Experimentações Gráficas
Experimentações gráficas insere-se em um conjunto de exposições em torno das artes aplicadas, que o MAC USP vem realizando desde 2021, tendo sido a primeira
Projetos para um quotidiano moderno no Brasil, 1920-1960 (2021) e em seguida, Art Déco Brasileiro. Coleção Fúlvia e Adolpho Leirner
(2022). Elas são fruto da pesquisa que se desenvolveu no Grupo de Pesquisa CNPq Narrativas da arte do século XX, que a partir de 2018, iniciou uma investigação mais
aprofundada sobre as relações entre as ditas belas artes (pintura e escultura) e aquelas genericamente chamadas de artes aplicadas, no Brasil.
Aqui, o destaque é justamente para as artes gráficas e a experiência de artistas brasileiros, sobretudo, da segunda metade do século XX em diante, com meios de comunicação
como jornais, revistas ilustradas e o meio editorial nacional. As curadoras Renata Rocco, Francis Melvin Lee e Mariana Motta trabalharam a partir da doação de 89
exemplares de revistas e publicações ilustradas brasileiras do período para a Biblioteca Lourival Gomes Machado. Nelas vemos grandes nomes da arte nacional atuando como
ilustradores e artistas gráficos, tais como Fayga Ostrower, Regina Silveira, Emiliano Di Cavalcanti, Aldemir Martins, Tomás Santa Rosa, Noêmia Mourão, dentre outros.
Articulam-se a elas obras desses mesmos artistas presentes no acervo do MAC USP, de modo que o público tenha a oportunidade de apreciar a experiência e a criação dos nomes
aqui presentes em vários meios técnicos e dimensões.
A doação dos exemplares de revistas e publicações ora expostas é resultado da iniciativa da Coleção Ivani e Jorge Yunes. Sua seleção para a doação ao MAC USP foi realizada
pela pesquisadora e curadora Renata Rocco, que como pós-doutoranda do Projeto Temático FAPESP Coletar, Identificar. Processar. Difundir. O ciclo curatorial e a produção de
conhecimento (2018-2023), colaborou com o Grupo de Pesquisa CNPq Narrativas da arte do século XX e compartilhou com outros jovens pesquisadores a investigação, seleção e
curadoria das exposições que realizamos em 2021 e 2022.
O MAC USP é um museu público, universitário e um espaço relevante para a difusão acadêmico-científica, no qual a curadoria é definida pelo processo de coleta,
identificação, tratamento/documentação e exibição de objetos artísticos. A doação Ivani e Jorge Yunes reflete esse princípio.
Ana Magalhães
Curadora responsável - MAC USP
Graphic Experimentations
Graphic Experimentations is part of a series of exhibitions about applied arts that MAC USP has presented since 2021, the first one being Projects for a
modern daily life in Brazil, 1920-1960 (2021), and the second, Fulvia and Adolpho Leirner Collection of Brazilian Art Déco (2022). They result
from the research developed by the CNPq Research Group Narratives of the art of the 20th century, focused on investigating the relationship between the so-called fine
arts (painting and sculpture) and the largely entitled applied arts, in Brazil.
Here, the highlight is to the graphic arts and the experience of Brazilian artists from the second half of the 20th century on, with means of communication, like
newspapers, illustrated magazines and the national editorial system. Curators Renata Rocco, Francis Melvin Lee and Mariana Motta worked from the donation of 89 pieces of
Brazilian illustrated magazines and publications of the period, made to the Museum library Lourival Gomes Machado. In them, we see great names, such as Fayga Ostrower,
Regina Silveira, Emiliano Di Cavalcanti, Aldemir Martins, Tomás Santa Rosa, Noêmia Mourão,among others, acting as illustrators and graphic artists. They are put in
dialogue with works by the same artists in the collections of MAC USP, so as to give the audience the opportunity to appreciate their experimentation and creation in
various technical media and dimensions.
These magazines and publications were donated by the Collection Ivani and Jorge Yunes. Their selection for MAC USP was made by curator Renata Rocco, who as post-doctoral
researcher of the Thematic Project FAPESP Collect.Identify. Process. Exhibit. The curatorial cycle and the construction of knowledge (2018-2023), collaborated with the
CNPq Research Group Narratives of the art of the 20th century, and shared with other young scholars the investigation, selection and curatorship of the exhibitions we did
in 2021 and 2022.
MAC USP is a public, university museum, as well as a key place for scientific-academic dissemination, in which curatorship is defined by the process of collecting,
identifying, preserving/documenting, and exhibiting artworks. The donation Ivani and Jorge Yunes reflects this principle.
Ana Magalhães
Curator in charge MAC USP
Experimentações gráficas - Doação Coleção Ivani e Jorge Yunes
Em 2023, a Coleção Ivani e Jorge Yunes doou à biblioteca do MAC USP 89 volumes ilustrados por artistas modernos no Brasil e publicados no século 20. Parte deste
conjunto, somado às obras advindas do Museu, Coleção Yunes e outros acervos, serviu como disparador para duas reflexões desta exposição: 1. demonstrar a colaboração e o
trânsito de artistas modernos e contemporâneos entre as ditas “belas artes” e “artes gráficas”, e 2. revisitar publicações e autores das décadas de 1920 a 2000, não
circunscritas ao eixo Rio-São Paulo e nem sempre acessíveis ao público.
No primeiro caso, vemos a versatilidade dos artistas em diferentes suportes. Suas criações evidenciam que qualquer hierarquia entre tipos de produção deve ser superada,
já que a potência dos traços extravasa classificações. Quando vistas de forma panorâmica, as obras dão a medida do quanto variaram as soluções artísticas, bem como o nosso
entendimento do que era uma linguagem visual moderna ao longo do século passado.
No segundo caso, publicações como O Cruzeiro, Diários Associados, Mapa e O Saco pontuam questões políticas, econômicas, culturais, ambientais e sociais no calor da hora,
como por exemplo, a celebração do IV Centenário da cidade de São Paulo, a propaganda do café como motor econômico da cidade e a seca no Nordeste.
O que atravessa a exposição é o poder das imagens, sua difusão para a construção de uma ideia de modernidade em diferentes cidades brasileiras e a estreita cooperação dos
artistas com tal projeto.
Entendemos que esta é uma pesquisa a ser expandida. Desde a inclusão de outras peças gráficas – como anúncios de propaganda e cartazes – até outros artistas e periódicos
que são hoje pouco conhecidos, mas que fornecem um complexo quadro das visualidades e temas em circulação entre nós.
Francis Melvin Lee
Mariana Motta
Renata Rocco
Curadoras
Graphic experiments: Collection Ivani and Jorge Yunes Donation
In 2023, Collection Ivani and Jorge Yunes donated to the MAC USP Library 89 volumes published in the 20th Century and illustrated by modern artists in Brazil. Part of
this donation, together with works from the Museum's, Yunes’ and other collections, raised two reflections for this exhibition: 1. demonstrate the collaboration and the
transit of modern and contemporary artists between the so-called “fine arts” and “graphic arts” and 2. revisit publications and authors from the 1920s to 2000s, not
limited to Rio-São Paulo axis and not always accessible to the public.
In the first case, we see the versatility of artists in different media. Their creations show that there is no hierarchy among graphic productions, since that the power
of their traits goes beyond classifications. When seen in a panoramic view, the works show the variety of artistic solutions, as well as our understanding of what was a
modern visual language throughout the last century.
In the second case, publications such as O Cruzeiro, Diários Associados, Mapa and O Saco highlight political, economic, cultural, environmental and social issues in the
heat of the moment, such as, for example, the celebration of the IV Centenary of the city of São Paulo, the propaganda of coffee as the city's economic engine and the
drought in the Northeast region.
What permeates the exhibition is the power of images, their use to express an idea of modernity in different Brazilian cities and the close cooperation of artists with
this project.
We understand that this research needs to be expanded. From the inclusion of other graphic pieces – such as advertisements and posters – to other artists and periodicals
that are less known today, but that compose a complex picture of the visualities and subjects that circulate among us.
Francis Melvin Lee
Mariana Motta
Renata Rocco
Curators
Diálogos: Coleção Ivani e Jorge Yunes e a biblioteca do MAC USP
Nos anos 1970 meus pais, Ivani e Jorge Yunes, começaram a colecionar arte e objetos de todas as partes do mundo. Sua curiosidade levou-os a reunir um acervo que conta
histórias de diferentes épocas, povos e culturas. A coleção é formada por peças arqueológicas do século 4 a.C. até pinturas executadas no Brasil na década de 1970,
passando por gravuras japonesas, porcelana Delft, vasos chineses, ícones russos, arte africana, entre outros.
Como proprietários de editoras e apaixonados pela palavra escrita e seu poder de ensinamento, transformação e encantamento, meus pais também colecionaram livros, revistas
e jornais publicados majoritariamente no Brasil, formando um acervo bibliográfico vasto e grandioso que dialoga e traz fundamentos teóricos para a coleção.
A biblioteca nos coloca em contato com a literatura brasileira, os debates acalorados travados nos jornais de diferentes épocas, o modernismo brasileiro, acontecimentos
históricos, e também - mas não menos importante - com a fantástica visualidade que nossos artistas criaram no século passado.
Assim, nossa família pensou na biblioteca do MAC USP como local ideal para receber as publicações ilustradas por nossos artistas modernos e contemporâneos como Emiliano
Di Cavalcanti, Noêmia Mourão, Tomás Santa Rosa, Regina Silveira, entre outros.
Entendemos que essa doação vem se somar aos inestimáveis e históricos volumes que a biblioteca do museu já possui, assim como gerar diálogos e reflexões com o acervo
artístico. Como museu público e universitário, o MAC USP dará continuidade à sua conservação e divulgação, e oportunidade ao público de conhecer e estudar essas
publicações. Partilhar sempre foi nosso maior objetivo.
Através dos volumes doados e suas ilustrações nos aproximamos da formação de nossa própria visualidade, o que nos construiu e o que continua a nos conectar com o mundo da
comunicação - elemento fundamental na divulgação da cultura. Assim escrevemos mais uma página da história desta coleção.
Beatriz Yunes Guarita
Diretora da Coleção Ivani e Jorge Yunes
Dialogues: Ivani and Jorge Yunes Collection and the MAC USP library
In the 1970s my parents, Ivani and Jorge Yunes, began their collection comprising art and objects from all over the world. Their curiosity led them to put together a
collection that tells stories from different eras, peoples and cultures ranging from 4th century BC archaeological pieces to Brazilian paintings from the 1970s, including
Japanese engravings, Delft porcelain, Chinese vases, Russian icons, African art, among others.
As owners of a publishing and printing company they were passionate about the written word with all its teachings, transformation and delight it encapsulates, my parents
also collected books, magazines and newspapers published mostly in Brazil, forming a comprehensive and impressive bibliographic collection that communicates and provides
a theoretical basis to the collection.
This library brings us into contact with Brazilian literature, the heated debates held in newspapers from different moments in time, Brazilian modernism, historical
events, and also - but no less important - with the fantastic visuality that our artists created in the last century.
Therefore, our family thought of the MAC USP library as the ideal place to host publications illustrated by our modern and contemporary artists such as Emiliano Di
Cavalcanti, Noêmia Mourão, Tomás Santa Rosa, Regina Silveira, among others.
We understand that this donation adds to the invaluable and historic volumes that the museum's library already has, in addition to fostering dialogues and reflections
with the artistic collection. As a public universitary museum, MAC USP will keep its conservation and dissemination, and will give the public the opportunity to discover
and explore these publications. Sharing has always been our biggest goal.
Through the donated volumes and their illustrations, we come closer to the formation of our own visuality, to what has built us and to what continues to connect us with
the world of communication - a fundamental element in the dissemination of culture. Thus, we write another page in the history of this collection.
Beatriz Yunes Guarita
Director of the Ivani and Jorge Yunes Collection
Verbetes - Artistas
Candido Portinari
Candido Portinari (1903-1962) é um dos mais conhecidos artistas modernos brasileiros. Sua vasta produção de mais de 5 mil obras, inclui pinturas, gravuras, desenhos, paineis e azulejos, realizados, muitas vezes, com uma linguagem visual figurativa marcada pela geometrização. Artista extremamente valorizado pelo poeta Mário de Andrade, Portinari defendia sua posição de pintor dos “motivos do Brasil”. Mas para além da sua produção em pintura, há uma rica contribuição no campo das artes gráficas, como atestam suas ilustrações para publicações como O alienista e Memórias póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis e Dom Quixote de Miguel de Cervantes. Nesta exposição trazemos: o livro Zé Brasil de Monteiro Lobato, 1948, que conta com reprodução de ilustrações do artista; parte das ilustrações originais para o livro A selva do escritor português Ferreira de Castro, as quais integraram uma exposição realizada no Pen Club em 1955 e a respectiva capa; o jornal Diários Associados de 1954, em edição comemorativa ao Café, em que Portinari ilustra a capa; gravuras do volume Menino de Engenho escrito por José Lins do Rego, e publicado no contexto da edição dos 100 Bibliófilos em 1959. Nessas obras, vemos a variada gama de soluções empregadas pelo artista - da simplificação e geometrização da forma no jornal, à explosão da cor em A selva, a um expressionismo dramático obtido nas gravuras em água-forte e água-tinta para Menino de Engenho.
Clóvis Graciano
Clóvis Graciano (1907 - 1988) foi um artista múltiplo, que trabalhou com diferentes suportes como a pintura, gravura, arte mural e cenografia. Participou das agremiações Família Artística
Paulista e Grupo Santa Helena em São Paulo, e teve papel ativo na cena artística paulistana, como crítico de arte e até mesmo diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Assim como suas
obras públicas, que são conhecidas e acessíveis ao público, o artista teve grande presença em periódicos e publicações, como no livro Cancioneiro da Bahia, de Dorival Caymmi, 1947, no
romance Terras do Sem Fim, de Jorge Amado em 1987, n’O Estado de S. Paulo, na Revista Médica e na Revista Brasilit, entre outros. Sempre trabalhando com soluções figurativas, e
assumidamente grande admirador de Portinari, Graciano experimentou soluções mais sintéticas e angulosas em sintonia com visualidades de seu tempo.
As obras gráficas que trazemos para esta exposição expressam um flerte com as tendências abstratas, como se vê na capa que fez para Jornal das Artes, 1949, quanto as sintéticas e
expressivas ilustrações realizadas para a edição comemorativa ao Café dos Diários Associados de 1954.
Emiliano Di Cavalcanti
Emiliano Di Cavalcanti (1897 - 1976) é um dos artistas modernos mais conhecidos do país com suas pinturas com temas que considerava brasileiros, como os trabalhadores, os pescadores e as
mulheres. Trabalhou com pintura, desenho, arte mural e artes gráficas. Sua produção para mídia impressa, inclusive, antecede as demais. O artista começa a fazer caricaturas no início da
década de 1910, realiza inúmeras ilustrações para livros e periódicos, mantendo essa atividade ao longo das décadas. Di Cavalcanti é autor de emblemáticas obras gráficas modernas como o
cartaz e a capa do catálogo da Semana de Arte Moderna de 1922, o álbum Fantoches da Meia Noite, editado por Monteiro Lobato, além de contribuições para a Klaxon e a revista Paratodos.
Nesta exposição ele é um dos artistas mais amplamente representados, visto que as produções apresentadas cobrem cerca de quatro décadas de sua atividade como artista gráfico, além de
expressarem a versatilidade ímpar de suas soluções plásticas.
As linguagens art nouveau e art déco aparecem nas conhecidas capas das revistas América Brasileira, 1923, e O Cruzeiro, 1929. A ilustração para a revista Movimento, 1935, apresenta uma
faceta sua, mais ligada com a arte social e uma linguagem que ecoa aquela do muralismo mexicano, que Di conhecia bem. A partir dos anos 1950, fica evidente sua experimentação com uma
figuração realizada com formas mais geometrizadas e angulosas, que fazem pensar no cubismo francês, com o qual o artista teve contato. São exemplares, nesse sentido, a capa para a revista
Cultura e Alimentação, 1951, as diferentes ilustrações para a edição especial dos Diários Associados, 1954, e mesmo a obra reproduzida para revista MAPA, 1957 e a capa para o livro Maria
das Raças.
De singular importância são as gravuras que produziu para A morte e a morte de Quincas Berro Dágua de Jorge Amado, publicadas no contexto das edições da Sociedade dos Cem Bibliófilos do
Brasil, 1962. Com seus contornos grossos, cenas que ocorrem ao mesmo tempo em uma mesma ilustração, suas obras são ricas em detalhes e expressividade e promovem uma aventura por meio
desse clássico de nossa literatura.
Noemia Mourão
Noemia Mourão (1912- 1992) trabalhou como pintora, desenhista e cenógrafa. Frequentemente lembrada de forma secundária no meio artístico como uma das "esposas do artista Di Cavalcanti",
de quem foi companheira por alguns anos, Noemia Mourão, foi, na realidade, uma artista moderna com uma profícua atuação no Brasil e na França, independentemente de sua relação matrimonial.
Embora suas criações mais conhecidas sejam as pinturas e desenhos de figuras femininas, representadas de forma figurativa, sutil, colorida, Mourão tem uma significativa atuação no campo
das artes gráficas. Na França ilustrou para os jornais Le Monde e Paris Soir nos anos 1930, e de volta ao Brasil nos anos 1940, ilustrou para alguns periódicos como a Planalto, presente
nesta exposição.
Aqui também apresentamos o hoje raro volume de 1971, Arte Plumária e Máscaras de Dança dos índios Brasileiros, que ela idealiza e ilustra, e que conta com introdução do escritor Gilberto
Freyre. No livro vemos a reprodução de delicadas aquarelas que Noemia fez magistralmente e que contam com textos explicativos, resultantes da pesquisa que ela empreendeu em bibliotecas,
museus, entrevistas e visitas a algumas tribos.
Tomás Santa Rosa
Tomás Santa Rosa (1909- 1956) foi um artista multifacetado que trabalhou com pintura, desenho, arte mural, cenografia, crítica de arte e foi integrante fundador das companhias Os
Comediantes e Teatro Experimental do Negro. Considerado por muitos autores como o “pai do livro moderno” Santa Rosa tem uma atuação consistente e diversificada no campo das artes gráficas.
Trabalhou para importantes editoras, realizando obras modernas para publicações de autores fundamentais como Mário de Andrade, Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade, Rachel de Queiroz,
Guimarães Rosa, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, entre outros. Santa Rosa fez centenas de capas de publicações e em muitos casos fez o planejamento gráfico das mesmas.
Nesta exposição apresentamos criações que cobrem cerca de duas décadas de sua produção gráfica. São obras figurativas de formas sintéticas - característica de seu traço -, em que vemos a
versatilidade do artista para publicações tão diversas, como nos livros Cacáu, 1933, Histórias da velha Totonia, 1936, Vidas Secas, 1938, e nos periódicos Movimento, 1935, e a Revista
Clube Internacional, 1951.
A natureza-morta de sua autoria aqui exposta, de 1945, reflete a importância do cubismo para suas experimentações plásticas e o quanto o artista trabalhou de forma diferente na pintura e
na ilustração. O artista pensava especificamente o suporte e a circulação das obras.
Tarsila do Amaral
Tarsila do Amaral (1886-1973) é uma das artistas modernas mais conhecidas do país. Suas pinturas, nas diferentes fases, procuram expressar as características do Brasil, sua população, os
aspectos da fauna e flora, numa linguagem visual que mesclava os aprendizados no seio das vanguardas artísticas internacionais e com aqueles daqui.
No campo das artes gráficas, Tarsila criou capas e ilustrações simbólicas como: aquela para o Feuilles de route: I. Le Formose de Blaise Cendrars (1924); ilustrações para o livro Pau Brasil
de Oswald de Andrade e, do mesmo autor, a capa d’ O Primeiro caderno do alumno de poesia Oswald de Andrade, 1927; em 1938, lustra o livro A Louca do Juquery, de René Thiollier; no ano
seguinte, faz a capa da partitura Suíte infantil, de João de Souza Lima, e o livro Misticismo e loucura, de Osório César; e ainda algumas ilustrações são publicadas na Planalto.
Para esta exposição trazemos obras emblemáticas: a capa de Memorias Sentimentaes de João Miramar de Oswald de Andrade, 1924, que reflete sua fase Pau Brasil; dos anos 1930, Onde o
proletariado dirige: visão panorâmica da U.R.S.S de Osório César, que é indicativa da fase social da artista, em que há desenhos de cidades que Tarsila conheceu em sua viagem pela URSS. A
edição comemorativa ao Café dos Diários Associados (1954) reproduz o desenho Paisagem Rural, do acervo do MAC USP, que a artista fez em 1924. São sintéticas e poderosas criações que põem
em evidência uma Tarsila menos conhecida do que a pintora.
Regina Silveira
Regina Silveira (1939-) é uma artista contemporânea de reconhecimento nacional e internacional e que há décadas vem trabalhando com os mais diversos suportes e linguagens visuais.
Instalações, cenários, arte pública, vídeo-arte, gravuras e outros, foram feitos de forma pioneira pela artista.
Sua produção gráfica, nesse contexto, longe de ser algo colateral ou de menor importância é dotada do mesmo valor simbólico das demais, sendo vasta, lúdica, política, instigante e
provocativa. A artista, justamente por isso, é como o horizonte desta exposição: ela trabalha com a ideia de uma gráfica expandida que pode ganhar, invadir, contaminar ou, simplesmente,
ser pensada em consonância com outros meios. Todos são para ela, inseparáveis.
Nesta mostra trazemos algumas de suas obras, dentre as quais Auditorium II (Black), feito em 1991, juntamente com seus desenhos preparatórios. São exemplares de uma expressiva produção da
artista com o tema do auditório, que ela iniciou justamente nos anos 1990, experimentando com formatos, suportes, materiais e locais de instalação.
Publicações
Grupo Diários Associados - Diários Associados
Grupo Diários Associados - O Cruzeiro
Periódicos fora do eixo Rio-SP
Periódicos ligados a órgãos públicos
Grupo Diários Associados - Diários Associados
EDIÇÃO especial dedicada ao café. Diários Associados. São Paulo, 15 jul. 1954.
Fundação: 2 de outubro de 1924 (data da compra de O Jornal, o primeiro adquirido por Assis Chateaubriand)
Periodicidade/Duração: O Jornal do Rio de Janeiro: 16.123 números diários, de 17 jun. 1919 a 28 abr. 1974.
O Diário da Noite do Rio de Janeiro: 11.018 números diários, de 5 out. 1929 a 28 fev. 1962.
O Diário da Noite de São Paulo: 16.742 números diários, de 7 jan. 1925 a 30 jun. 1980.
Conglomerado de mídia Diários Associados: 1924 – atualmente.
Idealizador: Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello
Resumo: Considerando os Diários Associados todo o conglomerado de mídia construído por Assis Chateaubriand, ele continua em funcionamento. O período mais relevante de sua atuação compreende
a segunda metade da década de 1920, com a circulação do matutino carioca O Jornal, dos noturnos O Diário da Noite de São Paulo e outro do Rio – que juntos eram conhecidos como “Os Diários”
–, e da revista O Cruzeiro. O bom momento também passa pelo final da década de 1930, com as rádios Tupi paulistana e carioca, pelo ano de estreia da primeira emissora de televisão da
América Latina, a TV Tupi, em 1950, mas não continua por muito tempo, entrando em decadência a partir do início dos anos 1960.
Curiosidades: Assis Chateaubriand era conhecido por ideias ousadas e por ótimo trânsito entre intelectuais e artistas. Ele próprio concebeu as edições ou suplementos especiais, reunindo
grandes nomes das letras e das artes para colaborarem com um assunto específico. A primeira de que se tem notícia é a “Edição comemorativa do centenário de D. Pedro II” (ano 7, n. 2135,
2 dez. 1925), ainda bem modesta. Entre abril e julho de 1927 foram lançados dois suplementos, um sobre a Bahia e outro sobre o Espírito Santo, contando com ilustrações especiais, mas ainda
do próprio jornal. Meses depois, em 15 de outubro do mesmo ano, sai a “Edição comemorativa do bicentenário do cafeeiro no Brasil” contando com 184 páginas divididas em 12 seções, capa e
ilustrações por Eliseu Visconti, além de trabalhos de Emiliano Di Cavalcanti, Marques Jr. e Porciúncula Moraes. O sucesso foi tamanho que, anos depois, foi reeditada como livro. Outro
número notável, com convites aos colaboradores feitos pelo próprio Chatô, saiu em junho de 1929, a “Edição especial consagrada a Minas Gerais”, coordenada por Rodrigo Melo Franco de
Andrade, ilustrada pelo pernambucano Manoel Bandeira e com participações de: Mário de Andrade, Lúcio Costa, Carlos Drummond de Andrade, Paulo Prado e João Alphonsus de Guimaraens. Anos e
edições especiais se passaram até que Napoleão de Carvalho, diretor dos Diários em São Paulo, sugerisse um novo número sobre os aspectos econômicos e sociais e a importância do café.
Lançado em meio as comemorações do IV Centenário da cidade de São Paulo, em 15 de julho de 1954, ele conta com 128 páginas ilustradas por: Candido Portinari,
Clóvis Graciano, Tarsila do Amaral, Arnaldo Pedroso D’Horta, Aldemir Martins, Emiliano Di Cavalcanti, Livio Abramo, Quirino
da Silva, Flávio de Carvalho, Nelson Nóbrega, Mick Carnicelli, Percy Lau e outros. Os textos foram elaborados por nomes como o do próprio Assis Chateaubriand, Oliveira Vianna, Florestan
Fernandes, Cândido Motta Filho, Tito Lívio Ferreira, Ernani Silva Bruno, Wenceslau Braz, além de poemas de Guilherme de Almeida, Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia, Cassiano Ricardo e
Murilo Mendes.
Grupo Diários Associados - O Cruzeiro
O CRUZEIRO: revista semanal de distribuição nacional. Rio de Janeiro, ano 1, n. 24, 20 abr. 1929.
Fundação: 10 de novembro de 1928
Periodicidade/Duração: mais de 2.400 números semanais, de nov. 1928 a jul. 1975.
Nomes relevantes: David Nasser, Jean Manzon, Manuel Bandeira, Graça Aranha, Carlos Castelo Branco, Candido Portinari, Aldo Bonadei, Anita Malfatti, Ismael Nery, Rachel de Queiroz,
Emiliano Di Cavalcanti, Otto Maria Carpeaux, Nelson Rodrigues, Millôr Fernandes, Samuel Wainer, Ziraldo.
Idealizadores: Carlos Malheiro Dias e Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello
Resumo: Revista ilustrada, semanal e de circulação nacional. Inovadora para a época, a revista de variedades trazia muitas fotografias e ilustrações impressas a cores sobre um papel de
melhor qualidade, compondo com matérias produzidas por grandes nomes do jornalismo nacional e internacional. Em suas próprias palavras, a publicação aspirava “ser o comentário múltiplo,
instantâneo e fiel dessa viagem de uma nação para o seu grandioso porvir; ser o documento registrador, o vasto anúncio ilustrado, o filme de cada sete dias de um povo”. Inspirada no
periódico americano Life, O Cruzeiro valorizava o fotojornalismo e a imagem – possibilitada pelo uso inédito do sistema de impressão em rotogravura no Brasil –, que acompanhavam as
matérias das mais diversas áreas: acontecimentos e fatos da semana, cobertura internacional, colunismo social, história, cinema, contos e crônicas, poesia, charges e caricaturas, esportes
e moda.
Cem Bibliófilos
AMADO, Jorge. A morte e a morte de Quincas Berro Dágua. Ilustrações de Emiliano Di Cavalcanti [LINK MINIBIO]. Rio de Janeiro: Sociedade dos Cem Bibliófilos do Brasil, 1962. 59 p.
Começou a impressão em 1962 e terminou em 1963.
REGO, José Lins do. Menino de engenho. Ilustrações de Candido Portinari [LINK MINIBIO]. Rio de Janeiro: Sociedade dos Cem Bibliófilos do Brasil, 1959. 203 p.
BANDEIRA, Manuel. Pasárgada. Ilustrações de Aldemir Martins [LINK MINIBIO]. Rio de Janeiro: Sociedade dos Cem Bibliófilos do Brasil, 1960. 75 p.
SOUSA, Gabriel Soares de. Bestiario: trechos do tratado descritivo do Brasil em 1587. Ilustrações de Marcello Grassmann [LINK MINIBIO]. Rio de Janeiro: Sociedade dos Cem Bibliófilos do
Brasil, 1958. 139 p.
FRANCO, Afonso Arinos de Melo. Pelo sertão. Ilustrações de Livio Abramo [LINK MINIBIO]. Rio de Janeiro: Sociedade dos Cem Bibliófilos do Brasil, 1946. 164 p. Produzido em 1946 e impresso
em 1948.
Fundação: 1943 (sociedade), 1944 (primeiro título)
Duração: 23 títulos entre 1944 e 1969.
Nomes relevantes (SCBB): Pedro Gastão de Orléans e Bragança (Neto da Princesa Isabel e bisneto de Dom Pedro II), Carlos Lacerda (jornalista e político), Jean Manzon (fotógrafo e cineasta),
José Mindlin (advogado, empresário e bibliófilo), Erico Stickel (advogado, industrial e bibliófilo), Gilberto Chateaubriand (empresário, diplomata e colecionador), Yolanda Penteado
(mecenas, colecionadora e articuladora cultural), Roberto Marinho (jornalista e empresário), Rubens Borba de Moraes (bibliotecário, pesquisador e bibliófilo), Ema Klabin (empresária,
mecenas e colecionadora), José Olympio Pereira Filho (editor).
Nomes relevantes (Autores): Machado de Assis, Castro Alves, Affonso Arinos de Mello Franco, Manuel Antônio de Almeida, Lima Barreto, Euclides da Cunha, Mário de Andrade, José Lins do Rego,
Manuel Bandeira, Guimarães Rosa, Jorge Amado.
Nomes relevantes (Artistas): Candido Portinari, Tomás Santa Rosa, Livio Abramo, Clóvis Graciano, Iberê Camargo, Poty Lazzarotto, Carybé, Marcello Grassmann, Aldemir Martins, Cícero Dias,
Djanira da Motta e Silva, Emiliano Di Cavalcanti.
Idealizador: Raymundo Ottoni Castro Maya
Resumo: Inspirado por outras iniciativas, principalmente pela bibliofilia francesa e a Société des Les Cent Bibliophiles, Castro Maya fundou a Sociedade dos Cem Bibliófilos do Brasil, que
se reunia para publicar textos clássicos da literatura brasileira, ilustrados por renomados artistas nacionais e confeccionados de maneira artesanal.
Observações: As tiragens das publicações eram muito reduzidas, a ponto de cada membro receber seu exemplar nomeado, numerado e com as folhas soltas, para ser encadernado de acordo com a
preferência de cada bibliófilo. Eram produzidos no máximo duas dezenas de excedentes, que eram entregues a instituições culturais ou doados a colaboradores. A entrega dos exemplares ocorria
em encontros no Jockey Club do Rio de Janeiro, oportunidade em que impressões remanescentes ou que ficaram de fora da edição final eram leiloadas entre os sócios. Tanto esses anexos quanto
o fato de as matrizes das gravuras serem destruídas ao término das impressões dão o caráter original e singular dessas publicações.
Livro de Arte e Etnografia
Arte plumária e máscaras de dança dos índios brasileiros
MOURÃO, Noemia. Arte plumária e máscaras de dança dos índios brasileiros. Introdução de Gilberto Freyre. Tradução de Barbara Shelby. 1. ed. São Paulo: Oficina de Artes Gráficas Bradesco,
1971. [178 p.]. Texto em português com tradução paralela em inglês.
Editora e data da primeira edição: Oficina de Artes Gráficas Bradesco, 1971
Sinopse: Noemia Mourão [LINK MINIBIO] cria cerca de 70 ilustrações a guache, reproduzidas no livro por técnica de fotolito, de representações estéticas indígenas em diversas etnias
brasileiras. Focando a arte plumária e as máscaras, a artista também traz imagens de ornamentos diários e cerimoniais, instrumentos musicais, litúrgicos entre outras “manifestações
plásticas” de alguns povos indígenas brasileiros. Cada prancha se faz acompanhar de um texto descritivo e o livro também traz um mapa, um glossário e prefácio de Gilberto Freyre, que dão o
peso etnográfico legítimo que a obra merece.
Curiosidades: A artista viajou o país, conversou com pesquisadores e esteve pessoalmente com as etnias indígenas para a pesquisa do livro. Conheceu Gilberto Freyre ainda na década de 1930,
quando morou no Recife. Ambos possuem uma visão etnocêntrica e utilizam termos datados nos textos, mas que não alteram a contribuição artística e etnográfica geral do trabalho, que revela
a portentosa visão estética dos povos originários do Brasil.
Livros de Poesia
Maria das raças
BANDEIRA, Aurélia. Maria das raças: poemas. São Paulo: Alarico, [1965]. [86 p.].
Editora e data da primeira edição: Alarico, 1965
Sinopse: Livro com 37 poesias.
Curiosidades: Prefácio de Sérgio Milliet e capa ilustrada por Emiliano Di Cavalcanti.
Romanceiro da Inconfidência
MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. Ilustrações de Renina Katz [LINK MINIBIO]. 1. ed. São Paulo: Edusp: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2004. 244 p.
Editora e data da primeira edição: Livros D Portugal, 1953
Sinopse: Conjunto de poemas que tratam da história de Minas Gerais até a Inconfidência Mineira. Focando principalmente na figura de Tiradentes, portanto tomando o ponto de vista dos
derrotados, Cecília denuncia a exploração e, ao mesmo tempo, prevê um futuro de liberdade, alcançado como redenção após tanto sofrimento dos oprimidos.
Curiosidades: Consequência de dez anos de pesquisa histórica da autora, que se encantou com Ouro Preto após ser enviada a cidade como jornalista que acompanharia as festividades da Semana
Santa. O romanceiro, forma poética escolhida pela autora, se caracteriza por poesias de caráter narrativo, histórico e popular. Ela optou por esse formato, em detrimento da epopeia, por
esta exigir um herói e, no caso, Tiradentes é considerado mártir.
O amor natural
ANDRADE, Carlos Drummond de. O amor natural. Ilustrações de Milton Dacosta [LINK MINIBIO]. 1. ed. Rio de Janeiro: Record, 1992. 100 p.
Editora e data da primeira edição: Record, 1992
Sinopse: Coletânea de poemas que abordam diferentes aspectos do amor físico, manifestação consequente e máxima do amor romântico.
Curiosidades: Pouquíssimos poemas desta coletânea tinham sido publicados anteriormente. Drummond guardou e instruiu seus herdeiros a publicá-los apenas postumamente. Ele tinha medo de que
o erotismo, que em sua poesia celebra o amor e a vida, fosse confundido com a simples pornografia. As ilustrações de Milton Dacosta foram feitas e guardadas especialmente para quando o
livro fosse publicado.
Sonetos
SCHMIDT, Augusto Frederico. Sonetos. Ilustrações de Anna Bella Geiger et al. 1. ed. Rio de Janeiro: Rio Gráfica, 1965. 297 p.
Editora e data da primeira edição: Rio Gráfica, 1965
Sinopse: Conjunto de sonetos do poeta Augusto Schmidt, alguns já publicados e outros inéditos. O autor trata de temas universais – como a noite, a morte, a voz e o amor –, mas revelando
uma faceta realista do metafísico, afastando-se, assim, do nacionalismo da primeira geração modernista.
Curiosidades: Os sonetos foram entregues aos editores duas semanas antes do falecimento do poeta. Ele chegou a aprovar os nomes dos artistas que ilustrariam o livro – dentre os quais,
Anna Bella Geiger, mas não chegou a ver as ilustrações nem a obra finalizada. Os editores solicitaram aos artistas que não focassem em criar imagens para poemas individuais, mas para o
conjunto em sua totalidade.
Voo sem pássaro dentro
MONTEIRO, Adolfo Casais. Vôo sem pássaro dentro: poesia: seguido de alguns poemas 1944-1952. Ilustrações de Fernando Lemos [LINK MINIBIO]. 1.ed. [Lisboa]: Ulisseia, 1954. 57 p.
Editora e data da primeira edição: Ulisseia, 1954
Sinopse: Livro de poesia.
Curiosidades: Publicado no mesmo ano que o autor se autoexila no Brasil. Casais Monteiro estava sofrendo censura do governo Salazarista e nunca mais retornou a Portugal.
Livros de Prosa
A selva
CASTRO, José Maria Ferreira de. A selva: romance. Ilustrações de Candido Portinari [LINK MINIBIO]. Vinhetas de Elena Muriel. 34. ed. [Lisboa]: Guimarães, 1982. 318 p.
CASTRO, José Maria Ferreira de. A selva. Ilustrações de Poty Lazzarotto [LINK MINIBIO]. [Rio de Janeiro]: Civilização Brasileira, [1967]. 237 p.
Editora e data da primeira edição: Civilização, 1930 (Portugal); Moura Fontes, 1934 (Brasil)
Sinopse: História de um estudante de direito português que, por causa de seus ideais políticos, é obrigado a emigrar para Belém (PA), no Brasil do final do ciclo da borracha. Depois de
morar com seu tio, decide viver na selva amazônica como um seringueiro subalterno a um senhor brasileiro, invertendo, assim, papel de colonizador e colonizado.
Curiosidades: O romance é parcialmente inspirado nas experiências do autor que, ainda aos 12 anos e órfão, foi obrigado a emigrar para o Brasil. Ele morou em Belém e trabalhou no seringal
“Paraíso”, de mesmo nome do citado na obra. Retornou a Portugal alguns anos depois, continuando a carreira de jornalista iniciada no Brasil e, depois, voltando-se para a literatura. A
edição comemorativa dos 25 anos de lançamento da obra foi ilustrada por Candido Portinari e reeditada em 1982.
Histórias incompletas
RAMOS, Graciliano. Histórias incompletas. 1. ed. Rio de Janeiro: Globo, 1946. 145 p. (Coleção Tucano, 18)
Editora e data da primeira edição: Globo, 1946
Sinopse: Coletânea de 10 contos.
Curiosidades: Dos 10, 9 contos já tinham sido publicados: “Um incêndio”, “Chico brabo”, “Um intervalo” e “Venta-romba” em Infância (José Olympio, 1945); “Cadeia”, “Festa” e “Baleia” em
Vidas secas (José Olympio, 1938); “Um ladrão” e “Minsk” em Dois dedos (R.A. Editora, 1945). Apenas “Luciana” era um conto inédito. Capa ilustrada por Fayga Ostrower, que também chegou a
desenvolver ilustrações, mas acabaram não sendo publicadas nesta edição.
Memórias sentimentais de João Miramar
ANDRADE, Oswald de. Memorias sentimentaes de João Miramar. 1. ed. São Paulo: Livr. Ed. Independencia, 1924. 119 p.
Editora e data da primeira edição: Livr. Ed. Independencia, 1924
Sinopse: Trata-se de um “romance-invenção”, que se utiliza de diversos gêneros textuais para contar a história da vida de João Miramar, um tipo paulistano constituído na cultura dos barões
do café do fim do século 19.
Curiosidades: Escrito entre 1916 e 1923, o livro pode ser considerado, juntamente a Paulicéia Desvairada, um dos marcos inaugurais da literatura modernista. Capa de
Tarsila do Amaral, a quem, ao lado do escritor Paulo Prado, Oswald dedica o livro.
Onde o proletariado dirige
CÉSAR, Osório. Onde o proletariado dirige: visão panoramica da U.R.S.S. Prefácio de Henri Barbusse. 1. ed. São Paulo: Edição Brasileira, 1932. 257 p.
Editora e data da primeira edição: Edição Brasileira, 1932
Sinopse: Como diz o subtítulo, o livro oferece uma série de dados estatísticos e informações relativos à geografia, às artes e cultura e aos sistemas econômico, social, educacional,
acadêmico e de saúde da União Soviética a fim de traçar um panorama geral da vida e do funcionamento daquela sociedade.
Curiosidades: Dr. Osório Thaumaturgo César era formado em odontologia e medicina, sendo pioneiro da abordagem em arteterapia no tratamento psiquiátrico. Criou a Escola Livre de Artes
Plásticas no, agora, Complexo Hospitalar do Juquery, onde promoveu diversas exposições. No início dos anos 1930, teve um breve romance com Tarsila do Amaral – quem
ilustra a capa dessa publicação –, que o acompanhou em reuniões do Partido Comunista do Brasil e se sensibilizou pela causa operária, o que gerou influência de caráter social nas obras da
artista. Ambos viajaram juntos a Moscou, quando Tarsila expôs na Rússia.
Vidas secas
RAMOS, Graciliano. Vidas seccas: romance. 1. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1938. 197 p.
Editora e data da primeira edição: José Olympio, 1938
Sinopse: Narrado em terceira pessoa, o romance de Graciliano descortina a vida e o espírito de uma família de retirantes do sertão nordestino em meio à seca e à opressão do sistema
oligárquico local.
Curiosidades: Romance escrito a partir de um conto publicado no suplemento literário d’O Jornal, em 1937, que trata da morte da cachorra Baleia. Com a boa recepção por seus pares,
desenvolveu a história em outros 7 contos, também publicados em jornais. Posteriormente, ele os organizou, revisou e completou com mais 5 capítulos para formar o romance publicado. O
título pensado originalmente por Graciliano, “O Mundo Coberto de Penas”, foi alterado após um comentário do irmão de José Olympio de que os personagens da trama tinham “vidas secas”. A
capa foi ilustrada por Tomás Santa Rosa e está dentro do padrão da identidade visual que ele criou para a editora José Olympio, perdurando entre 1935 e 1939.
Histórias de Alexandre
RAMOS, Graciliano. Histórias de Alexandre. Ilustrações de Tomás Santa Rosa [LINK MINIBIO]. 1 ed. Rio de Janeiro: Leitura, 1944. 135 p.
Editora e data da primeira edição: Leitura, 1944
Sinopse: Quinze histórias infantojuvenis que, em formato de contos e fábulas, tratam dos mesmo motes de outras obras do autor: a oposição entre o rural obsoleto e o urbano moderno, o
ceticismo com a justiça e a política e os problemas sociais e econômicos. Essas narrativas são sempre desenvolvidas em linguagem regional com inspiração na oralidade.
Curiosidades: Lançado entre a publicação de Vidas secas (1938) e Infância (1945), acabou passando mais despercebido. É a segunda das 3 obras infantojuvenis do autor.
Cacáu
AMADO, Jorge. Cacáu: romance. Ilustrações de Tomás Santa Rosa. 1. ed. Rio de Janeiro: Ariel, 1933. 197 p.
Editora e data da primeira edição: Ariel, 1933
Sinopse: Em primeira pessoa, o romance aborda o surgimento de consciências política e de classe em trabalhadores de fazendas cacaueiras, no sul baiano da década de 1930. É considerado um
romance-reportagem de denúncia da situação desses trabalhadores e dos conflitos com os ricos fazendeiros locais.
Curiosidades: Segundo romance de Jorge Amado e o primeiro, de uma série de obras suas, a tratar da região produtora de cacau. Também é considerado o livro que iniciou os reconhecimentos
das obras tanto de Jorge Amado, como de Tomás Santa Rosa, o ilustrador.
Marco zero I e II
ANDRADE, Oswald de. Marco zero I: a revolução melancólica. 1 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1943. 428 p.
ANDRADE, Oswald de. Marco zero II: chão. 1 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1945. 468 p.
Editora e data da primeira edição: José Olympio, 1943 (vol. I) e 1945 (vol. II)
Sinopse: Romance histórico sobre a Revolução Constitucionalista de 1932 que retrata a sociedade paulista da época, questionando relações trabalhistas, a família, o uso de terras, a escola
etc. O segundo volume continua o retrato da decadência da sociedade paulista, mas dessa vez tratando do ponto de vista da cidade: o êxodo rural, a trajetória dos imigrantes, o crescimento
urbano, o desenvolvimento do comércio e da indústria etc.
Curiosidades: Marco zero foi projetada como uma série de 5 “romances-mural” para fazer uma síntese da história do Brasil da primeira metade do séc. 20 através de São Paulo. Apenas dois
volumes foram publicados, ambos com capas de Tomás Santa Rosa, e a pentalogia ficou inacabada.
Grande sertão
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 1. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1956. 594 p.
Editora e data da primeira edição: José Olympio, 1956
Sinopse: Romance oralizado desenvolvido pelo narrador Riobaldo durante um monólogo-diálogo com um interlocutor que não se manifesta. Ele conta a história de sua vida no sertão, trazendo
aspectos regionais que se expandem em questões existenciais universais: amor, sofrimento, traição, guerra, bem e mal, problemas sociais etc. Essa prosa de Guimarães Rosa contém seu
particular estilo, repleto de neologismos, estrangeirismos e regionalismos, com o fluxo de consciência característico da tradição oral, que aproxima narrador e leitor através da linguagem.
Curiosidades: Quinto livro de Guimarães Rosa. Ele fez duas viagens ao sertão mineiro para pesquisas e os dois cadernos de anotações de sua segunda viagem estão guardados no Instituto de
Estudos Brasileiros (USP). Quem também realizou diversas viagens para pesquisar referências usadas em seus trabalhos foi o artista Poty Lazzarotto que, além deste livro, ilustrou Sagarana
(1956), Corpo de baile (1956) e Estas estórias (1969) de Guimarães Rosa. A capa de Grande sertão e os mapas das orelhas, publicados apenas na edição seguinte (1958), foram desenvolvidos em
conjunto com o escritor, que solicitou a inclusão de diversos símbolos sem dar muitas explicações ao artista.
Histórias da velha Totônia
REGO, José Lins do. Histórias da velha Totonia. Ilustrações de Tomás Santa Rosa [LINK MINIBIO]. 1 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1936. 114 p.
Editora e data da primeira edição: José Olympio, 1936
Sinopse: Quatro histórias infantojuvenis com estrutura de conto de fadas – personagens monolíticos, divididos entre bem e mal e em que o bem sempre vence –, mas com temáticas brasileiras
inspiradas nos folclores e construídas com linguagem da tradição oral e repleta de regionalismos.
Curiosidades: A narradora, velha Totônia, é criação do autor inspirado em contadoras de histórias da sua infância e, principalmente, como oposição ao seu avô, dono de engenho que também
contava histórias, mas estas eram cruas, chocantes e permeadas pela opressão escravocrata.
Fala, amendoeira
ANDRADE, Carlos Drummond de. Fala, amendoeira. 1. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1957. 293 p.
Editora e data da primeira edição: José Olympio, 1957
Sinopse: Reunião de crônicas que tratam com lirismo, intimidade e perspicácia de cenas cotidianas.
Curiosidades: Crônicas publicadas no jornal Correio da Manhã, em que o autor manteve coluna entre 1954 e 1969. A capa, ilustrada por Milton Dacosta, é o início da amizade que o escritor e
o artista mantiveram nos anos seguintes, resultando em colaborações no trabalho de ambos.
O cavaleiro da esperança
AMADO, Jorge. O cavaleiro da esperança: a vida de Luiz Carlos Prestes. Ilustrações de Renina Katz [LINK MINIBIO]. 34. ed. Rio de Janeiro: Record, 1987. 351 p.
Editora e data da primeira edição: Editorial Claridad, 1942 (Argentina); Livraria Martins, 1945 (Brasil)
Sinopse: Romance biográfico de Luís Carlos Prestes em que o autor se dirige a uma leitora imaginária, tratada como “amiga” e “negra”, para exaltar os feitos e revelar os sofrimentos e
paixões dessa figura histórica. Esse diálogo com uma representante legítima do povo brasileiro teria como objetivo conscientizar e, consequentemente, pressionar pela soltura do líder
revolucionário que estava preso.
Curiosidades: Perseguidos pela ditadura do Estado Novo, Prestes estava preso e Jorge Amado escreveu e publicou o livro na Argentina, em 1942. Só foi publicada a primeira edição brasileira
em 1945 e, posteriormente, o livro foi banido na Argentina de Perón. Com a ditadura de 1964, as edições brasileiras sumiram e só retornaram em 1979. Jorge Amado e Luís Carlos Prestes foram
colegas na bancada do Partido Comunista do Brasil (PCB) na Assembleia Constituinte de 1946, o primeiro como deputado por São Paulo e o segundo como senador pelo Rio de Janeiro (então
Distrito Federal). Ficaram no cargo apenas até 1948, quando seus mandatos foram cassados após o partido ser colocado novamente na ilegalidade em 1947.
Zé Brasil
LOBATO, Monteiro. Zé Brasil. Ilustrações de Candido Portinari [LINK MINIBIO]. 2. ed. Rio de Janeiro: Calvino Filho, 1948. 29 p.
Editora e data da primeira edição: Vitória, 1947
Sinopse: Narra a história de um trabalhador rural explorado que se vê expulso da terra que lhe foi cedida para plantio e sem sua produção, tomada pelo dono da área. Nesse momento, conhece
a história de Luís Carlos Prestes e entende a necessidade da luta por reforma agrária e a perseguição política sofrida por ele.
Curiosidades: Publicado também como folhetim no jornal comunista Tribuna Popular, a obra foi uma guinada na posição política de Lobato em relação aos trabalhadores rurais. Vindo de
família que possuía terras, Monteiro Lobato criou, em 1914, a sua personagem símbolo, Jeca Tatu, que mesmo sendo disruptiva, por ao menos revelar a existência do homem do campo, trazia
uma caracterização preconceituosa e depreciativa. Apenas no final dos anos 1940, após muito tempo e estudos, Zé Brasil trouxe uma versão amadurecida e engajada de seu ícone: a “preguiça”
e apatia eram, na verdade, sintomas de má nutrição e da exclusão social, mas com potencial de ser agente transformador ativo de sua realidade.
Periódicos fora do eixo Rio-SP
Mapa
MAPA. Salvador, ano 1, n. 2, 1957.
Fundação: 1956 (grupo); julho de 1957 (revista)
Periodicidade/Duração: 3 números com periodicidade indeterminada, de jul. 1957 a ago. 1958.
Nomes relevantes: Glauber Rocha, Fernando da Rocha Peres, Paulo Gil Soares, Calasans Neto, Ângelo Roberto, Carlos Anísio Melhor, Sônia Coutinho, João Ubaldo Ribeiro, João Carlos Teixeira
Gomes, Florisvaldo Mattos, Myriam Fraga, Sante Scaldaferri, Lênio Braga, Emiliano Di Cavalcanti, Wilson Rocha, Orlando Senna, Mário Cravo Jr., Alex Viany.
Idealizadores: Fernando da Rocha Peres, Glauber Rocha, Paulo Gil Soares, Ângelo Roberto e Calasans Neto
Resumo: A chamada Geração Mapa surgiu em meados da década de 1950 no Colégio Estadual da Bahia, também conhecido como “Central”, a primeira instituição educacional secundarista pública do
país e a maior do estado. Estimulados pelas diretrizes educacionais de Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro, os alunos secundaristas do Central se viam como promotores de atividades culturais
renovadoras, como As Jogralescas, teatralização de poesias modernistas com técnicas e cenários vanguardistas. Montagens das obras de nomes como Manuel Bandeira, Drummond e Cecília Meireles
chegaram a ser temas de discussões em periódicos do país. O grupo, formado por quatro secundaristas, entre eles Glauber Rocha, lançou mais três frentes de ação: a editora Macunaíma
(1957–1990), a produtora Yemanjá Filmes (1957–1962?) e a revista Mapa (1957–1958). Tendo o mesmo título de um poema de Murilo Mendes (1930, p. 117), a revista revelava com essa escolha a
homenagem e o compromisso com o modernismo. O periódico literário continha um boletim de notícias (apenas nos dois números iniciais), ensaios, poemas, crônicas, críticas e ilustrações
artísticas. Mesmo com curta duração, a publicação chamou atenção do meio cultural – Lina Bardi fez duras críticas ao grupo, mas anos depois veio a se aproximar de Glauber Rocha e Paulo
Gil Soares. O meio jornalístico da época também foi fortemente afetado: muitos dos colaboradores de Mapa posteriormente trabalharam na imprensa baiana e em muito contribuíram com sua
modernização e independência.
O Saco
O SACO: uma revista nordestina de cultura. Fortaleza: Opção, ano 1, n. 6, dez. 1976.
Fundação: 2 de abril de 1976
Periodicidade/Duração: 7 números com periodicidade indeterminada, de abr. 1976 a fev. 1977.
Nomes relevantes: Edmundo de Castro (editor apenas no registro), Estrigas (Nilo Firmeza), Francisco de Sousa Nascimento, Nilto Maciel, Jackson Sampaio, Aldemir Martins, Myriam Fraga, Ariano
Suassuna, Siegbert Franklin, Carybé, Airton Monte, José Alcides Pinto, Gilmar de Carvalho, Nise da Silveira.
Idealizadores: Jackson Sampaio, Manoel Raposo, Nilto Maciel e Carlos Emílio Corrêa Lima (todos editores)
Resumo: A revista O Saco foi consequência de uma fracassada cooperativa de artistas de Fortaleza, no Ceará, reunida em 1975 e que pretendia articular atividades artísticas das mais
variadas, como alternativa ao eixo Rio-São Paulo, ao mesmo tempo em que faria resistência à ditadura militar. Esse grupo, formado por 72 intelectuais e artistas, foi reunido por Carlos
Emílio Corrêa Lima, mas se desmanchou logo após a primeira reunião. Restaram coesos apenas o idealizador e mais três pessoas – Jackson Sampaio, Manoel Raposo e Nilto Maciel –, que tinham
em comum a literatura. Foi então que, no ano seguinte, lançam um periódico composto por quatro cadernos: o primeiro, chamado Prosa, trazia contos e romances; o segundo, Verso, dedicado à
poesia; o terceiro, Imagem, com ilustrações e artes plásticas; por fim vinha Anexo, com o editorial, ensaios, entrevistas ou outros textos não artísticos. Cada caderno vinha grampeado,
formando os quatro conjuntos que eram inseridos na capa-contracapa em formato de envelope, ou de “saco”. Essa publicação nascia como dupla alternativa de espaço para artistas, que
poderiam tanto produzir para ela, como consumir o que ali era disponibilizado. Inicialmente, o intuito era publicar apenas de cearenses jovens e desconhecidos, mas isso foi se perdendo ao
longo das sete edições lançadas durante o curto período de um ano.
Joaquim
JOAQUIM: revista mensal de arte. Curitiba, ano 2, n. 12, ago. 1947.
JOAQUIM: 1946-1948. Edição fac-similar. Curitiba: Imprensa Oficial do Paraná, 2000. 12 v. (Coleção Brasil Diferente).
Fundação: abril de 1946
Periodicidade/Duração: 21 números com periodicidade indeterminada (pretensamente mensais), de abr. 1946 a dez. 1948.
Nomes relevantes: Dalton Trevisan (diretor), Paulo Mendes Campos, Carlos Drummond de Andrade, Wilson Martins, Guido Viaro, Otto Maria Carpeaux, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Sérgio
Milliet, Lêdo Ivo, Mário Pedrosa, Poty Lazzarotto, Renina Katz, Emiliano Di Cavalcanti, José Paulo Paes, Manuel Bandeira, Fayga Ostrower, Temístocles Linhares, Esmeraldo
Blasi Jr., José Lins do Rego, Nilo Previdi, Heitor dos Prazeres.
Idealizadores: Dalton Trevisan, Antonio Walger e Erasmo Pilotto
Resumo: Periódico literário “em homenagem a todos os joaquins do Brasil”, como trazia escrito em seus números. Criado por Dalton Trevisan e Antonio Walger, que ainda na escola criaram a
sua primeira revista, além de Erasmo Pilotto, que logo abandonou o projeto. Surgida em Curitiba, em meio a um contexto editorial que estava renovando a cultura local, Joaquim tinha por
objetivo ser uma ruptura com o ambiente provinciano das ideias “paranistas”, presas na busca de uma identidade local e ao simbolismo, além de refratárias ao moderno. A revista propunha ser
um lugar de renovação e inspiração cultural, artística e intelectual. De certo modo foi muito bem-sucedida: atraiu a atenção, além da contribuição, de diversos nomes importantes nas artes
e na literatura, alcançou um público nacional e tinha muitos anunciantes. Teve uma edição, a número 19, inteiramente dedicada aos ilustradores que contribuíam na publicação, reconhecidos
pelo crítico Quirino Campofiorito no artigo “Os ilustradores de Joaquim” (n.10, maio 1947) pela qualidade técnica e espontaneidade criativa permitidas pela zincogravura, técnica mais
empregada na revista.
Não obstante, Joaquim falhou com os “joaquins”, por ter permanecido restrita a um público intelectualizado, sem alcançar as massas. Paradoxalmente, a ampliação de seu reconhecimento por
integrantes da elite intelectual do país pode ter sido, entre outros, motivo para o fim da revista. O fim abrupto deixou um conto de Dalton Trevisan sem final, mas preservou o espírito
irreverente e vanguardista almejado por seus criadores.
Clube Internacional do Recife
CLUBE INTERNACIONAL DO RECIFE. Recife, ano 3, n. 22, set. 1949.
CLUBE INTERNACIONAL DO RECIFE. Recife, ano 5, n. 40, out./nov. 1951.
Fundação: 1885 (clube); 1947 (revista)
Periodicidade/Duração: mais de 63 números com periodicidade indeterminada (pretensamente mensais), de nov. 1947 a jan./out. 1964 (números e datas incertos).
Nomes relevantes: João Pereira Borges (diretor), Renato Silveira (diretor), Altamiro Cunha (diretor), Nilo Pereira, Gilberto Freyre, Tomás Santa Rosa, Mário Sette,
Manoel Bandeira, Lula Cardoso Ayres, Ladjane Bandeira, Mário Mota, Gilberto Osório de Andrade, Edson Régis, Aderbal Jurema.
Idealizador: João Pereira Borges; Clube Internacional do Recife
Resumo: Fundado em 1885 como Clube Regatas Ultramarino, o Clube Internacional do Recife permanece referência da vida social e cultural da capital pernambucana. Muito ligado às elites, foi
resgatado de uma grande crise por ações de políticos locais, no final da década de 1930, quando passou a ocupar o Solar do Benfica, atual sede. Lá eram fomentadas as mais diversas
modalidades esportivas, além de eventos culturais: concertos, recitais, balés, festas e, no carnaval, o ainda hoje tradicional Bal Masqué. Esse evento foi sugerido ao presidente do Clube,
em 1948, por Altamiro Cunha, jornalista e colunista social. Ele foi redator e, posteriormente, diretor da Revista do Clube Internacional, fundada em 1947 por João Pereira Borges, então
presidente da agremiação e ex-prefeito do Recife (1934–1937). O periódico de intensão mensal pretendia ser um registro das atividades do Clube e de parte da comunidade recifense,
conciliando o colunismo social a vasto registro fotográfico e literário, através da publicação de poesias, contos, crônicas e artigos.
Forma
FORMA. Curitiba, ano 1, n. 1, 1966.
Fundação: janeiro de 1966
Periodicidade/Duração: 2 números com periodicidade indeterminada, 1966.
Nomes relevantes: Cleto de Assis (editor), Philomena Gebran (editora), Sylvio Back, o casal Célia e Poty Lazzarotto, Sérgio Rubens Sossélla, Ennio Marques Ferreira,
Regina Silveira, João Osório, José de Almeida Penalva, Léopold Sedar Senghor, Guido Viaro, Luiz Geraldo Mazza, Cleon Ricardo dos Santos, Dalton Trevisan.
Idealizadores: Cleto de Assis e Philomena Gebran
Resumo: Revista de cultura de curtíssima duração que buscava estimular o diálogo e divulgar a cultura em seus mais variados aspectos: arquitetura e urbanismo, música, artes plásticas,
poesia, teatro, cinema e prosa. Guiada pela professora Maria Philomena Gebran e materializada graficamente por Cleto de Assis, a publicação era a celebração da independência intelectual
paranaense que vivia, nos últimos anos, uma efervescência inédita. Mesmo com a esperança de que o diálogo proposto fizesse perdurar essa conjuntura, os editores sabiam que a proposta de
se manter sem anunciantes e o contexto político da época podiam encurtar a vida do projeto, que, de fato, não resistiu além do segundo número.
Periódicos no eixo Rio-SP
Movimento
MOVIMENTO: revista do club de cultura moderna. Rio de Janeiro, ano 1, n. 4, out. 1935.
MOVIMENTO: revista do club de cultura moderna. Rio de Janeiro, ano 1, n. 1, maio 1935.
Fundação: 26 de novembro de 1934 (grupo); maio de 1935 (revista)
Periodicidade/Duração: 4 números mensais, de maio, junho, setembro e outubro de 1935.
Nomes relevantes: Miguel Costa Filho (diretor), Tomás Santa Rosa, Jorge Amado, Paschoal Lemme, Febus Gikovate, Flávio Poppe, Amadeu Amaral Jr., Joaquim Ribeiro,
Américo Leite, Edgard Roquette Pinto, Luís Werneck de Castro, Nise da Silveira, Aníbal Machado, Edgard Süssekind, Oscar Tenório, Emiliano Di Cavalcanti [LINK MINIBIO], Evandro Lima e
Silva.
Idealizador: Clube de Cultura Moderna
Resumo: Revista de divulgação da organização Club de Cultura Moderna, fundado com o intuito de se contrapor a cena nacional e internacional de ascensão do integralismo e do fascismo,
respectivamente. Com forte inspiração na Aliança Nacional Libertadora, esse grupo tinha, assim como a ANL, relações estreitas com ideais socialistas e comunistas. Seria por meio de
matérias sobre cultura em geral (filmes, peças de teatro, livros), divulgação de exposições, festivais e atividades do próprio Club de Cultura, além de comunicados da ANL, que tentariam
se contrapor os movimentos fascistas que cresciam no Brasil e no mundo. O grupo tinha pretensões de organizar uma universidade pública e estabelecer uma leitura social da arte, assim como
o Clube dos Artistas Modernos (CAM) em São Paulo, organizando exposições e premiações. Chegou a realizar a I Exposição de Arte Social no Brasil, em setembro 1935, que contou com trabalhos
de Candido Portinari, Noemia Mourão, Oswaldo Goeldi, Lasar Segall, Emiliano Di Cavalcanti,
Tomás Santa Rosa, Paulo Werneck e outros.
América Brasileira
AMÉRICA BRASILEIRA: resenha da vida nacional. Rio de Janeiro, ano 2, n. 14, fev. 1923.
AMÉRICA BRASILEIRA: resenha da vida nacional. Rio de Janeiro, ano 2, n. 15, mar. 1923.
AMÉRICA BRASILEIRA: resenha da vida nacional. Rio de Janeiro, ano 2, n. 17, maio 1923.
AMÉRICA BRASILEIRA: resenha da vida nacional. Rio de Janeiro, ano 2, n. 21, set. 1923.
Fundação: dezembro de 1921
Periodicidade/Duração: 36 números mensais, de dez. 1921 a dez. 1924.
Nomes relevantes: Mário de Andrade, Graça Aranha, Tristão de Athayde (pseudônimo de Alceu Amoroso Lima), Oliveira Vianna, Sérgio Buarque de Hollanda, Manuel Bandeira,
Emiliano Di Cavalcanti, Jorge Barradas, Zina Aita.
Idealizador: Elysio de Carvalho
Resumo: Diferentemente de outras publicações da época, América Brasileira não era vinculada a um grupo artístico ou estético específico, mas reunia intelectuais das mais diferentes
origens para pensar a cultura, a sociedade, a economia, as relações internacionais e problemas do Brasil. O contexto “hispano-americano”, a relação com a literatura e as artes da Espanha
e de Portugal também marcam influência na linha editorial da revista.
Jornal das Artes
JORNAL DAS ARTES. São Paulo, ano 1, n. 1, jan. 1949.
Fundação: janeiro de 1949
Periodicidade/Duração: 3 números com periodicidade indeterminada (pretensamente mensais), de jan. 1949 a jun. 1949 (números e datas incertos).
Nomes relevantes: Ruy Affonso Machado (diretor), Joaquim Pinto Nazário, Clóvis Graciano, Aldemir Martins, Lima Barreto, Cecília Meireles, Guilherme de Almeida,
Camargo Guarnieri, José Geraldo Vieira, Flávio de Carvalho, Carlos Drummond de Andrade, Aldo de Souza Lima.
Idealizador: desconhecido
Resumo: Pretensa revista mensal de crítica de arte, mas com caráter acessível e apelo estético. O formato dos textos demonstrava a intenção editorial da publicação em oferecer registros
noticiosos ou opinativos sobre artes, ao invés de um periódico crítico de aspecto quase acadêmico. Os mais variados temas artísticos e culturais eram abordados pela revista: arquitetura,
pintura, escultura, música, literatura, dança, teatro, cinema e fotografia. Também discorria sobre assuntos que nem sequer eram comentados por periódicos do gênero na época, como decoração,
rádio e televisão. A diagramação geral da revista ficava a cargo do artista Clóvis Graciano, responsável pelas vinhetas, algumas ilustrações e uma capa.
Periódicos ligados a órgãos públicos
Cultura e Alimentação
CULTURA E ALIMENTAÇÃO. Rio de Janeiro, ano 1, n. 1, jan. 1950.
CULTURA E ALIMENTAÇÃO. Rio de Janeiro, ano 2, n. 2, dez. 1951.
Fundação: janeiro de 1950
Periodicidade/Duração: 2 números com periodicidade indeterminada, de jan. 1950 a dez. 1951 (números e datas incertos).
Nomes relevantes: Murilo Miranda (diretor), Lourival Gomes Machado, Sérgio Milliet, Érico Veríssimo, Paulo Mendes Campos, Newton Freitas, Otto Maria Carpeaux, Cecília Meireles, Rubem Braga,
Roger Bastide, José Lins do Rego, Mário Barata, Henrique Pongetti, Fayga Ostrower, Emiliano Di Cavalcanti, Tomás Santa Rosa, Oswaldo Goeldi,
Tarsila do Amaral, Livio Abramo, Aldemir Martins, Lasar Segall.
Idealizador: desconhecido; Divisão de Propaganda do Serviço de Alimentação da Previdência Social
Resumo: Periódico do Serviço de Alimentação da Previdência Social, autarquia do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. Criado em 1940 por Getúlio Vargas, o SAPS tinha por objetivo
tratar da alimentação e da saúde do ponto de vista da assistência social. Para tanto, sua divisão de propaganda lançou três periódicos com o objetivo de divulgar suas ações e informar:
Boletim do SAPS: o primeiro e mais longevo (nov./1944 – dez./1950) com publicações variando entre mensais até trimensais, mais focado em divulgar as ações do órgão e publicar orientações
mais diretas;
Revista de Nutrição: com apenas dois números (jul./1950 e maio/1955), tinha uma perspectiva mais acadêmica, publicando estudos nutricionais e científicos;
Revista Cultura e Alimentação: também com apenas dois números (jan./1950 e dez./1951), periódico com uma abordagem mais ampla, tratando da nutrição do ponto de vista gastronômico, da
cultura popular e até das artes.
De 1948 a 1956 a Divisão de Propaganda do SAPS foi dirigida por Murilo Miranda que, mesmo sob grande influência política causada pela subordinação do órgão ao Exército, conseguiu
conciliar, principalmente na revista Cultura e Alimentação, a divulgação de um serviço público com a promoção e difusão das artes e da cultura.
Planalto
PLANALTO: quinzenário de cultura. São Paulo, ano 1, n. 2, 01 jun. 1941.
Fundação: 15 de maio de 1941
Periodicidade/Duração: 22 números quinzenais, de 15 maio 1941 a 01 abr. 1942.
Nomes relevantes: Orígenes Lessa (diretor), Cassiano Ricardo, Sérgio Milliet, Rubens do Amaral, Cândido Motta Filho, Menotti Del Picchia, Rubens Borba de Moraes, Sud Mennucci, Mário de
Andrade, Noemia Mourão, Emiliano Di Cavalcanti, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, EClóvis Graciano.
Idealizador: Cassiano Ricardo; Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda de São Paulo
Resumo: Publicação de cultura idealizada por Cassiano Ricardo quando estava à frente do Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda de São Paulo. Dirigido por Orígenes Lessa, o
quinzenário abordava diversos assuntos – como literatura, artes plásticas, música, teatro, cultura popular e política –, mas sempre tendo o estado paulista como convergência, além de
diversos integrantes do conselho diretor serem, também, membros da Academia Paulista de Letras. Era uma maneira de homenagear aqueles que participaram das Bandeiras, ou que sofreram com
elas, além de resgatar e valorizar o movimento modernista após quase vinte anos da Semana de Arte Moderna de 1922. O próprio Cassiano Ricardo conta que convidou os mais representativos
escritores da época, sem se importar com a inclinação partidária, para colaborarem com uma revista “de alto nível intelectual” (RICARDO, 1970, p. 79). Apesar disso, o fato de ser editada
pelo órgão estadual, portanto, subordinado ao DIP – responsável pelo controle e difusão da informação no Estado Novo –, invariavelmente carregava alguns aspectos políticos do governo
Vargas. O mais perceptível deles é o colaboracionismo com a “política da boa vizinhança”, já que o periódico circulava em vários países da América e abria espaço para cartas de leitores
dos Estados Unidos, México, Argentina, Cuba, Colômbia, Venezuela, Chile e Uruguai. Além disso, estampava em sua primeira página a frase de Getúlio: “O verdadeiro sentido da brasilidade é
a marcha para o Oeste” (1938), que indicava um projeto de integração nacional apoiado no modelo das Bandeiras, como Cassiano defendia em sua obra “Marcha para o Oeste: a influência da
bandeira na formação social e política do Brasil” (1940).
Trópico
TRÓPICO: revista de cultura e turismo. São Paulo, ano 1, n. 1, abr. 1950.
TRÓPICO: revista de cultura e turismo. São Paulo, ano 1, n. 8, maio 1951.
Fundação: 1950
Periodicidade/Duração: 8 números com periodicidade indeterminada, de abr. 1950 a maio 1951 (números e datas incertos).
Nomes relevantes: Paulo Fradique Santana (diretor responsável), Rui Bloem (diretor), José de Barros Martins (diretor), Florestan Fernandes, Tarsila do Amaral,
Nuto Sant’Anna, Lina Bo Bardi, Sérgio Milliet, Milton Dacosta, Roger Bastide, Maria Leontina, Jamil Almansur Haddad.
Idealizador: desconhecido; Divisão de Expansão Cultural do Departamento de Cultura da Secretaria de Educação e Cultura da Prefeitura do Município de São Paulo
Resumo: Publicação editada pelo Departamento de Cultura da cidade de São Paulo trazendo reportagens, ensaios, críticas e resenhas tratando das mais variadas faces da produção cultural
produzida ou entendida na capital paulista. O periódico buscava aliar o turismo e a cultura por meio da divulgação do teatro, da música, da arquitetura, das artes plásticas, da cultura
popular, da literatura e das ciências humanas. A arte e a informação se aliavam como um guia de turismo para a cidade de São Paulo.
Ficha Técnica/Datasheet
Colecionadores/Collectors: Ivani Yunes e/and Jorge Yunes (in memoriam)
Presidente CIJY/President: Beatriz Yunes Guarita
Curadoria, Pesquisa e Textos/ Curatorship, Research and Texts: Francis Melvin Lee, Mariana Motta and Renata Rocco
Preparação das obras CIJY/ Preparation of works: Roseli Klapp Zimmermann
Administração CIJY/Administration: Rodrigo Takano e/and Andréa Brandão
Agradecimentos
Jorge Yunes (in memoriam)
Ivani Yunes
Beatriz Yunes Guarita
Carmo Guarita
Regina Silveira
Tainan Azimovas
Glória Motta
IPEN - Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares
Odyr Ferraretto (in memoriam)
Marinês Dias Ferraretto
Rodrigo Takano
Solange Volpe Cassiolatto