13 AGO 2016 - 11 DEZ 2016
Entrada Gratuita

 

Alex Flemming: RetroPerspectiva


Diversidade é o cerne de sua produção, justamente o que se destaca nesta retrospectiva desse já conhecido artista paulista, brasileiríssimo, como ele diz, Alex Flemming.

Desde o início de sua trajetória no final dos anos de 1970, quando ainda frequentava a FAU USP, Flemming defende a pesquisa e a constância como imprescindíveis às artes, assim como a ideia de conjugar, em seus trabalhos, as diferentes artes: pintura, fotografia, gravura, objetos, outros.

Pensando essas linguagens a partir de combinações, diversas e harmônicas, mormente utilizando-as de modo que tradicionalmente não as caracterizam, Flemming constrói seu percurso a partir de variações sequenciais. Não há regras, mas sim circulação, por isso as máscaras que recorta para produzir Múmias, série dos anos 1980, servem, ulteriormente, entre outras máscaras utilizadas em outros trabalhos, para construir fundos de outra série, no caso, Alturas, esta iniciada nos anos de 1990.

A circularidade de conceitos também é de sua produção. Natureza-morta, série de fotogravuras do final do decênio de 1970, denuncia tortura, a qual, metaforicamente, reaparece décadas depois no objeto intitulado Autorretrato em Auschwitz, agora como tormento do espírito. Tanto a série de gravuras feita a partir de fotografias, como o objeto, este feito de sapatos unidos por um único cabo de aço, são autorretratos, pois, em Flemming, sendo arte vida, a arte é lugar que também pode encenar estados da alma. Por isso, para explicitar sua produção nesta retrospectiva montada no MAC USP, optou-se por iniciá-la a partir de autorretratos, visto que, a partir deles, entende-se não só sua a trajetória autorreferente, assim como seus conceitos.

O Eu Só, autorretrato, é pintura sobre superfície não tradicional, prato, carteira, que evidencia o estado de espírito do artista quando ele fixou residência em Berlim, nos anos de 1990, mas o divã amarelo, também pintura em superfície não convencional, que se encontra em outro lugar da exposição, é crítica social feita a partir de escritos encontrados sobre a guerra em Bagdá.

As colagens com cartelas de remédios ou outros materiais plásticos que estão sobre folha de revista que traz a foto do artista é autorretrato que também indicia uma de suas pesquisas: o uso de materiais não artísticos para a confecção de suas obras. Essa prática, evidenciada entre seus autorretratos, pode ser vista em outros trabalhos da mostra, a exemplo, Yemanjá Hipocondríaca, pintura que também traz cartelas plásticas. Mas não só, pois, esta obra, além de referenciar trabalhos de colagens bastante experimentados pelo artista nos últimos anos, também relembra série dos anos de 1980, Anjos e Sereias, quando Flemming decide acrescentar em sua trajetória a proposta de elevar imagens populares, reproduzidas infinitas vezes, como São Jorge, Santa Cecília e outros "santinhos", à arte.

Muitos são os exemplos dessa circularidade, por isso, os autorretratos são, por assim dizer, obras que conduzem o visitante à compreensão de outras obras, de épocas diversas, ao mesmo tempo que indiciam a ideia de apropriação, reutilização, reconstrução, essenciais em Alex Flemming.

Mayra Laudanna
Curadora





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