UM MUNDO SEM MEDIDAS
Período: 13/11/2009 a 31/1/2010
Local: MAC USP Cidade Universitária
Baseada na obra de Lewis Carrol, Alice no País das Maravilhas, a pesquisadora e curadora francesa Valérie Marchi selecionou 53 obras de onze artistas franceses em que jogos de escala, incongruências e pontos de vista inusitados questionam o real e o imaginário. A exposição encerra as atividades do MAC USP programadas para o Ano da França no Brasil.
Apresentação
Apresentação
Lisbeth Rebollo Gonçalves
"Comece pelo começo, siga até chegar ao fim e então, pare".
Lewis Carroll em Alice no País das Maravilhas .
Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, serve de inspiração para o projeto da mostra Um Mundo sem Medidas, com curadoria da crítica de arte francesa, Valérie Marchi. As citações à obra literária estão nos enigmas propostos por onze artistas que debatem questões relativas à fábula e à imaginação: um exemplo é o debate que Alice faz com o Chapeleiro e a Lebre sobre relações inversas (o Chapeleiro argumenta que ver o que se come não é o mesmo que comer o que se vê). Na exposição Um Mundo sem Medidas, as fotografias, pinturas e instalações convidam o visitante (no caso, Alice) a ver “as coisas que não são”. O expectador perde as certezas do cotidiano, confrontando-se com jogos de escalas discrepantes, movimento semelhante ao de Alice que, ao cair na toca do coelho, precisa aumentar e diminuir seu corpo para adequar-se ao novo mundo.
A viagem do expectador por “Um Mundo sem Medidas” assemelha-se, também, às narrativas de Gulliver, nas quais Lilliput apresenta novos desafios. Gulliver enxerga além da realidade dos pequenos lilliputianos. Na presente mostra, os artistas Mireille Loup; Gilbert Garcin; Françoise Pétrovich; Gabriela Vanga; Bertrand Gadenne; Philippe Ramette; Jean-François Fourtou; Samuel Rousseau; Simone Decker; Jèrèmy Dickinson e Agnès Accorsi levam o visitante a ver além do real – a descobrir um mundo poético.
Por último, é preciso destacar que a mostra “Um Mundo sem Medidas” encerra a programação do “Ano da França no Brasil” no MAC USP, revelando contínua observação crítica dos rumos da produção contemporânea. É com satisfação que constatamos que a reunião dessas obras dá oportunidade ao público, frequentador do MAC USP, de refletir sobre o que há de mais contemporâneo cenário internacional.
Texto da Curadora
Texto da Curadora
Valérie Marchi
Curadora da exposição
O projeto desta exposição foi tirado do conto Alice no país das maravilhas de Lewis Carroll. Assim como a jovem sonhadora perdida em seu mundo de divagações onde as rupturas de escala são moeda corrente, o visitante é convidado a se perder num lugar onde "as coisas seriam o que não são...". Jogos de escala, de incongruências, de pontos de vista que questionam tanto a ficção quanto o real. As obras expostas alimentam-se tanto dos contos de fadas quanto de devaneios, medos e fantasias da infância. Dentro da exposição, o espectador transformado em herói de uma narrativa em três dimensões encontra-se confrontado a um mundo desconhecido no qual suas referências mudaram.
Assim, com as fotografias de Jean-François Fourtou, ele entra direto no conto e toma posse de um território íntimo; a projeção de Bertrand Gadenne lhe permite dar corpo ao mais poético dos devaneios. Diante da Montanha de incerteza de Samuel Rousseau, ele assiste impotente à sua própria queda. A escada de Gabriela Vanga convida-o a passar para o outro lado do espelho, enquanto que Philippe Ramette e Gilbert Garcin lhe servem de guias sóbrios nas situações mais estranhas e aberrantes, nos confins do surrealismo. Seu devaneio tinge-se de apreensão ao contemplar o lavis de Françoise Petrovitch, a fotografia de Mireille Loup, ao passo que as paisagens imaginadas por Simone Decker ou Agnès Accorsi o desconcertam. A perda de referências é completa com as telas de Jérémy Dickinson, nas quais nenhuma noção de escala permite trazer o sujeito a qualquer realidade.
Os onze artistas convidados nos levam através de suas obras a deitar um outro olhar sobre o mundo, a nos deixar surpreender por uma visão descompassada e poética. Convidam-nos a um passeio irracional, afim de reencontrarmos, no prazo de um instante, uma alma de criança.
No entanto, como um Jonathan Swift serviu-se das Viagens de Gulliver para falar de algo bem diferente, no caso, da sociedade inglesa, um olho prevenido enxergará, para além das imagens, todas as reflexões feitas pelos artistas: situação da imagem hoje, meios de representação, transformação de nossos modos de percepção, de nossa apreensão do mundo.