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Seminário: Intersecções entre Arte e Ciência – Debates Contemporâneos

26 NOV 2022, sábado, das 10 às 16h
Não é necessário inscrição prévia

Proponentes: Prof. Andrzej Herczynski (Boston College, EUA), Manoel Veiga (artista), Prof. Heloisa Espada (MAC USP)
Local: Auditório Walter Zanini (MAC USP)
Evento financiado pela National Science Foundation, Estados Unidos, e pelo Isaac Newton Institute for Mathematical Sciences, Inglaterra.
Evento com tradução simultânea e emissão de certificado.

Apresentação

Os objetos de arte estão condicionados aos processos físicos nos quais são criados. Desenhos à lápis, giz ou caneta, pinturas feitas com pincel ou tinta derramada, esculturas realizadas com cinzel, faca ou metal fundido – para citar apenas as formas de produção mais antigas e convencionais –, todas envolvem técnicas habilitadas e limitadas pela física e pela química. Procedimentos matemáticos, como alguns da geometria e da topologia, vem sendo usados para a criação de obras as mais diversas. E para além de técnicas específicas, as ciências e a matemática influenciam a arte, nos campos filosófico e conceitual.

O mini-seminário internacional Intersecções entre arte e ciência – debates contemporâneos reunirá um grupo de físicos e matemáticos internacionais, o artista Manoel Veiga e pesquisadores da USP para debater pesquisas recentes envolvendo o campo da mecânica dos fluídos, da topologia geométrica e da inteligência artificial e suas relações com as artes visuais.

A proposta surge como uma programação paralela à exposição Manoel Veiga: cartografias de mundos inexistentes, que estará em cartaz no MAC USP de 22 de outubro de 2022 a 29 de janeiro de 2023. Em suas pinturas, o artista manipula diretamente fenômenos naturais como a difusão, em conexão com o campo da dinâmica dos fluidos. Nas séries fotográficas, Veiga ora manipula imagens da NASA, ora aciona conceitos da astronomia para reconectar a pintura barroca de Caravaggio com a ideia de cosmos.

A partir desses interesses, Manoel Veiga vem mantendo diálogo com físicos e matemáticos de diversos países. O artista integra o comitê científico consultivo do projeto Exploring the Intersection of Mathematics, Science and Art, sob coordenação de Andrzej Herczynski, professor e pesquisador no Departamento de Física do Boston College (EUA), financiado pela National Science Foundation (EUA) e pelo Isaac Newton Institute for Mathematical Sciences (Cambrigde, Inglaterra) que também apoiarão este projeto.

Nosso objetivo é adensar o debate em torno da exposição Manoel Veiga: cartografias de mundos inexistentes e inserir o MAC USP num debate internacional atualizado sobre arte e ciência envolvendo o diálogo sinérgico entre matemáticos, físicos, neurocientistas, artistas visuais e historiadores da arte.

PROGRAMA DO SEMINÁRIO – 26 de novembro de 2022

MESA 1

10:00 às 10:40 – Andrzej Herczynski (Boston College, EUA)
10:40 às 11:00 – Debate
11:00 às 11:40 – Ton Marar (ICMC – USP)
11:40 às 12:00 – Debate
Mediação: Rogério Monteiro (EACH USP)

12:00 às 14:00 – Intervalo para almoço

MESA 2

14:00 às 14:40 – Romuald Janik (Jagiellonian University, Polônia)
14:40 às 15:00 – debate
15:00 às 15:40 – Manoel Veiga (artista, São Paulo)
15:40 às 16:00 – debate
Mediação: Heloisa Espada (MAC USP)

RESUMOS

Da representação ao uso de fluidos na arte
Andrzej Herczynski

A água aparece na arte grega e romana antiga, em vasos, afrescos e mosaicos de peixes nadando ou barcos a remo ou a vela que atravessam o mar. Começando na Idade Média, imagens de água em movimento, ondas, cachoeiras e vinho ou leite sendo derramados de vasos, aparecem em paisagens e cenas domésticas. Mestres do Renascimento italiano e flamengo se esforçaram para representar a natureza com a máxima atenção aos detalhes e foram capazes, quando o assunto assim o pedia, de capturar a dinâmica dos fluidos com uma precisão surpreendente. A inclusão de efeitos fluidos também permitiu que os artistas transmitissem a ideia de movimento no meio estático da pintura ou escultura. No entanto, a representação convincente de fluxos de líquidos, especialmente oscilatórios ou turbulentos, permaneceu um desafio. A invenção da arte não figurativa se mostrou libertadora, levando os pintores expressionistas abstratos a adotarem fenômenos fluidos reais – jatos, pingos, sprays e instabilidades de pigmentos líquidos – no seu processo criativo. Esta palestra oferece uma breve revisão da busca para a representação dos fluidos de forma natural e a tática alternativa de artistas modernos que aprenderam a usar a tinta como fluido, dotando suas abstrações com os próprios padrões da natureza.

Uma jornada lúdica pela topologia geométrica
Ton Marar

Iniciaremos com uma descrição da geometria axiomática de Euclides, aquela que um dia todos tiveram contato na escola. Em seguida, faremos uma breve descrição do programa criado por Felix Klein para introduzir geometrias em um dado espaço de objetos. A topologia geométrica é então definida como um tipo de geometria. Através de vários exemplos, descreveremos a classificação topológica de objetos unidimensionais e bidimensionais. Ao final, utilizaremos a classificação topológica das superfícies para obter um outro nível de entendimento de uma importante obra de arte.

Todos os tópicos serão apresentados de maneira informal, sem tecnicalidades e dirigidos a todos os interessados em geometria.

Estética e representações de imagens de redes neurais
Romuald A. Janik

Nesta palestra, descrevo uma ligação surpreendente entre as propriedades estéticas das imagens percebidas pelos humanos e suas representações codificadas nos parâmetros de uma rede neural generativa profunda. As redes neurais generativas profundas convencionais são ensinadas a gerar novas imagens fotorrealistas quando treinadas no ImageNet, um conjunto de dados de cerca de um milhão de fotografias do ambiente natural e humano. Para gerar novas imagens, o conhecimento sobre o mundo fotorrealista é codificado nos pontos fortes de mais de 55 milhões de conexões neuronais na rede neural. A pesquisa apresentada trata do entendimento de algumas propriedades desta codificação. Nesta palestra, descrevo o que acontece quando as forças das conexões neuronais são perturbadas aleatoriamente de várias maneiras. Em muitos casos, as redes perturbadas geram imagens que parecem uma “rendição artística” dos objetos originais, mesmo que nenhuma das redes neurais tenha qualquer contato com a arte feita pelo homem. Outra forma de modificar as redes neurais, perturbando uma parte semântica profunda da rede, leva a imagens que podem ser interpretadas como uma espécie de representação visual simbólica. Os experimentos realizados nesses estudos levam a questões intrigantes sobre a arte e seus fundamentos biológicos e culturais.

Como a ciência informa meu trabalho
Manoel Veiga

Conexões entre arte e ciência estiveram sempre presentes em meu trabalho artístico que explora as noções de espaço e tempo, gerando novas relações e cruzamentos entre suas formas de representação nos dois campos. Sendo formado em engenharia eletrônica com passagem intensa de 4 anos pela física durante a graduação, falarei sobre como esse conhecimento reemergiu, anos depois da minha opção de mudança profissional par a arte, e gerou o núcleo básico de minhas pesquisas e inquietações artísticas. Nas pinturas, fenômenos da natureza (difusão, gravidade, etc.) são usados como ferramentas. Não há a tradicional metáfora para o mundo natural mas um curto-circuito de significados. Através dos fluxos reais de cor temos uma inevitável experiência espaço-temporal. Na série fotográfica Hubble, o ponto de partida é a apropriação de imagens do cosmos que são trabalhadas em programa de edição onde é criado novo espaço fictício, poético, com relações inventadas entre porções diferentes do universo. Na série Matéria escura, também fotográfica, o ponto de partida são imagens das pinturas de Caravaggio, uma referência para mim pelo seu uso do espaço. As cores são eliminadas e é apagado tudo menos roupas e panejamentos que ganham conotação de tecido cósmico.

MINI-BIOS

Andrzej Herczynski é Professor Pesquisador no Departamento de Física do Boston College (EUA). Ele foi educado na Universidade de Varsóvia (MS em matemática 1980) e em Lehigh University (Ph.D. em física 1987).

Sua pesquisa tem sido em dinâmica de fluidos e matemática aplicada, incluindo ondas em ambientes complexos. Ele também tem trabalhado nas conexões entre as ciências naturais e as artes, e tem colaborado com o Honnors Program do Boston College. Em 2007, ajudou a organizar a exposição “Pollock Matters” no Museu de Arte McMullen no Boston College, e foi coautor de dois ensaios para o catálogo. Ele publicou sobre a física da técnica de pintura de Jackson Pollock, incluindo artigos no Physics Today e no Art Bulletin, e desde 2015 ministra o curso interdisciplinar “A Arte da Física” na Universidade de Parma e BC. Em 2017, foi o principal organizador do programa sobre “Crescimento, Forma e Auto-Organização” no Instituto Isaac Newton em Cambridge, Reino Unido, que incluiu a exposição “Forma na Arte: Arte da Forma”. Projetos recentes e atuais incluem “Cadernos de Paul Klee” e “Matemática e padrões fractais na música”.

Heloisa Espada é professora da Divisão de Pesquisa em Arte, Teoria e Crítica do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo.Possui graduação em Educação Artística (1997) pela Universidade do Estado de Santa Catarina; Mestrado (2006) e Doutorado (2011) em Artes, na linha de pesquisa História, Teoria e Crítica da Arte, pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Concluiu pesquisa de pós-doutorado junto ao Programa de Pós- graduação em Estética e História da Arte do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, em 2016. Suas pesquisas estão voltadas, sobretudo, para as relações entre arte e fotografia no Brasil, nos séculos XX e XXI, e para a produção artística brasileira no segundo pós- guerra. Atuou como curadora de artes visuais do Instituto Moreira Salles entre 2008 e 2022.

Manoel Veiga nasceu em 1966, em Recife (PE). Graduado em Engenharia Eletrônica pela UFPE, em 1994 dedica-se às Artes Plásticas. Estudou na Escola Nacional Superior de Belas-Artes e na Escola do Louvre em Paris, França.

Realizou mostras em instituições e galerias pelo Brasil e exterior. Destaque para Familie Montez Kunstverein em Frankfurt e Galeria Dengler Und Dengler em Stuttgart (Alemanha); MAC USP, Galeria Nara Roesler, Paço das Artes e Instituto Tomie Ohtake em São Paulo; Galeria D’Est et D’Ouest, em Paris (França); Museu Oscar Niemeyer e MAC Paraná, em Curitiba; MAMAM e Fundação Joaquim Nabuco, em Recife; MAC Sorocaba; MAC Goiás, Centro Cultural Parque de Espanha em Rosario (Argentina).

Tem obras em coleções públicas como MAC USP São Paulo (SP), Museu Oscar Niemeyer e MAC Paraná, em Curitiba (PR), Fundação Joaquim Nabuco e MAMAM, em Recife (PE); MAC Goiânia (GO); MAC Sorocaba (SP).

Rogério Monteiro é professor do Programa de Pós-graduação em Estudos Culturais da EACH- USP. Formado em Matemática pela Universidade de São Paulo (2001 e 2003), doutor em Matemática pela Universidade de Campinas (2006), e estágio pós-doutoral em História da Matemática na Universidad de Sevilla, Espanha (Inverno de 2008). Desde 2007, é professor da Escola de Artes Ciências e Humanidades, da Universidade de São Paulo, lecionando disciplinas na área de história da ciência e matemática. Atualmente, desenvolve e orienta pesquisas sobre a história social e sociologia do conhecimento. Estuda a institucionalização e a profissionalização das ciências, a edição científica, e a circulação internacional de intelectuais e saberes. No momento, a geometria na Europa, da virada do século XIX para o XX, os estudos da teoria analítica nos anos 50 e 60 no Brasil, e as ciências matemáticas após o advento da República são seus temas de trabalho.

Romuald A. Janik nasceu em 1971 e é professor de física teórica na Universidade Jagiellonian na Cracóvia, Polônia. Obteve mestrado em Física em 1995, mestrado em matemática em 1996 e doutoramento em Física em 1997. Fez pós-doutoramento no Institute de Physique Theorique, Saclay, França e no Niels Bohr Institute em Copenhague. Posteriormente regressou à Cracóvia e tornou-se professor catedrático em 2011.

Trabalha principalmente em teoria de cordas e holografia, mas também em aprendizado de máquina. Este último domínio de pesquisa o levou a descobrir uma surpreendente interação entre a estética e as representações de imagens por redes neurais generativas profundas. Ele perseguiu esta relação também artisticamente com a exposição “Creatio ex Machina” e “Os mundos internos das redes neurais” em 2022 na Galeria Wozownia em Torun, Polônia.

Ton Marar nasceu em Bauru (SP), Brasil, em agosto de 1958. É filho de Issa Marar e Najla Rox Uzeizi Marar, imigrantes jordanianos. Após concluir o bacharelado em matemática no ICMC-Universidade de São Paulo, foi contratado para lá, iniciando a carreira docente em 1980. Iniciou o mestrado sob a orientação de Gilberto Loibel e o concluiu sob a orientação de Oziride Manzoli Neto, em 1983. Em 1989 obteve seu PhD na Universidade de Warwick, Inglaterra, sob a supervisão de David Mond. A Teoria das Singularidades é sua principal área de pesquisa./p>



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