15 MAR 2014 - 24 AGO 2014
Entrada Gratuita

Pintura como Meio: 30 Anos Depois


Ana Maria Tavares

Ciro Cozzolino

Leda Catunda

Sergio Niculitcheff

Sergio Romagnolo

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"Para esta instalação construo pinturas/objetos que descansam sobre painéis brancos. Os objetos recortados, pinturas em suporte bidimensional, percorrem as superfícies dos painéis, saindo das bordas externas e escorrendo pelo lado interno.
Externamente uma mesma imagem se repete em cada uma das paredes, quadro a quadro, com a intenção de fazer com que a primeira informação fique mentalmente registrada pelo observador. O objetivo da instalação é unir, através das formas recortadas, os dois momentos do espaço construído – interno e externo – revelando uma situação única, virtualmente concebida pelo espectador. " - Ana Maria Tavares, 1983

"Juntamente com a pintura havia sempre no meu trabalho uma preocupação com a arquitetura, a ocupação dos espaços e uma dualidade entre a organicidade e a racionalidade. A arquitetura, para mim, representava a possibilidade do encontro com uma ordem que não era apenas a da razão. Sempre pensei em termos de uma escala, uma relação com o corpo, e minha pintura também adquiria cores vibrantes e uma qualidade brilhante, emborrachada, quase artificial. A ideia era pensar uma natureza construída, ligada ao sujeito que tem uma experiência fragmentada da relação tempo/espaço. Minha obra necessita de um espectador ativo, que complete a imagem a partir de uma fragmentação cinemática e de um tempo suspenso." - Ana Maria Tavares, 2013

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"Pausa para escrever, enquanto seca o vermelho da tela esticada no chão da cozinha. A rádio já anunciou o último rock da noite...
Decididamente, minha forma de expressão não é a palavra: é a imagem e o conceito da imagem. Levanto a tela do chão e deixo algumas poças de tinta escorrerem, um pouco mais, agora sim. É fascinante essa relação tinta superfície. O preto delimitando tudo, trop vite . Pinceis-panos-cola-cola-bisnagas, coisas do metier . O verão parisiense esquentou, então cortei as pernas da calça preta e se transformou num short. Das sobras, com um corte aqui e ali, um morcego em Gothan City.
Relacionar, transistorizar, transformar. (o chão eu limpo amanhã). Boa noite. Paris, 17 de junho de 1983 – 23:40." - Ciro Cozzolino, 1983

"Nos anos 1980, com a Transvanguarda italiana, o neoexpressionismo alemão, o graffiti em Nova York e a Figuração Livre na França, vi que o lance da pintura voltava com força total: bruta, eloquente, grandiosa. Foi natural pra mim, optar pela pintura. Passei minha infância colecionando fascículos dos Gênios da Pintura , gibis da Disney e dos super-heróis e copiava todos eles. Essa foi minha real formação. Na pintura, buscava a ação – desmistificar a pintura, abolir o cavalete e o atelier, pintar na rua, pintar em qualquer superfície: na parede, em papelão, porta, qualquer coisa, com humor cartunesco, crítico, ácido, sensacionalist . Estas características eu ainda mantenho nesses trinta anos de pintura. São Paulo, 2013." - Ciro Cozzolino, 2013

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"Este trabalho reformula a estampa no que se refere à forma, e também significado. Pela vedagem completa a estampa é destruída. Já por uma vedagem dirigida a estrutura da mesma é alterada, dando vez ao surgimento de uma “reestampa”. E assim, percorrendo diversos processos, os recursos da estampa vão sendo explorados.
A pintura surge no trabalho como um instrumento para a reforma de imagens que seguem um padrão industrial de acabamento. Em geral esta reforma acontece com o desaparecimento de partes da imagem pela pintura, que neste processo de interferência vem ressignificá-la." - Leda Catunda, 1983

"Expus na época pinturas que chamava de Vedações . Eram pinturas feitas com tinta acrílica industrial, em geral de uma única cor, sobre tecidos estampados. A ideia era a de fazer uma apropriação de imagens com uma subsequente intervenção de tinta sobre as mesmas, recriando o padrão da estampa ou interferindo em sua estrutura. O trabalho mudou muito desde então, mas a atitude de tomar emprestadas imagens prontas ou mesmo objetos moles, como foi o caso de toalhas, cobertores, entre outros, foi mantida. No entanto, com o passar do tempo os interesses e os assuntos foram se modificando.
Parecia-me importante, na época, a postura renovada diante de uma linguagem tão explorada. Assim, as vedações reforçavam um procedimento que resultava num tipo de pintura, na qual não se tratava mais das questões tradicionais como representação e expressão. Transformar e ressignificar eram o ponto de interesse e, em grande parte, continuam o sendo até hoje." - Leda Catunda, 2013

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" 'O número de cores e formas é infinito e, assim, também são infinitas as combinações e ao mesmo tempo os efeitos. O material é inesgotável' (Kandinsky).

Existem diversas maneiras de comunicar uma ideia, múltiplos são os níveis de leitura da obra, todos são igualmente verdadeiros. Aspiro de tudo um pouco e, de pouco tudo. A unidade na variedade. Em arte a menor distância entre dois pontos nem sempre é uma reta, pode ser uma parábola." - Sergio Niculitcheff, 1983

"Em 1983, no período da exposição Pintura como Meio , para mim estava muito clara a opção pela linguagem pictórica. Nestes trabalhos, eu desenvolvia experimentações ligadas a uma abstração informal, na qual eram privilegiados aspectos particulares do fazer artístico através da pintura. A mostra foi um modo de pensar e discutir o lugar da pintura no panorama da contemporaneidade.
Posteriormente, no decorrer de minha trajetória, retomei uma abordagem mais ligada ao uso da figura, a imagem como elemento de compositivo das obras. Embora meus trabalhos terem seguido este rumo voltado a representação, em essência, permaneceram conceitualmente dentro de uma construção poética, calcada nas questões da produção originária dos anos 1980. Nestas imagens identifico elementos primordiais que ainda permanecem em minha produção atual, relacionados a estrutura compositiva, paleta cromática, textura, entre outros procedimentos." - Sergio Niculitcheff, 2013

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"A arte, assim como a filosofia, tem tido problemas quanto a definição de sua função e de seu papel dentro da sociedade. Existem várias funções atribuídas à arte. Uma delas é a de instrumento de pesquisa, a qual eu mesmo vinha partilhando. Porém ultimamente não tenho mais pensado assim, porque esse trabalho já é feito pelas ciências, e não cabe a arte disputar nenhuma função. Talvez a função da arte seja essa própria indefinição. Talvez seja necessário a existência de uma instituição contraditória e paradoxal. Seguramente, o assunto mais frequente na história da arte tem sido a própria arte.
Nestes trabalhos pretendo discorrer sobre o papel da imagem artesanal dentro do contexto da produção artística contemporânea. Para isso, procuro inutilizar o ilusionismo da imagem com outro ilusionismo, e subverter a leitura da imagem virtual com a própria imagem. O que quero é produzir uma imagem que não seja nem mimética e nem abstrata. Uma imagem sem esses dois objetivos. Tanto a imagem figurativa quanto a abstrata já apresentaram intenções objetivistas, e sem dúvida, o destino da arte é não ter finalidade alguma. É preciso achar um grau neutro para a arte atuar sem ser confundida com nenhuma outra instituição." - Sergio Romagnolo, 1983

"A ideia da Pintura como Meio era a de mostrar uma pintura que falasse de outros conceitos além da pintura. Eram obras que poderiam ser feitas em vários outras linguagens, porque tratavam de temas independentes do meio. E por que a pintura? Porque na época ninguém se interessava por ela e porque gostávamos. O que me interessava na época era a sobreposição de imagens prontas. Como se dois corpos pudessem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Esse tema ficou recorrente na minha produção e trato dele até hoje, independente da linguagem que utilizo." - Sergio Romagnolo, 2013

 

 





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