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Para onde agora? Where to now? Aller où maintenant?


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Para onde agora? Where to now? Aller où maintenant?

Gabriela Albergaria

Em 2016, juntei-me à “Expedição Amazônia”, realizada por um grupo de cientistas que subia de barco o Rio Negro e o Rio Branco, como parte de um estudo amplo sobre a Amazônia coordenado pela botânica Lúcia Lohmann, e pelo ornitólogo Joel Cracraft.

Os objetivos científicos eram claros e a disciplinada rotina diária incluía saídas em pequenos barcos a motor para explorar as margens do rio e recolher as espécies definidas previamente para se proceder à sua catalogação.

Enquanto artista, a expedição obrigou-me a reposicionar-me e adaptar-me às condições da viagem. Decidi fazer as saídas matinais para recolha de plantas com a equipe. Assumi o papel de cientista. Recolhia as plantas, fotografava e desenhava e, durante a tarde, organizava o material que tinha recolhido nessa manhã.

Durante o processo científico de catalogação, fui observando que a cor e a forma iniciais das plantas são as duas características que se perdem mais facilmente. Qualquer herbário tradicional apresenta sempre as folhas secas (já com dimensões alteradas pela secagem) e sem a sua cor natural (também devido à secagem). O que eu quis acrescentar foi algo que esse processo não pudesse dar – e por isso fiz o meu próprio caderno de cores e dimensões das espécies.

Recolhi diversas sementes e, quando cheguei a São Paulo, mandei fazer moldes para depois transformá-las em objetos/esculturas. Organizei um arquivo com as fotografias. No estúdio, já em Nova York e, mais tarde, em Londres, iniciei o processo de transformação desses arquivos, em peças de arte.

Para onde agora? Where to now? Aller où maintenant? – a frase que dá o título desta exposição, encontrei no livro Direitos da Natureza, Ética biocêntrica e políticas ambientais, de Eduardo Gudynas. E é a pergunta que me faço após a expedição, repetida nas três principais línguas da colonização, e que se falam em lugares recônditos mesmo não sendo língua do povo do lugar.


Marta Bogéa

Gabriela Albergaria integrou a expedição científica ocorrida em 2016 intitulada “Expedição Amazônia”, coordenada pela botânica Lúcia Lohmann (Instituto de Biociências da USP) como parte de um estudo mais amplo, co-coordenado pelo ornitólogo Joel Cracraft (American Museum of Natural History, Estados Unidos). A viagem envolvia navegação pelo Rio Negro e Rio Branco com deslocamentos diários em pequenos barcos em direção às margens e à floresta para coleta de dados para entender a origem da diversidade biológica neste bioma, a maior biodiversidade do Planeta.

Aderindo o ritmo das jornadas e turnos coletivos nas expedições às margens durante as manhãs e todas as tardes na organização do material recolhido, produziu a maioria das obras aqui apresentadas. Envolvida com modos de percorrer, registrar e transformar jardins e poéticas visuais desde 1990, a expedição científica é marco inédito para a artista em relação aos procedimentos e rotinas ocorridas no barco laboratório. Habituais no Brasil desde o século XVIII, as expedições científicas com a participação de artistas, esperava naquele tempo, o compromisso de registro fidedignos de representações “reais”. Qual seria o papel do artista-viajante em tempos atuais com uma infinidade de máquinas capazes de registrar imagens e dados com tamanha precisão?

Entre cores, sementes, horizontes circulares, uma peça inédita, resultado de coleta de podas de árvores em São Paulo, recoberta em barro aponta para outras direções. O barro aqui é terra que potencialmente se beneficia dos restos das árvores para ser fértil, capaz de ser semeada. E como não reconhecer na peça rastros do trágico imaginário brasileiro recente, o colapso da terra contaminada por minério barragem rompida que recobriu nossas paisagens: já ruína ou nova germinação?

A artista apalpa o real, fabula certas miragens em precisa decantação, justapõe fidelidade e invenção. E ao final se pergunta: para onde agora? Certamente refere-se a pergunta de todos nós – diante de tamanha destruição da Terra, que faremos? Como interromper o colapso eminente? Albergaria se alinha a essa urgência para nos convocar poeticamente, sensibilizados a refrear essa tormenta.


Galeria

As obras selecionadas para a mostra podem ser agrupadas por três modos poéticos, resultantes de certos procedimentos comuns: sementes – que trazem em presenças vestígios do material recolhido; desenhos – que decantam em cores e formas a vivência das margens; matéria – que apresentam madeira processada e recoberta em potência fértil.

Sementes

Desenhos

Matéria