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Entrada Gratuita

ELEONORE KOCH: EM CENA


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Educativo:
55 11 2648-0258

Imprensa:
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MAC USP
Av. Pedro Álvares Cabral, 1301
Ibirapura - São Paulo - SP, Brasil
Horário de funcionamento:
Terça a domingo das 10 às 21 horas
Segundas: fechado
Entrada gratuita

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Núcleos

A cena
As paisagens de parques realizadas por Eleonore Koch são um capítulo da maior relevância no seu trabalho. Feitas num processo que se iniciava na visita a parques e jardins de Londres, Versailles e a outras localidades europeias, essas pinturas combinam observações diretas, anotações fotográficas e elaborações mentais que muitas vezes misturam realidade e fantasia. Várias delas têm algo de encenado, artificial, assim como os próprios parques, em que a natureza é composta para parecer “natural”. Essas paisagens se assemelham a cenários ou imagens do pensamento, do sonho, algumas com elementos incongruentes, que apontam para essa imaginação onírica; as balaustradas, as escadas, os terraços, os famosos elementos clássicos desses parques, que remetem às villas italianas, surgem nas composições da artista como palco para suas meditações de cor e composição, nas quais se “intrometem” elementos da memória e do afeto: a cadeira predileta, plantas azuis, um chão como a superfície do mar.

A importância do objeto
Eleonore Koch tinha plena consciência das ideias concretistas, tendo convivido com o círculo de artistas associados ao movimento, entre eles Geraldo de Barros, e observado o diálogo de Alfredo Volpi com as proposições da arte concreta. Ainda assim, ela não “abandonou” a figuração para tornar-se “abstrata”, como muitos de sua geração. Koch falava de sua predileção pelos objetos: “porque eles são lindos”. Daí a importância da natureza-morta em sua produção, bem como dos interiores. Entretanto, sua pintura não é uma questão exclusivamente de “assunto” ou temática, ainda que veementemente figurativa. A “solução do quadro”, no sentido de Volpi e Ernesto de Fiori, isto é, a preocupação com a composição – linhas, planos, cores – dentro do espaço da tela, é o foco de sua pintura. Pode-se perceber esse fato por meio dos inúmeros estudos realizados pela artista para cada composição ou para suas variações . Minuciosas anotações de cor estão quase sempre presentes, assinalando as possibilidades combinatórias. Também se observa o uso de papéis coloridos, recortados, que podiam ser colocados e tirados, variando as composições, permitindo a observação incessante dos efeitos da interação das cores (ela foi grande estudiosa da obra de Joseph Albers). A aparição dos objetos, das paisagens, dos interiores, na “visão interna” da artista, imantada pelas cores de sua fantasia, pelo impacto em sua percepção, sensibilidade, seus afetos, e assim propunham um certo estar-no-mundo, isso é o que interessava à sua prática artística.

O método
Eleonore Koch experimentou várias técnicas artísticas até adotar a pintura em têmpera. A escultura e a pintura a óleo ocuparam seus primeiros anos de trabalho, até que em 1953 a artista aprende a técnica da têmpera a ovo no ateliê de Alfredo Volpi. Frequentava o ateliê desse artista, mas não tomava “aulas” propriamente. Observava seu método, discutia arte, mas também, nas idas e vindas do ateliê, assistiam a filmes na Liberdade e compravam brinquedos para servir de objetos de trabalho: carrinhos japoneses, luminárias, manés-gostosos, piões, entre tantos outros que foram compartilhados como motivos de suas obras, como se pode observar na exposição, entre elas as duas pinturas que participaram da VI Bienal de São Paulo, em 1961. A têmpera, técnica adotada por Volpi devido ao seu interesse na pintura dos ditos “primitivos” italianos, isto é, a pintura do Quattrocento, passa a ser também utilizada pela artista, ainda que Volpi nunca tenha passado por completo a “sua” receita da técnica. Koch a aprendeu por observação e aprimorou o método, cujo segredo também nunca revelou totalmente. O conjunto de pigmentos de Eleonore Koch – minerais, vegetais e alguns poucos sintéticos, alguns deles herdados de Volpi – hoje faz parte da coleção do Núcleo de Conservação e Restauro da Pinacoteca de São Paulo. Nos estudos da artista é possível ver as anotações minuciosas dos pigmentos e das misturas realizadas para conseguir os matizes que lhe interessavam. No arquivo Eleonore Koch do MAC USP encontram-se diários da artista com anotações breves sobre sua prática de pintura, as dificuldades e soluções encontradas.

Interiores
As cenas de interior (Zimmerbilds) fazem parte de uma tradição da pintura burguesa europeia em voga desde o século XVII. Como gênero pictórico, consistem na representação minuciosa de um cômodo sem nenhum personagem. No século XIX, a intenção descritiva dessas cenas ganha densidade psicológica, passando a denotar a subjetividade dos indivíduos por meio dos objetos. Dessa tradição, os interiores de Koch guardam a representação de sua posição social e a revelação de aspectos de sua intimidade.
Uma cadeira, uma poltrona, uma mesa, uma máquina de costura, um baú e um biombo – esses são os únicos móveis que a artista representou ao longo da carreira, atestando seu caráter afetivo. Sempre apresentados sozinhos ou em dupla, e em ambientes desabitados, eles formatam cômodos majoritariamente vazios, apontando para a recusa de uma vida doméstica tradicional – Koch foi uma mulher branca, judia, que pôde contar com o apoio familiar para sua formação. Decidida a dedicar-se à carreira, opta por não se casar. Para garantir sua independência, foi vendedora de livros, assistente de cenógrafa, secretária e tradutora. Como “artista do mundo”, suas moradas sempre foram seus ateliês.
Formalmente, os interiores são compostos a partir uma relação incomum entre figura e fundo: o objetivo não é a profundidade de campo, mas explorar possibilidades cromáticas. No entanto, as mobílias não parecem flutuar no espaço: as escolhas estruturais das cores permitem que teto, chão e parede sejam instantaneamente identificados. Assim, a composição pictórica se afasta da tradicional característica descritiva do gênero de interiores, adquirindo uma qualidade de experimentação formal moderna, além de certa capacidade narrativa.

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