CIDADES IMAGINADAS IBEROAMERICANAS
Período: 8/4/2010 a 23/5/2010
Local: MAC USP Ibirapuera
50 fotografias do projeto Imaginários Urbanos, coordenado pelo professor colombiano Armando Silva, apresentam a formação das identidades das metrópoles no século 21.
Apresentação
Apresentação
Lisbeth Rebollo Gonçalves
Curadora e Diretora do MAC USP
A exposição Cidades Imaginadas Iberoamericanas, que se realiza no MAC USP, com organização de Armando Silva, reúne 50 fotografias produzidas no contexto da pesquisa sobre os imaginários urbanos, desenvolvida em 13 cidades, com o apoio do Convênio Andrés-Bello. Vinte entidades internacionais, muitas delas universidades dos diferentes países, participaram do projeto. Em São Paulo, a pesquisa se deu através da USP, por via do PROLAM – Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina, sob nossa coordenação. Um recorte da produção fotográfica resultante do trabalho desenvolvido nas 13 cidades foi exposto na XI Documenta de Kassel, em 2002. Daí para frente, esta documentação continua a ser atualizada e apresentada ao público em mostras, em diferentes partes do mundo.
Pesquisador Emérito e professor da Universidad Externado de Colombia, Armando Silva vem se dedicando ao estudo do pensamento visual na realidade urbana contemporânea. Seu trabalho se produz com enfoque interdisciplinar, valendo-se da Antropologia, da Psicanálise, da Filosofia, das Teorias da Linguagem e da Estética.
Construindo uma metodologia para o estudo dos modos subjetivos de vivência na cidade e, elegendo na análise os imaginários urbanos como um conceito chave, o pesquisador contribui para o conhecimento da dimensão profunda do ser coletivo urbano. Reconhece a presença de uma “estética urbana”, que se altera ao longo do tempo, na dinâmica da história da vida cotidiana do cidadão e de grupos sociais. O homo-habitants temporaliza seus espaços vitais, sendo possível perceber significados socioculturais, através dos “pontos de vista” dos cidadãos.
As formas imaginárias, elaboradas na interiorização dos espaços urbanos permite a comparação entre o cidadão e o artista contemporâneo: os cidadãos sempre intervieram sobre a cidade, redimensionando o sentido social da realidade. O cidadão inventa formas de vida, criando a cidade como fato estético e político.
No MAC USP, Cidades Imaginadas Iberoamericanas dialoga com as demais mostras que focalizam dimensões da vida urbana, presentemente em exibição.
Sobre o projeto Imaginários Urbanos
Sobre o projeto Imaginários Urbanos
Armando Silva
Coordenador do projeto e organizador da exposição
Imaginários Urbanos é hoje um dos maiores projetos do mundo no estudo das culturas urbanas. Seu autor e diretor, Armando Silva, completa já 22 cidades estudadas com equipes locais aplicando a mesma metodologia, de onde intervém tanto um trabalho de qualificação estatística como de análise de imagens, meios, literatura, arte, tecnologias e até álbuns de família para deduzir como se constroem as identidades do novo milênio. Esta exposição, como parte da celebração do bicentenário em vários de nossos países, se concentrou em cidades que formam esta zona geográfica e cultural para mostrar, neste caso somente em imagens documentadas, alguns traços de seus modos de ser.
Seu enfoque dos imaginários o levou a criar Arquivos cidadãos, de onde partem as exposições. Entretanto, deve-se compreender que os imaginários não são apenas representações em abstrato e de natureza mental, mas que “encarnam” ou se “incorporam” em objetos cidadãos que encontramos à luz pública e dos quais podemos deduzir sentimentos sociais como o medo, o amor, a ilusão ou a raiva. Tais sentimentos são arquiváveis como escritos, imagens, sons, produções de arte ou textos de qualquer outra matéria de onde o imaginário impõe seu valor dominante sobre o próprio objeto. Daí que todo objeto urbano não tenha somente sua função de utilidade, mas que possa receber uma valoração imaginária que o dote de outra substância representacional.
Armando Silva começou a desenvolver estes estudos em 1990, quando foi convidado pelo PROLAM a estudar a São Paulo imaginada, sua primeira publicação da coleção de cidades imaginadas. Sua obra completa foi mostrada em grandes eventos de arte como Documenta XI (2002). A Fundação Antoni Tápies de Barcelona digitalizou todos os seus arquivos em 2007.
As Cidades Imaginadas
As Cidades Imaginadas
Sylvia Werneck
Asssitente de curadoria
As cidades são habitadas por indivíduos que, coletivamente, lhe conferem uma “personalidade”. Arquitetura e urbanismo, sozinhos, não são capazes de tal feito – essa caracterização não advém de sua aparência física, do contorno de seus edifícios ou mesmo do traçado de suas ruas, mas resulta do conjunto das percepções de seus habitantes, que os leva a vivenciar os espaços urbanos de uma ou outra maneira.
Os registros fotográficos aqui expostos dão pistas sobre as inúmeras manifestações dessas percepções, as quais constituem os imaginários urbanos. Grafites em muros explicitam, anonimamente, opiniões políticas; residências cobertas por grades aludem à preocupação coletiva com a violência; procissões religiosas atestam a fé em um porvir mais promissor.
Em qualquer caso, é a soma de tais percepções que dá corpo à cidade. Há locais que são identificados com determinadas emoções ou sensações, mesmo quando não existem motivos reais para tanto. Alguns bairros são percebidos como perigosos ainda que, por ações diversas, tenham tido seu índice de criminalidade consideravelmente reduzido. Outros passam a imagem de rincão de abastados, mesmo que venham ganhando um número crescente de empreendimentos voltados à classe média. Há os que continuam a exalar uma aura de boemia, quando na verdade seus bares transformaram-se em ponto de encontro de executivos.
Individualizadas, as sensações não ultrapassam o campo das relações pessoais. Somadas, entretanto, transformam-se em imaginários e ganham o poder de definir a maneira como a cidade se oferece aos que dela desfrutam.
São Paulo Imaginada e seus Mapas Mentais
São Paulo Imaginada e seus Mapas Mentais
Hélcio Magalhães
Artista e assistente de curadoria
Meu envolvimento com a pesquisa imagética urbana de construção de sentidos, ocorre a partir de 2002, quando fui convidado pela professora Lisbeth Rebollo a integrar o grupo de pesquisa Imaginários Urbanos da América Latina, que ela coordenava localmente em São Paulo e, dirigido pelo professor Armando Silva da Universidade Externado De Colômbia e pesquisador emérito da Universidade Nacional da Colômbia. Uma investigação importantíssima patrocinada pelo Convênio Andrés Bello, que objetivou ser a primeira pesquisa sobre percepção e construção de culturas urbanas feitas pelos cidadãos residentes em treze cidades iberoamericanas sobre suas próprias cidades.
As técnicas lançadas na metodologia de Armando Silva combinam a observação direta em aspectos subjetivos dos cidadãos, com uma produção paralela de materiais para apoiar a observação e provocar a continuidade do projeto em novas pesquisas e produções criativas ligadas a essas percepções.
A minha participação, no grupo original e local em São Paulo, esteve circunscrita pela responsabilidade de documentar fotograficamente a cidade, na tentativa de traduzir os imaginários sociais, em que o foco esteve voltado aos espaços que recompõem a percepção social; locais emblemáticos que se inserem na construção mental da cidade. Esses espaços foram citados com maior representatividade pelos entrevistados na pesquisa original que serviu de orientação para esta retomada dos imaginários urbanos na pesquisa que desenvolvo aqui.
Durante o processo de documentação fotográfica surgiu uma ambiguidade imediata. Por mais que eu tentasse distanciar-me do meu ponto de vista próprio, e procurasse fotografar os diversos assuntos citadinos sob o ponto de vista do pesquisado, apareciam várias interrogantes, pois a cada vez que me colocava naqueles espaços geográficos citados em entrevistas, percebia questões que não eram reveladas pelos entrevistados, ou em que a minha subjetividade se interpunha no momento da tomada.
A variedade tonal da metrópole paulistana, estilos arquitetônicos, usos e apropriações, marcas publicitárias etc., ficavam, muitas vezes, distantes das percepções coletadas; além do mais, impunha-se uma visão estética do fotógrafo. Tal percepção provocou um diálogo imagético entre a visão do pesquisado e a do fotógrafo; o imaginário social e o olhar estetizado de que resultou a documentação imagética da cidade de São Paulo, por mim realizada. O ponto que mais fortemente chamou a atenção foi o que se refere à cor da cidade. Enquanto os dados da pesquisa apontavam a cor de São Paulo como cinza, no plano real essa referência toma distância dos imaginários sociais. Comprovamos por meio de farta documentação fotográfica a enorme profusão de tons que tingem a nossa cidade.
As respostas a essas interrogantes desvendam-se em torno dos sentidos da cidade e do urbano, na maneira como essas relações são estabelecidas e circuladas, as formas de representação e as estruturas que se desenvolvem para que tais construções simbólicas promovam novas relações com a cidade.
Por meio da metodologia do professor colombiano, as coleções de dados, que são subjetivos, coletados pelos pesquisadores, sobre como esses sentidos urbanos perpassam pelos cidadãos, permitem uma compreensão, por uma das formas, para se conhecer como os cidadãos percebem os seus centros urbanos e de que maneira as cidades são representadas em suas imaginações.
A cidade imaginada pode ser entendida como um tipo de patrimônio imaterial, de percepção coletiva, que se caracterize e se defina ela mesma, pelo uso de uma outra física, a subjetiva. Por outro lado, esse arquivo de percepções de coletivo abre espaço para as sensibilidades individuais, para a maneira pela qual cada um percebe o outro e dá, na alteridade, sentido.
O imaginário é inerente à percepção grupal, e o arquivo imaterial é a própria documentação do que o objeto representa para a natureza simbólica e abstrata, de como ele é hierarquizado e valorizado. Mas tanto os imaginários sociais como esses arquivos imateriais individuais potencializam uma espécie de materialização de sentidos. Ocorre que esse imaginário não é apenas abstrato, e quando interage no “caldo social” sua natureza mental passa a uma espécie de corporificação de sensações que na sociedade assumem novos significados como medo, raiva, ilusões, odores, amor, cor, etc.
Tais sentimentos imateriais são transformados à maneira de imagens, expressões, manifestações públicas, produções artísticas, sons, escrituras e partituras cotidianas com que os imaginários se impõem sobre o próprio objeto que deles trata. De tal maneira, o objeto urbano não só tem a sua própria função de utilidade, mas é cercado e sobrecarregado de outros valores imaginários, que lhe permitem dotá-lo de substância representativa.
A apropriação de uma construção de sentidos sobre o urbano é formada a partir desse arquivo imaterial, em circulação no âmbito da sociedade, entre cidadão e urbano, e expressa-se na coletividade – memória coletiva; esta é construída pelo encontro permeável do sujeito urbano nas relações de alteridade.
O grande desafio é a interpretação dessas sensações corporificadas em marcas urbanas, mapas mentais que simbolizam a cidade imaginada, e para isso, a fotografia apresenta-se como estratégia particular para o revelar desses arquivos urbanos de memória.
Press Realese
Press Realese
Imaginários Urbanos é um projeto coordenado pelo professor Armando Silva ( Universidade Nacional de Bogotá, Colômbia) que já estudou 22 cidades buscando, a partir da análise de imagens, mídia, arte, literatura, tecnologias e até álbuns de família, identificar como se constroem as identidades das cidades neste início de milênio. Mais do que as imagens proporcionadas pela arquitetura e o urbanismo, o contorno dos edifícios ou o traçado das ruas, é o conjunto de emoções e percepções que os habitantes manifestam que montam a personalidade de cada cidade. As 50 fotografias selecionadas para a exposição Cidades Imaginadas Iberoamericanas apresentam algumas dessas percepções : g rafites em muros explicitam opiniões políticas, residências cercadas por grades aludem à preocupação coletiva com a violência e procissões religiosas atestam a fé dos moradores, por exemplo.
Tais sensações, quando colocadas em um plano coletivo, revelam uma estética urbana que se altera ao longo do tempo, na dinâmica da história da vida cotidiana do cidadão e de grupos sociais. Há locais identificados com determinadas emoções ou sensações, mesmo quando não existem motivos reais para tanto. Alguns bairros são percebidos como perigosos ainda que, por ações diversas, tenham reduzido o índice de criminalidade. Outros continuam a exalar uma aura de boemia, quando na verdade seus bares transformaram-se em ponto de encontro de executivos. Essa soma de percepções coletivas dá corpo à cidade e permite analisar os imaginários como um conceito chave para conhecer a dimensão do ser coletivo urbano.
A construção dessas formas imaginárias permite uma comparação entre as formas de produção social da arte pública – em suas diversas formas - e dos imaginários urbanos. Ambas são ações urbanas, baseadas em experiências estéticas que atuam fora dos museus e com um sentido público derivado de questões políticas que perseguem a expansão das democracias locais . Mas existe uma diferença fundamental: a arte pública é feita pelos artistas enquanto os imaginários são produzidos pelos cidadãos. Esta e outras questões o organizador da exposição, Armando Silva, apresenta em seminário que acontece no mesmo dia, às 17 horas, com Lisbeth Rebollo Gonçalves (curadora da exposição), Sylvia Werneck e Hélcio Magalhães ( assistentes da curadoria).
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