20 SET 2014 - 26 JUL 2015
Entrada Gratuita

 

Flieg fotógrafo
Indústria, design, publicidade, arquitetura e arte na obra de Hans Gunter Flieg

Calculadora Logos 270, Olivetti, Guarulhos-SP, 1974

Hans Gunter Flieg no Museu de Arte Contemporânea da USP

A história da fotografia moderna no Brasil ainda apresenta segmentos pouco estudados e mal conhecidos como é o caso da produção voltada à indústria, à arquitetura, ao design e à publicidade. O nome de Hans Gunter Flieg desponta nesse contexto por seu caráter pioneiro e pela excelência de sua contribuição para a profissionalização dessas áreas no Brasil nas quais atuou durante cerca de quatro décadas. Imigrante alemão de origem judaica, Flieg chegou ao Brasil em 1939, instalando-se na capital paulista, que nas duas décadas seguintes passaria por um processo de intenso desenvolvimento econômico e industrial. Foi, portanto, em um mercado de trabalho emergente que Hans Gunter Flieg deu início a suas atividades como fotógrafo, colocando-se a serviço de um empresariado que logo passaria a investir no campo da arte como forma de construir para si uma nova identidade cultural.

A prosperidade do pós-guerra no Brasil, especialmente no Estado de São Paulo, resultou na criação de importantes instituições culturais: Museu de Arte de São Paulo (1947), Museu de Arte Moderna de São Paulo (1948) e Bienal de São Paulo (1951). Não por acaso, Hans Gunter Flieg, que desde 1945 havia se estabelecido como fotógrafo profissional, seria comissionado para registrar também as atividades do circuito artístico paulistano na primeira metade da década seguinte. A documentação da primeira Bienal de São Paulo, que produziu a convite de Cicillo Matarazzo, foi seu primeiro trabalho na área. Destacam-se aqui os registros da demolição do belvedere do Trianon para dar lugar ao pavilhão da Bienal e dos espaços de exposição e obras, muitas das quais passariam mais tarde a integrar o acervo do MAC USP.

O mesmo rigor com que fotografava peças e maquinários industriais foi aplicado por Hans Gunter Flieg ao registro da Unidade Tripartida, obra de Max Bill, premiada na primeira Bienal de São Paulo. A escolha precisa do ponto de vista, os contrastes de luz e sombra, as alternâncias entre reflexos e opacidades, permitem ao observador ter uma percepção quase tátil da escultura, em que pese o caráter bidimensional da cópia fotográfica. Não estamos diante de um simples registro, mas de uma interpretação da obra por meio da fotografia. Flieg nos ensina a deslizar os olhos pela superfície contínua da peça e enfatiza as conexões entre arte e tecnologia propostas por Bill, sem nos deixar esquecer da ligação indissociável que se estabelecera naquele momento no Brasil entre o capital industrial e o capital simbólico representado pelas artes.

Por fim, cabe mencionar que o edifício projetado por Oscar Niemeyer para as comemorações do IV Centenário da cidade de São Paulo, ocupado agora pelo MAC USP, é particularmente adequado para abrigar uma ampla retrospectiva de Hans Gunter Flieg, cujo acervo encontra-se hoje preservado no Instituto Moreira Salles, organizador com o MAC USP da presente exposição. O reencontro entre a produção fotográfica de Flieg e um dos lugares que melhor encarnou o ideário modernista na capital paulista é a oportunidade de refletirmos criticamente sobre o legado da fotografia moderna tomada, a um só tempo, enquanto atividade prática e projeção utópica.

Helouise Costa - Docente e curadora do MAC USP





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