in 1927, it was designed as the Warchavchik’s residence, who had married Mina Klabin that year.

A few years later, in 1930, Gregori Warchavchik decided to propose a more ambitious and propagandistic project, which was named “Exhibition of a Modernist House.” He designed a house to materialize the modernist idea he defended in publications at that time. For that purpose, he built the house in the “new-Jardim” neighborhood (Pacaembu) that was filled with the furniture he designed, in addition to more than fifty works by several modern artists: Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Regina Gomide Graz, Lasar Segall, Jenny Klabin Segall, Di Cavalcanti, Cicero Dias, Esther Bessel, Oswaldo Goeldi, Jacques Lipchitz, Celso Antônio, Menotti del Picchia, Brecheret, Antônio Gomide, John Graz, Sonia Delaunay, and Regina Graz. And, as in his private residence, his wife Mina designed the gardens, again developing a modern language for landscaping. This house was opened to the public on March 24th, 1930, receiving more than twenty thousand visitors in only a few days. The goal was for people to experience what life would be like surrounded by cutting edge production of all fields. The house was later sold and Warchavchik gave the furniture to his friend Geraldo Ferraz, a writer married to Patrícia Galvão (Pagu) who later presented them to their son, Geraldo Galvão Ferraz, from whom Fulvia and Adolpho Leirner acquired them.

Breno de Faria

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Arte Têxtil
[english]

Talvez pelo forte impacto visual ou pela sua singularidade – diante de tão poucas remanescentes – as obras têxteis da Coleção Fulvia e Adolpho Leirner exercem fascínio e fornecem a dimensão do projeto de arte decorativa moderna brasileira iniciado nos anos 1920. Com a recepção da coleção precursora nessa tipologia, ganham espaço no MAC USP dois novos artistas fundamentais para a arte têxtil no Brasil: Cássio M’Boy e Regina Gomide Graz.

Durante as décadas de 1920 e 1930, o artista Cássio M’Boy dedica-se à estamparia têxtil e ao design de mobiliário, embora após este período passe a produzir obras de temática e fatura popular. O uso das cores e formas e o vocabulário geométrico em seus tapetes dão ritmo às composições e sinalizam seu alinhamento com as vanguardas e artistas do período Art Déco. Ao assinar seus tapetes, Cássio evidencia ainda o caráter artístico e artesanal das peças e as diferencia da produção industrial, valorizando-as enquanto elementos decorativos das casas modernas.

As obras de Regina Gomide Graz são executadas para projetos de interiores para as casas da elite paulista da primeira metade do século XX, em parceria com John Graz e Antônio Gomide. Neles, cabe à artista o trabalho de estofados, tapetes, cortinas e papéis de parede. Essas criações são um raro testemunho de sua posição igualitária como artista moderna no cenário brasileiro e como pioneira no campo têxtil. Dividindo-se entre composições figurativas e abstratas, a complexidade técnica, a escolha dos materiais e dos motivos das obras de Regina Graz mostram seu engajamento nas diferentes tendências decorativas internacionais em voga nos anos 1920.

Gustavo Brognara

Galeria

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Textile Art
[português]

Perhaps due to the strong visual impact or its uniqueness - in the face of so few remnants - the textile works of the Fulvia and Adolpho Leirner Collection are so fascinating and provide the dimension of the Brazilian modern decorative art project started in the 1920s. With the reception of the precursor collection in this field, two new fundamental artists of textile arts, in Brazil, gain space at MAC USP: Cássio M'Boy and Regina Gomide Graz.

During the 1920s and 1930s, the artist Cássio M'Boy dedicated himself to textile printing and furniture design; however, after this period, he started to produce works with a popular theme and price. The use of colors and shapes and the geometric vocabulary in his tapestry give rhythm to the compositions and signal their alignment with the avant-garde and artists of the Art Déco period. When signing his works, Cássio also emphasized the artistic and handcrafted nature of the pieces and differentiated them from industrial production, valuing them as decorative elements of modern houses.

The works by Regina Gomide Graz are intended for interior projects of elite houses of São Paulo, during the first half of the twentieth century, in partnership with John Graz and Antônio Gomide. In them, the artist is responsible for upholstery, carpets, curtains, and wallpapers. These creations are a rare testimony to her egalitarian position as a modern artist on the Brazilian scene and as a pioneer in the textile field. Divided between figurative and abstract compositions, the technical complexity, the choice of materials and motifs of Regina Graz's works show her engagement in the different international decorative trends of the 1920s.

Gustavo Brognara

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