SAMSON FLEXOR - A DOBRA DO DESENHO
16/8/2008 a 19/10/2008
MAC USP Cidade Universitá;ria
MAC USP apresenta, a partir de desenhos, esboços e estudos, um panorama da carreira de Samson Flexor (1907-1971) que, vivendo no Brasil, formou uma geração de pintores ligados ao
abstracionismo geométrico.
Apresentação
Lisbeth Rebollo Gonçalves
Diretora do MAC USP
Samson Flexor – A Dobra do Desenho tem curadoria de Carmen Aranha, docente do Museu de Arte Contemporânea da USP, num projeto que contou com a colaboração do educador Evandro Nicolau.
A mostra reúne um conjunto de 76 obras do Acervo do MAC e obras da Coleção pertencente à família Flexor. Este acervo familiar que se encontra em Paris, foi exibido no ano passado, por
ocasião das comemorações do centenário de nascimento do artista, na Moldávia, Romênia, Bélgica e França. A exposição traz uma visão da importância do desenho na obra do artista. São
apresentados desenhos a lápis grafite e à tinta nanquim, constituindo uma oportunidade de aproximação ao seu trabalho de ateliê. Ao visitante é possível, assim, o contato com o exercício
do processo criativo, na trajetória estética do artista.
Dividida nos módulos -- Organismo, Expressão, Diagrama e Espaço – a mostra revela a busca de Samson Flexor por uma expressividade intimamente relacionada com a sua pintura: muitos dos
desenhos são anotações para o trabalho pictórico e pinturas do acervo do MAC estão apresentadas como referência para pensar a relação entre estes meios de expressão artística – a pintura e
o desenho. Constrói-se, desta maneira, um percurso visual no qual se permite observar o pensamento plástico de Samson Flexor.
No Brasil, durante os anos de 1950, Flexor foi professor de diversos artistas, motivando suas poéticas ligadas ao movimento abstracionista. O seu Ateliê Abstração foi um marco na história
da arte brasileira.
O Museu de Arte Contemporânea agradece a Jean e André Flexor pela possibilidade de expor seu acervo familiar juntando-se às instituições que já homenagearam o artista nas comemorações do
centenário, processo que se encerra no Brasil.
Sanson Flexor - A Dobra do Desenho
Carmen S. G. Aranha - Curadora
Evandro C. Nicolau - Assistente de Curadoria
Samson Flexor nasceu em 9 de setembro de 1907, na cidade de Soroca, localizada na atual Moldávia. Teve uma formação sólida tecida por meio de estudos nas academias Royale des Beaux-Arts,
na Bélgica, Ranson e De La Grande Chaumière, ambas em Paris. Foi aluno de Bissiére e freqüentou os ateliês de Picabia, Léger, Lhote, Matisse e Signac. Fundou e dirigiu o Salon des
Surindépendants, com Salvador Dali e René Magritte, entre 1929 e 1938. Lutou na Resistência Francesa, quando iniciou uma série de estudos expressionistas e cubistas, “Composições sobre o
tema da paixão”.
Viajou para o Brasil, radicando-se nas imediações do bairro Cerqueira César, São Paulo, em 1948. Fundou e orientou o “Ateliê Abstração” em 1951, no qual estudaram Alberto Teixeira, Wega
Nery, Emilio Mallet, Leopoldo Raimo, Jacques Douchez e Norberto Nicola.
Flexor faz parte do grupo de artistas estrangeiros radicados no Brasil durante a década de 1950 que, por sua atuação e participação nos meios artísticos do país, criou uma geração de
pintores voltados para as questões dos movimentos abstracionistas, formal e informal.
A exposição Samson Flexor – A dobra do desenho congrega obras do Museu de Arte Contemporânea da USP, da Família Flexor e de outros colecionadores. O diálogo proporcionado entre os acervos
oferece um panorama do processo criador do artista e uma oportunidade de explorar sua produção de desenho poucas vezes vista: um diário gráfico para a construção do pensamento espacial, à
procura da visualidade que construirá a pintura, seu principal meio expressivo.
A presente exposição versa sobre o processo do artista no qual a maior parte das obras são estudos: desenhos a lápis grafite e tinta nanquim, um recorte do trabalho de ateliê que nos
permite ter contato com aquilo que, normalmente, fica à sombra do público. Ao observá-lo, somos levados a perceber que a arte é resultado de trabalho meticuloso, dedicação ao exercício do
fazer, uma busca constante por uma linguagem que se dá ao longo do tempo.
A maior parte das obras da mostra localiza-se na sua fase brasileira, entre 1948 e aproximadamente 1970, ano anterior à sua morte.
Organismo, Expressão, Diagrama e Espaço
Samson Flexor – A dobra do desenho é ordenada por meio de quatro pinturas situadas como pontos de transformação da linguagem do artista que, por sua colocação, oferecem desdobramentos das
visualidades de Flexor, a partir de desenhos, os fios condutores de passagens, rupturas e alicerces.
A pintura Carrasco, de 1968, revela a primeira dobra, Organismo. A obra é uma arqueologia da forma humana, ambígua entre transparências e grandes frestas. Os estudos refletem a construção
da temática, por meio de uma leveza e soltura que inclui a aproximação da figuração, com pássaros, pedras e aberturas.
A Expressão , segunda dobra, apresenta Pintura, de 1960, uma grande tela com pinceladas e gestos vigorosos, de aparente liberdade expressionista abstrata do artista. Na verdade, é uma
construção com o “empasto”, técnica que deixa a tela com materialidade e peso, mas, ao mesmo tempo, com a diluição da tinta, os gestos produzem outros efeitos diáfanos. Os grandes
movimentos circulares, em tons negro e azul, situam a profundidade, em contraposição aos artistas abstratos que exaltavam a planaridade da pintura naquele momento da história da arte.
Diagrama reflete-se no espaço da composição visual Geométrico Grande, de 1954, e realiza a dobra da abstração, da geometria, da matemática que calcula espaços e, pela forma, soma
pentagramas, hexágonos, quadrados, círculos e losangos.
O Espaço , último ponto do percurso, dobra-se sobre si mesmo: Modulação é a pintura de um espaço síntese, que busca uma universalidade com os poucos elementos que a ordenam. Logo a seguir,
reinicia espelhamentos e iridescências, não sem antes se deter nos inícios verdadeiros, na origem: os primeiros desenhos motivados pela terra natal, pela convivência com Matisse e
projeções com o futuro certo, mas ali apenas cifradas.
Samson Flexor – A dobra do desenho poderá compor, para o visitante da mostra, uma parte do panorama da obra do artista, que Walter Zanini definiu como “uma pesquisa da ordenação calculada
de formas e cores, com incessante atenção para o movimento que atinge um clímax nas telas com múltiplos pólos de fuga, com espaços que afloram e recuam e que, mais tarde, aproxima-se de
uma pintura gestual para desenvolver uma figuração rigorosa e sistemática de sua plástica”.