9 NOV 2013 - 5 MAR 2017
Entrada Gratuita

Julio Plaza Indústria Poética


O artista espanhol Julio Plaza (1938-2003) atua de maneira intensa no meio acadêmico paulista a partir de 1973 , quando se muda definitivamente para o Brasil. No Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo ( MAC USP ) , sua obra encontra-se mais em ideias e projetos do que na coleção de obras de arte convencionais.

Suas investigações pioneiras , assim como sua atividade docente relacionam arte, tecnologia e comunicação. As exposições que organiza na década de 1970 e início da década seguinte, muitas em parceria com Walter Zanini, primeiro diretor do Museu, são precursoras de outros circuitos de circulação artística.

A rede como geradora de exposições é um partido curatorial trazido para o Brasil por Julio Plaza da Universidade de Porto Rico , onde está como artista residente entre 1969 e 1973. Ali organiza Creation/Creación (1972), uma das primeiras exposições de arte postal que se tem notícia no mundo. Para essa mostra reúne uma extensa lista de contatos internacionais que será de grande valia para exposições que se seguem , culminando nas mostras organizadas em parceria com Water Zanini no MAC USP, em especial Prospectiva'74 e Poéticas Visuais , 1977. Mais tarde, colabora novamente com Zanini no Núcleo de Arte Postal da Bienal de S. Paulo de 1981 e também nas mostras Novos Media , Videotexto na 17ª Bienal (1983). Tais exposições pautam-se no princípio da comunicação ilimitada, multimídia fora do mercado e da censura. Tais táticas tornam possível ao MAC USP angariar, naqueles anos difíceis, a mais importante coleção pública de arte conceitual internacional da América do Sul.

Em diálogos transnacionais , Julio Plaza constrói laboratórios de linguagens e traduções intersemióticas e nessas trocas artísticas antevê-se uma espécie de rede construída numa era pré-internet.

Este conjunto heterogêneo de papéis preserva o testemunho de uma ação radicalmente crítica ao circuito artístico e ao mercado de arte.

O desenho industrial e a comunicação visual solidificam-se no repertório de Julio Plaza em sua passagem pelo Brasil, entre 1967-69, quando frequenta a ESDI Escola Superior de Desenho Industrial) , no Rio de Janeiro. Esse rumo tornar-se-ia ainda mais significativo com o encontro com os integrantes do grupo Noigandres (Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari).

Implicado na visibilidade de um programa experimental do MAC USP , Julio Plaza é responsável pelo design das peças gráficas, cartazes, folhetos do Museu entre 1974- 1977.

A publicação é um laboratório de linguagem para Julio Plaza e representa uma possibilidade efetiva de experimentação intermídia (para usar a expressão do artista Fluxus Dick Higgins) e de intervenção política, especialmente pela abertura de canais não-oficiais de comunicação e exposição artísticos.

A reprodutibilidade das revistas e publicações sugere canais de distribuição em diferentes circuitos para atingir distintos públicos. As publicações coletivas em que colabora como: Código , On Off e Corpo Estranho são significativas dessa espécie de guerrilha cultural.

Na subversão dos lugares da legitimação e da distribuição da informação/produção artística vigora a ideia de rede como princípio gerador dessas proposições coletivas distribuídas em circuitos alternativos ao mercado.

Pelas edições S.T.R.I.P. acrônimo de (Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Plástica ou Poética), por exemplo, Julio Plaza publica Poética Política (1977), Reduchamp (1976), entre outros.

Da fotografia e do vídeo à telemática, passando pelo videotexto e pela holografia, sua investigação artística indaga o trabalho da percepção e os limites dos dispositivos tecnológicos de tradução na arte. Seu trabalho expande-se nas publicações em especial a partir de sua colaboração com o poeta concreto Augusto de Campos e com a artista Regina Silveira.

As publicações combinadas com as exposições tornam com frequência equivalentes, na obra de Julio Plaza, o curador e o editor. Ver e ler, amalgamados, concretizam a ideia de criar novos meios e outros públicos para distintas leituras e espaços. Em meios reproduzíveis seu pensamento analógico e de colaboração, também trata de reunir o Oriente e o Ocidente, signos verbais e não verbais, textos teóricos e poéticos. Tais operações artísticas reunidas nesta exposição podem ser consideradas amostras de uma particular indústria poética.

Cristina Freire
Curadoria





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