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REGINA SILVEIRA: OUTROS PARADOXOS
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Regina Silveira é uma das maiores artistas brasileiras de sua geração. Reconhecida internacionalmente por seu trabalho e sua trajetória como artista, pesquisadora e professora, teve participação ativa na história institucional do MAC USP em diferentes momentos. Além disso, foi protagonista nos debates sobre a arte como forma de conhecimento, por ocasião da abertura do primeiro programa de pós-graduação em artes visuais do País, criado pela Universidade de São Paulo em 1974.

Em 2019, o MAC USP recebeu uma doação de 42 obras da artista em parceria com a Luciana Brito Galeria, complementando o conjunto significativo de sua produção que o Museu já possuía. Para marcar essa importante doação, apresentamos a exposição retrospectiva Regina Silveira: Outros Paradoxos. O título refere-se ao Paradoxo do Santo, uma das obras da artista incorporada ao acervo do museu em 1994, mas principalmente à inquietação característica de sua atitude questionadora diante da vida e da arte. Nesta mostra, há gravuras produzidas ainda na década de 1960, quando a artista era uma jovem recém-formada no Instituto de Artes da UFRGS em Porto Alegre, experimentações com apropriação de imagens e videoarte dos anos 1970, além de propostas de intervenções urbanas e algumas de suas instalações mais recentes. A exposição oferece, também, a possibilidade de cotejar as obras com os esboços e projetos que lhes deram origem ou mesmo com alguns dos estudos realizados por meio de maquetes. O conjunto completa-se com vitrines de documentos e vídeos de cunho informativo.

A exposição pretende, ainda, chamar atenção para certos aspectos da produção de Regina Silveira que o formato de retrospectiva contribui para evidenciar. Primeiramente, a dimensão política é uma característica marcante das obras da artista integrantes do acervo do MAC USP, reforçada pela recente doação. Seu modo de problematizar a realidade à sua volta não passa pela abordagem de assuntos explicitamente políticos, ou pelo uso de imagens panfletárias. Ela trabalha nas entrelinhas, em aspectos aparentemente banais, mas reveladores das tensões e contradições sociais. Um exemplo disso são as obras em que Silveira se apropria de imagens fotojornalísticas, como na série “Middle Class & Co.”, onde uma massa humana aparece compartimentada dentro de formas geométricas.

Outro elemento que merece atenção é a questão de gênero. Silveira tem sido capaz de romper com as barreiras do reconhecimento artístico que frequentemente privilegia os artistas homens de sua geração. Ao realizar obras de grandes dimensões destinadas ao espaço público, ela dá visibilidade à presença feminina na arte por meio de sua capacidade de projetar e mobilizar o circuito da arte, no Brasil e no exterior, para a execução de suas propostas. Nesse sentido, é notável também o modo como a artista atualiza técnicas e materiais ao longo de sua trajetória, adaptando seu processo criativo diante de múltiplos desafios, entre os quais o uso das novas mídias, da década de 1970, e mais recentemente dos processos digitais. A artista entra assim em um terreno que tem sido, para a historiografia da arte, entendido como masculino: o projeto. Ela trabalha desde a ideia, passando por todas as etapas de realização, processo fundamental para o desenvolvimento de suas proposições artísticas.

Por fim, cabe-nos destacar em sua obra a recorrência à perspectiva, utilizada como paródia, muitas vezes referida às proposições do artista francês Marcel Duchamp. Os questionamentos sobre os códigos de representação, os jogos de luz e sombra, os limites entre arte e não-arte, bem como a ironia estão presentes de diferentes modos em suas obras. Experiências com a anamorfose, por exemplo, foram a base do álbum “Anamorfas”, sua dissertação de mestrado desenvolvida dentro da então recém-criada linha de pesquisa Poéticas Visuais do Departamento de Artes Plásticas da ECA USP. Elas são desdobramento do interesse da artista pela percepção visual e o fenômeno das distorções derivadas do ponto de vista. Sombras distorcidas de objetos do cotidiano – como, pente, serra, garfo e martelo – quando sobrepostas a outros objetos do cotidiano, ajudam Silveira a criar associações inusitadas. Já as sombras, dispostas como extensões impossíveis de figuras que representam o poder, sugerem que os utensílios são perigosos ou mesmo armas mortais.

Esta retrospectiva integra a rede de expansão da 34ª Bienal de São Paulo, uma parceria do MAC USP com a Fundação Bienal de São Paulo, e reinaugura o anexo expositivo do museu que passou por uma reforma de readequação de seu piso em 2018-2019. Este espaço, ideal para projetos site specific e instalações e obras de grande porte, está voltado para a experimentação artística. Reinaugurá-lo com Regina Silveira é reafirmar este caráter, próprio de um museu universitário público.

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REGINA SILVEIRA: OTHER PARADOXES
[português]

Regina Silveira is one of the greatest Brazilian artists of her generation. Internationally recognized for her work and her career as an artist, researcher and teacher, Silveira actively participated in MAC USP’s institutional history at different times. Moreover, she became a prominent figure in debates about art as a form of knowledge after the University of São Paulo opened the first Graduate Program in Visual Arts in Brazil, in 1974.

In 2019, MAC USP received the donation of 42 works by the artist in partnership with Gallery Luciana Brito, completing a significant set of her production in the museum’s collection. To mark this important donation, we present the retrospective exhibition Regina Silveira: Other Paradoxes. The title refers to The Saint Paradox, one of the artist’s works incorporated into the museum’s collection in 1994, but mainly to Silveira’s characteristic restlessness in questioning life and art. This exhibition presents engravings produced in the 1960s, when Silveira was a young woman recently graduated from the Institute of Arts of UFRGS in Porto Alegre, her experiments with image appropriation and video art from the 1970s, as well as proposals for urban interventions and some of her most recent installations. The exhibition also offers the possibility of comparing many of the works with the sketches and projects they originate from, or even with some of the spatial studies made with scale models. The visit experience is rounded out with document showcases and informative videos.

This exhibition also seeks to draw attention to certain aspects of Regina Silveira’s production that are further enhanced by the retrospective format. First, the political dimension is a remarkable feature of the artist’s works that are part of the MAC USP collection, reinforced by the recent donation received. Silveira’s way of problematizing her reality does not involve approaching explicitly political issues or using propagandistic images. She works between the lines, with aspects that, although seemingly banal, reveal social tensions and contradictions. As an example, we have the pieces in which Silveira appropriates photojournalistic images, such as the series “Middle Class & Co.”, where a human mass appears compartmentalized within geometric shapes.

Gender is another element deserving of attention. Silveira has been able to break through the barriers of artistic recognition that often favors the male artists of her generation. By performing large works designed for public environments, she assigns visibility to the female presence in art through her ability to design and mobilize the art circuit, in Brazil and abroad, for the execution of her proposals. The artist’s ability to update her techniques and materials throughout her trajectory is also remarkable, adapting her creative process in the face of multiple challenges, including the use of new media, starting from the 1970s, and more recently of digital processes. Silveira thus enters a field that, for the historiography of art, has been understood as masculine: the project. She works from the idea, going through all the stages of realization, a fundamental process for the development of her artistic propositions.

Finally, we highlight in her body of work the recurrence of perspective used as parody, often referring to the propositions of French artist Marcel Duchamp. Questions about the codes of representation, the games of light and shadow, the boundaries between art and non-art, and irony are present in different ways in Silveira’s works. Experiments with anamorphosis, for example, were the basis for the album “Anamorfas”, her master's thesis developed within the then newly created Visual Poetics research line of the Department of Fine Arts of ECA USP. They are an unfolding of the artist’s interest in visual perception and the phenomenon of distortions derived from the point of view. Distorted shadows of everyday objects – such as a comb, saw, fork and hammer – when overlapped with other everyday objects, help Silveira create unusual associations. Shadows, arranged as impossible extensions of figures representing power, suggest that utensils are dangerous or even deadly weapons.

This retrospective is part of the expansion network of the 34th São Paulo Biennial, a partnership between MAC USP and the Fundação Bienal de São Paulo, and reopens the museum’s exhibition annex that underwent renovations to readjust its floor in 2018-2019. This space, ideal for site specific projects, installations and large works, is geared to artistic experimentation. To reopen it with Regina Silveira is to reaffirm such a character, proper of a public university museum.

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GALERIA

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FICHA TÉCNICA DA EXPOSIÇÃO

Regina Silveira: outros paradoxos
Idealização, realização e produção: MAC USP
Projeto Expográfico: Alvaro Razuk
Equipe: Daniel Winnik | Lígia Zilbersztejn
Iluminação: Juliana Pongitor e Ricardo Heder
Agradecimentos: Regina Silveira, Luciana Brito, Aline Mylius, Ana Helena Curti

Regina Silveira: other paradoxes
Idealization, execution and production: MAC USP
Expographic Project: Alvaro Razuk
Team: Daniel Winnik | Lígia Zilbersztejn
Lighting: Juliana Pongitor e Ricardo Heder
Acknowledgments: Regina Silveira, Luciana Brito, Aline Mylius, Ana Helena Curti

Apoio comunicação: Luciana Mendes, Giulia Bragaglia e Samuel Pereira de Souza (Bolsista PUB)
Estagiário curadoria: Iago Cerqueira
Fotografias: Emerson Simões

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