MAC Contemporâneo - Instalações
Período :7/10/2008 a 10/5/2009
MAC Cidade Universitária
Uma seleção das instalações pertencentes ao acervo do MAC USP, destacando os artistas Jesús Rafael Soto, Simon Benetton, Marcelo Cipis, Marwan Rechmaoui, Bernadita Vattier e Yoko Ono.
MAC Contemporâneo - Instalações
MAC Contemporâneo - Instalações
Lisbeth Rebollo Gonçalves
Diretora do MAC USP
A poética contemporânea permite diferentes interações. No caso das Instalações, a obra não se completa sem a presença do espectador – personagem central na composição deste tipo de produção artística. Nas instalações, a tríade tempo - espaço - espectador fornece os subsídios necessários para a vivência estética, impelindo uma “nova verdade” que se modifica a cada relação, seja espacial, temporal ou de experimentação: a exposição dessas obras constitui sua própria essência. A mostra MAC Contemporâneo – Instalações: Acervo MAC USP oferece ao público uma seleção das instalações pertencentes ao acervo do Museu, destacando os artistas Jesús Rafael Soto, Simon Benetton, Marcelo Cipis, Marwan Rechmaoui, Bernardita Vattier e Yoko Ono.
O Penetrável de Plástico, s/d, de Jesús Rafael Soto, oferece ao espectador experiências estéticas visuais, táteis e sensoriais: o público penetra no ambiente translúcido. Em O Jardim dos Filósofos e Além, 1989/1990, de Simon Benetton, apresentam-se questões conceituais que remetem ao pensamento, à indagação e, principalmente, à reflexão. A disposição das esculturas, integrantes da obra, cria uma relação de contraste entre fragilidade, advinda da forma de cada peça, e rigidez, transmitida pelo seu material (aço cromado). Em Cipis Transworld Art Industry & Commerce, 1994, o artista cria uma obra divertida com cores fortes. Direciona o olhar do espectador e o convida à participação lúdica. O ambiente elaborado por Marcelo Cipis alude ao comércio, especialmente, ao da arte. No trabalho Idêntica Identidade, 2002, de Bernardita Vattier, a identidade é um jogo externo e transitório. A instalação de Bernardita desperta à reflexão sobre a identidade ser ou não imutável. Destacam-se, ainda, aquisições recentes do MAC USP: Espectros, 2006, de Marwan Rechmaoui, mostra, sob a ótica do artista, o comportamento dos moradores do Yackobian, edifício modernista construído na década de 1960, no Líbano. Em Ex it (Os portões do Inferno são apenas um Jogo de Luz ), 1997/2007, Yoko Ono dispõe caixões, em três tamanhos (pequenos, médios e grandes) com plantas naturais (fícus), indicando a efemeridade da vida e o “eterno retorno”.
Desse modo, nas instalações presentes na exposição MAC Contemporâneo – Instalações: Acervo MAC USP enfatizam-se o conceito de poética contemporânea, especialmente, as relações espaço-tempo aliadas à capacidade de recepção estética.
Jesús Rafael Soto
Jesús Rafael Soto
Ciudad Bolivar, Venezuela, 1923 – Paris, França, 2005
Nascido numa antiga cidade colonial na Venezuela, ainda adolescente começa a trabalhar como artista comercial pintando cartazes de cinema, o que desperta seu interesse por uma carreira artística. Em 1942 recebe uma bolsa para estudar na Escola de Belas-Artes de Caracas. Finaliza o curso em 1947 e torna-se diretor da Escola de Artes Plásticas de Maracaibo, cargo no qual permanece até 1950 quando então se transfere para Paris. Na capital francesa, Soto passa a conviver com artistas como Jean Tinguely e Victor Vasarely e filia-se ao Abstracionismo Geométrico. Em 1951, realiza suas primeiras obras baseadas nos princípios da seriação e da progressão. Três anos depois, incorpora às suas pesquisas artísticas a transparência possibilitada pelo uso do plexiglass.
Em meados da década de 1950 começa a se dedicar à produção de efeitos óticos em suas pinturas e construções, tornando-se um dos pioneiros da chamada Arte Cinética. No final da década seguinte desenvolve um outro tipo de obra, os penetráveis, ambientes projetados para que o público se deslocasse em seu interior, de modo a usufruir as vibrações óticas produzidas por hastes, tubos ou fios estrategicamente dispostos entre o forro e o piso. Nesta época, passa a realizar também obras monumentais para espaços públicos, entre as quais se destacam os murais para o prédio da UNESCO, em Paris. Nas décadas de 1980 e 1990, Soto mantém imensa produção artística apresentada em inúmeras exposições em diversos países, além de realizar grandes obras públicas nas cidades de Caracas, Paris e Osaka.
Penetrável de Plástico, pertencente ao acervo do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, permite uma interação entre observador e obra: imerso na profundidade criada pelo artista, o visitante pode atravessá-la por entre fios translúcidos e suspensos, numa experiência estética visual, táctil e sensorial. Segundo Bayón, todos os tipos de movimentos se dispõem nos espaços criados por Soto: “... repetição, progressão, metamorfose, troca, estruturas e ambientações cinéticas, relações e vibrações, velocidades, saturação móvel...”.
Marcelo Cipis
Marcelo Cipis
São Paulo, 1959
Pintor e ilustrador, Marcelo Cipis teve como referencial para a produção artística a linguagem dos quadrinhos e das revistas ilustradas. Inicia-se nas artes plásticas em 1968, ao cursar o ateliê livre de criação, coordenado por Naum Alves de Souza, na Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP. Forma-se pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo em 1982. Paralelamente, torna-se aluno de Luiz Paulo Baravelli e Rubens Matuck. Posteriormente, viaja pela Europa e lá inicia sua carreira de artista plástico, desenhando, pintando e realizando experiências tridimensionais.
Participa da XXI Bienal de São Paulo, em 1991, da Bienal de Havana em 1994 e da Exposição Brazilian Contemporary Art, realizada no Japão, em 1993. É também autor de livros para crianças, entre eles 530 gramas de ilustrações, Viver é... e Namorar é.... Fato memorável. Vencedor do Prêmio Jabuti e do Prêmio Abril de Jornalismo pela capa do livro Como água para chocolate, Cipis tem, na linguagem gráfica, um desenho simples, definido e limpo.
Algumas instalações fazem parte de sua produção. Transworld Art Industry & Commerce, de 1994, foi doada pelo artista ao acervo do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. Com influências que passam pelos traços de ilustrador, pelas obras plásticas, Cipis oferece aqui uma liberdade total de criação: a cortina de algodão, os trilhos de alumínio, o ferro e as serigrafias coloridas fazem parte da construção da obra. Mas, além da exuberância matérica, o espaço interno coloca em suspensão uma intencionalidade de visibilidades tornadas visíveis e visibilidades invisíveis, e o inesperado acontece: aquilo que é sugerido tem a mesma força do que é efetivamente mostrado. Nessa flutuação, o espectador é Instigado à descoberta da complexidade que o artista alude: o duelo entre arte e sua transformação em um produto de troca de valor por valor, como numa transação comercial.
Bernardita Vattier
Bernardita Vattier
Valparaíso, Chile, 1944
Bernardita Vattier é arquiteta de interiores e cenógrafa. Estuda no Chile e no exterior, adquirindo experiência em diversas linguagens artísticas como escultura, gravura, instalação, pintura e vídeo. Participa, ativamente, de exposições individuais e coletivas. Entre 1986 e 1987, co-dirige a Galería de la Plaza, em Santiago, Chile. Em 1988, a Fundação Andes publica uma monografia sobre sua produção artística e, no mesmo ano, ganha o Prêmio da Crítica de Valparaíso. Dirige o Centro Cultural Plaza Mulato Gil de Castro, em Santiago, entre 1990 e 1993. Recebe o Full Fellowship Award do Vermont Studio Center (EUA) em 2003. Atualmente, é professora de artes plásticas, tradutora, e presidente da Fundação Pintemos Juntos. Suas obras encontram-se em coleções privadas, museus e instituições no Chile, Argentina, Brasil, Venezuela, Porto Rico, Estados Unidos, Canadá, Espanha, França, Polônia e Japão.
Idêntica Identidade, obra já exposta no Museo Nacional de Bellas Artes de Santiago de Chile e no Museu de Arte Contemporânea da USP, volta agora para fazer parte da mostra MAC Contemporâneo - Instalações. As diferentes máscaras incitam o visitante a vestí-las e refletir-se nos inúmeros espelhos do trabalho. Como um jogo instável, as trocas de identidade revelam aparências efêmeras e mostram indivíduos com mil rostos e, ao mesmo tempo, ocultos. A alternância do visível em invisível, ou seja, do rosto em máscara e, dessas em faces, novamente, acabam por criar uma multiplicidade de aparências, às vezes estranha ao próprio visitante da obra.
A instalação de Bernardita Vatter quer revelar as essências culturais, as identidades dos indivíduos, mesmo que submetidas às inúmeras transformações sofridas numa sociedade que aglomera numa matéria pastosa forças diferentes. Assim, “a maldade e a bondade persistirão naquele ser, sejam qual sejam as facetas que sua aparência exterior possam ter”, diz Vatter.
Yoko Ono
Yoko Ono
Tóquio, Japão, 1933
Durante a infância Yoko Ono estuda em Gakushin, uma das mais exclusivas escolas do Japão. Na época, dedica-se ao piano clássico e ao canto. No curso da II Guerra Mundial desloca-se freqüentemente entre o Japão e os Estados Unidos e, em 1952, muda-se definitivamente para Nova York. A partir de então estuda na Faculdade de Música Sarah Lawrence onde conhece importantes músicos de vanguarda que, posteriormente, seriam inspiração para o surgimento do grupo Fluxus, entre eles John Cage. Em Manhattan divide com outros artistas um loft que se tornará laboratório para as performances da artista e as experiências sonoras de John Cage. Rejeitando o auxílio financeiro da família, começa a dar aulas de arte japonesa e música em escolas públicas.
Na década de 1960, Yoko Ono realiza obras conceituais que oscilam entre a introspecção poética e a sátira provocadora. Painting To See The Skies, de 1961, é uma folha com instruções em japonês de como transformar uma tela convencional em uma espécie de óculos de observação do céu. Faz uma apresentação no Carnegie Recital Hall utilizando microfones para registrar o ruído de descargas de vasos sanitários. Lightining Piece é uma performance que convida os espectadores a observarem a consumação de um palito de fósforo. Essa última experiência levará a artista à idéia de integrar a arte à vida com a produção de obras que incitam o observador a uma relação estética com acontecimentos triviais, banalizados pela rotina - uma atitude de oposição àquilo que o Grupo Fluxus chama de “arte europeizada”.
Na década de 1990 Yoko Ono lança ONOBOX, caixa de seis CDs reunindo sua obra até então. Animada com a receptividade calorosa de ONOBOX a artista, em parceria com a banda IMA do filho Sean Lennon, grava o disco Rising que rendeu uma turnê pela América do Norte e pela Europa, além de um CD de remixagem com Tricky, Thurston Moore e Perry Farrel, entre outros artistas. Em 2001, realiza a exposição retrospectiva de quarenta anos YES YOKO ONO. No mesmo ano, lança Blueprint for a Sunrise, CD de material inédito. Suas obras, tanto musicais quanto plásticas e conceituais, são caracterizadas pela provocação, introspecção e pacifismo.
Ex it (The gates of Hell are only a play of light) é composta, originalmente, por sessenta caixões de três tamanhos - seis pequenos, vinte e quatro médios e trinta maiores. Plantas naturais (fícus) são expostas dentro de cada caixão, ficando visíveis somente seus cumes. Confeccionadas com madeira branca não aparelhada, as peças de aparência rústica, aliadas ao fícus, situam a efemeridade da vida e seu movimento de eterno retorno.
Marwan Rechmaoui
Marwan Rechmaoui
Beirute, Líbano, 1964
Forma-se em pintura e escultura nos Estados Unidos. Participa das coletivas Contemporary Arab Representations, em Barcelona (2002), Missing Links, Art Practices from Lebanon, no Cairo (2001), e Mediterranean Metaphors II, Contemporary Art from Lebanon, em Istambul, Damasco e Sydney.
Desde a última década, Marwan Rechmaoui está envolvido com ações para a reconstrução da vida em Beirute após a guerra civil. O reestabelecimento de bases institucionais para projetos de arte contemporânea está, por exemplo, entre os objetivos do Ashkal Alwan - The Lebanese Association for Plastic Arts, da qual o artista é membro fundador. Seu trabalho investiga a dinâmica urbana e rural sofrida com os efeitos da guerra na sociedade libanesa.
Espectros, 2006, obra doada recentemente ao acervo do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, configura-se como um trabalho preparado especialmente para integrar a XXVII Bienal Internacional de São Paulo. Ao recriar o edifício do Yackobian, construção modernista do início dos anos de 1960, no qual o artista morou por cinco anos, revela as transformações ocorridas em sua estrutura durante as mudanças econômicas e demográficas que tiveram lugar no Líbano ao longo do tempo. A instalação recria cada detalhe das marcas do cotidiano dos seus habitantes e os traços por eles deixados como “vidas urbanas impressas sobre a superfície da cidade”.
Simon Benetton
Simon Benetton
Treviso, Itália, 1933
Simon Benetton nasceu em 24 de outubro de 1933. Vive e trabalha na sua cidade natal, Treviso, onde mantém um ateliê-laboratório. Após freqüentar a Academia de Belas Artes de Veneza sua pesquisa mostra um trabalho que vai da figuração à vibração plástica espacial, da construção de módulos como símbolos dos impulsos dinâmicos do espaço, da construção de lâminas de metal fino que chegam às esculturas monumentais que representam a liberdade e o progresso humanos.
Escultor consagrado e reconhecido em seu país e no exterior, Benetton importa-se com a natureza escondida das coisas, com suas relações, para guiar a matéria em imagens de direções horizontais, verticais e diagonais. Utiliza, sobretudo o aço para a confecção de suas obras. A influência no uso desse material surge do contato com o trabalho de seu pai, o escultor Tony Benetton, e das primeiras lições tomadas em Veneza. Seus trabalhos estão em espaços urbanos, em edifícios, coleções e museus públicos e privados, como por exemplo, os museus de Arte Moderna de Roma, de Washington, de Arte Contemporânea de São Francisco e de Arte Contemporânea da USP, em São Paulo.
O Jardim dos Filósofos e Além, de 1989/1990, é uma instalação. Entre as esculturas de metal dispostas sobre uma superfície modular, a razão construtiva flutua na atmosfera criada que, segundo alguns críticos, manifesta uma emoção essencial. A obra revela-nos uma região de atenção aos espaços, aos ritmos das formas, aos intervalos da matéria metálica. Nesse entremeio, os filósofos surgem e os confins ancoram mais adiante.