COLECCIÓN VISIBLE - HISTÓRIAS DE AMOR
9/9/2008 a 19/10/2008
MAC USP Ibirapuera
Um olhar sobre a homocultura a partir de 90 obras reunidas pelo espanhol Pablo Peinado, em defesa da liberdade e do amor.
Colección Visible - Histórias de Amor
Lisbeth Rebollo Gonçalves
Diretora do MAC USP
É com grande satisfação que o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo recebe a Exposição Collección Visible: Histórias de Amor - uma iniciativa da Agência Espanhola de
Cooperação Internacional para o Desenvolvimento e do Centro Cultural da Espanha em São Paulo, por ocasião do IV Congresso Internacional da Associação Brasileira de Estudos da Homocultura
da Universidade de São Paulo e do I Encontro Hispano-brasileiro de Militantes Homossexuais. A mostra reúne cerca de 90 trabalhos internacionais selecionados pelo curador Pablo Peinado
Céspedes, divididos em seis núcleos: Vida Cotidiana, Amor e Erotismo, Famílias com Filhos, Temas Sociais e Reivindicações, Referências Culturais, Históricas ou Artísticas e Sexualidade. A
vertente de orientação da mostra e dos eventos científicos que a acompanham é celebrar o amor e, principalmente, abrir o debate sobre a cultura e a cidadania que envolve o tema.
Colección Visible
Pablo Peinado
Comissário da Colección Visible, curador da exposição
Em 2004 comecei a pedir obras a artistas com a idéia de realizar uma exposição que reivindicasse o direito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. O projeto tinha surgido ao ver as
charges com que os humoristas gráficos ilustravam, na imprensa diária ou em revistas, os numerosos artigos sobre este tema, objeto de um intenso debate na Espanha entre os anos 2001 e 2005.
Parecia que todo o mundo estava contra: o Governo, a Justiça, a Igreja a até a Real Academia da Língua Espanhola.
Aqueles desenhos foram o germe desta exposição. Inicialmente não pensei em criar uma coleção estável; tratava-se de uma exposição que poderia se mover por todo o país. Por isso o melhor a
fazer era pedir aos artistas a doação das obras. Mas pouco a pouco e quase sem me dar conta começaram a chegar pinturas, desenhos, colagens, fotografias, gravuras… e a coleção foi crescendo
até chegar a reunir cento e setenta obras de artistas de vinte e cinco países. Por isso agora colocamo-nos a necessidade de encontrar um espaço próprio, um Museu em que essas obras possam
se apresentar todas juntas, acompanhadas de um arquivo documentário sobre arte, teatro, cinema ou ativismo que eu venho reunindo há vinte e cinco anos. Outras cidades como Berlim,
Amsterdã ou Nova York já têm museus deste tipo, por que não um na Espanha ou num país latino-americano?
A Colección Visible tem una característica que a torna especial, o fato de tratar exclusivamente o tema do amor, o desejo, a sexualidade e o casal lésbico, gay ou transexual. É uma coleção
sobre o amor. Porque o amor pode durar cinqüenta minutos ou cinqüenta anos. Desta maneira quero reivindicar a visibilidade do grupo GLT, cujos direitos foram, e continuam sendo ainda em
muitos países, repetidamente pisoteados e reduzidos. Quero reivindicar visibilidade, dignidade e direitos. Porque acredito na utilidade da arte e no muito que esta pode ajudar a esta causa.
E que a arte além de transmitir beleza, serenidade e prazer também pode ajudar na reflexão e somar para a mudança na mentalidade das pessoas. Pode ajudar a entender o que ninguém explicou:
que entre pessoas adultas temos direito a amar e a escolher o objeto desse amor sem que o Estado nos diga que por ser um homem eu tenho que amar uma mulher e vice-versa.
No entanto há países no quais nunca se poderia apresentar esta exposição. Países nos quais um beijo entre adultos pode levar à prisão ou inclusive à pena de morte.
A Colección Visible é un antídoto cultural contra a homofobia, a lesbofobia e a transfobia. É arte cúmplice de uma causa justa. A causa da liberdade e da democracia. A causa de todos os
seres humanos de terem, no amor e em tudo o mais, os mesmos direitos.
Poucos dias depois de inaugurada a exposição, em junho de 2005, o Congresso espanhol aprovou algumas pequenas mudanças no Código Civil que fizeram o casamento ser possível para lésbicas e
gays. Desse modo muitos homens e mulheres tiveram suas vidas mudadas para sempre, sentindo-se pela primeira vez cidadãos de pleno direito. Mas sobretudo o que mudou foi a sociedade, porque
ficou retratado seu espírito democrático, seu desejo de liberdade e o desejo de que essa liberdade fosse compartilhada por todos os cidadãos.
Intercâmbio Brasil - Espanha
Ana Tomé Diaz Diretora
Centro Cultural da Espanha em São Paulo
A Colección Visible foi trazida para o MAC Ibirapuera pela AECID - Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento – por ocasião do IV Congresso Internacional da
Associação Brasileira de Estudos da Homocultura da Univesidade de São Paulo, assim como do I Encontro Hispano-brasileiro de Militantes Homossexuais. A exposição se torna possível graças à
]parceria com o Museu de Arte Contemporânea de São Paulo – MAC USP, a quem temos muito a agradecer. Agradecemos também aos Centros Culturais da Espanha na Argentina, Peru e Paraguai pela
parceria. E finalmente, à Asociación Cultural Visible, a quem esta coleção pertence, pelo empenho e seriedade com esta iniciativa.
187 deixou de ser um número comum na Espanha no dia 30 de junho de 2005. Este foi o número de votos majoritários a favor da mudança do Código Civil, permitindo a partir de então o casamento
entre pessoas do mesmo sexo.
A exposição apresenta 90 obras internacionais de uma coleção alinhada com este novo momento espanhol, com uma temática que passa pelo desejo, pelo amor e pelas complexidades irredutíveis
da sexualidade humana, representando especialmente uma de suas facetas mais abafadas, invisíveis, a do amor entre iguais.
Em 1958, Hannah Arendt definiu a esfera pública, ou uma comunidade política democrática, como o espaço da aparição. Este espaço está ligado ao dar visibilidade ao outro, àquele que é
diferente, convidando-o a constituir as relações de alteridade que fundam o espaço público.
Discutir o espaço público em uma cidade como São Paulo , assim como em muitas outras, é uma prerrogativa urgente. Numa cidade cada vez mais fragmentada, onde o que é diferente está isolado
em áreas, por medo e em nome de proteção, o espaço público tem se tornado cada vez mais magro e privatizado, onde o exercício de alteridade é oprimido e onde se promovem apenas relações com
aqueles que são iguais, evitando qualquer um que não seja da mesma classe social. Carros blindados, vidros escurecidos, cercas elétricas e dispositivos sofisticados de segurança garantem
que aquele que está do lado de lá se torne o menos visível possível, praticamente ignorando a sua existência.
O Parque Ibirapuera, onde esta exposição acontece, é um dos espaços em São Paulo onde ainda há o encontro entre diferentes. Esportistas, famílias, amantes e diversas classes sociais
encontram-se aí, onde vemos a convivência de muitos outros. Por isso também é um espaço tão feliz para abrigar esta mostra.
Não por acaso esta exposição se chama Colección Visible, com obras de artes visuais, priorizando a visibilidade de um grupo social minoritário. Assim, esta exposição, além da celebração
das diversas formas do amor, também é um potente enunciado político, que ajuda a criar uma sociedade mais democrática.
É com grande prazer que o Centro Cultural da Espanha em São Paulo apóia a primeira mostra desta coleção. Este apoio está em consonância com as linhas estratégicas da AECID, entre as quais
está a contribuição para à paz e à liberdade, promovendo o respeito aos direitos humanos e ao desenvolvimento dos sistemas democráticos. Ativa também o contexto local, somando à mostra
artistas convidados que vivem no Brasil. Que celebremos então este intercâmbio entre Brasil e Espanha a partir da Colección Visible, de artistas visuais que cumprem o necessário papel da
aparição e da construção de uma esfera pública democrática!