É um imenso prazer para o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo colaborar com o projeto e sediar o Prêmio Marcantonio
Vilaça no novo edifício do Museu. A satisfação é dupla: de um lado, trata-se de apoiar uma das mais marcantes iniciativas, envolvendo artistas
contemporâneos e seus curadores. Para celebrar dez anos de vida, comemorados o ano passado, o Prêmio enquanto instituição organizou uma
exposição panorâmica, com o resultado de seu incentivo a muitos artistas lançados recentemente no cenário contemporâneo brasileiro, sob
curadoria de vários olhares, assim como artistas em meio de carreira, além de uma homenagem especial a Amélia Toledo. É esta a exposição que o
MAC USP apresenta em seu espaço anexo. Por outro lado, a satisfação está no próprio título e razão primeira da existência do próprio Prêmio: a
referência ao colecionador e marchand Marcantonio Vilaça. Seu nome é um marco, não apenas dentro da coleção contemporânea do MAC USP, um
comodato que se estabeleceu a partir de 1992 e hoje leva seu nome, como também na arte brasileira como um todo.
Marcantonio Vilaça é figura-chave na construção do que se passou a chamar de o processo de internacionalização da arte contemporânea
brasileira, que acontece particularmente a partir da década de 1990. Nascido em Pernambuco, ele se formou em Direito, mas sempre teve os pés
plantados no solo da arte e um enorme respeito à cultura. Já aos 15 anos, adquiriu a primeira obra de sua coleção que se construiria até o
final da vida. Mas foi no início dos anos 90 que seu encantamento pela arte tomou corpo até o ponto em que ele abandonou seu antigo cargo numa
empresa da família para se tornar galerista. Primeiro abriu uma galeria em sua terra natal. Depois, em 1992, em plena era Collor, na Vila
Madalena, então bairro jovem e alternativo de São Paulo, inaugurou sua galeria Camargo Vilaça, ao lado da sócia Karla Camargo. Aquele espaço
se tornaria o emblema de um novo momento para a arte no Brasil, atraindo um grupo cada vez mais amplo de espectadores e colecionadores.
Lembro-me da dedicação do marchand ao explicar a obra e a carreira de seus artistas para pessoas não-iniciadas que visitavam a galeria.
Marcantonio Vilaça parecia de fato incansável. Sua ideia era investir em exposições de primeira linha na galeria, bem como também divulgar
obras e artistas para indivíduos e instituições no Brasil e no exterior. Seguindo um padrão que uniu seu gosto pessoal a um desejo de
acompanhar os acontecimentos contemporâneos, seguindo abússola de seu tempo na arte, Marcantonio Vilaça apostou em um time de artistas formado
por nomes, tais como: Daniel Senise, Beatriz Milhazes, Lia Mena Barreto, Luiz Zerbini, Valeska Soares, Jac Leirner, Leda Catunda, Mira
Schendel, Ernesto Neto, Adriana Varejão, Rosângela Rennó e Vik Muniz.
O Acervo MAC USP, em sua grande parte, formado por doações privadas é um dos mais importantes da América do Sul. Por esse motivo recebeu de
Marcantonio Vilaça, entre os anos de 1989 e 1990, um comodato de cerca de 50 obras constituído por esses nomes – hoje referenciais, inclusive
no panorama internacional. Desde então, as obras colecionadas por Marcantonio têm sido consistentemente exibidas em muitas exposições do museu.
E eis que agora estabelecem uma conversa profícua com a mostra comemorativa do Prêmio que leva seu nome.
Katia Canton
Vice-diretora MAC USP
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