31 AGO 2013 - 29 JAN 2017
Entrada Gratuita

Classicismo, Realismo, Vanguarda:
Pintura Italiana no Entreguerras


Classicismo, Realismo, Vanguarda: Pintura Italiana no Entreguerras
por Ana Magalhães

As 71 pinturas italianas aqui expostas, todas do acervo do MAC USP, constituem uma das mais importantes coleções de pintura moderna italiana da primeira metade do século XX fora da Itália – e até o estado atual da pesquisa, o único conjunto representativo em continente americano. Elas nos revelaram outra faceta do modernismo europeu, cuja experiência até então (e na leitura dos grandes manuais de história da arte) era muito focada no período vanguardista e no contexto da Escola de Paris, e têm sido objeto de pesquisa sobre a história da formação das chamadas Coleção Francisco Matarazzo Sobrinho e Francisco Matarazzo Sobrinho e Yolanda Penteado, sua relação com o acervo do antigo Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), e sua transferência para a Universidade de São Paulo, em 1963.

A pesquisa pretende desconstruir a leitura das coleções Matarazzo como coleções de gosto pessoal, escolhidas sem nenhum critério, e portanto sem uma relação legítima com a noção de arte moderna construída pelo debate crítico dos modernistas brasileiros. Adquiridas num intervalo de dez meses entre 1946 e 1947, essas pinturas formaram parte significativa do núcleo inicial do antigo MAM, e são testemunho da intensa troca entre o ambiente artístico modernista brasileiro e o italiano do entreguerras, bem como relações entre personagens tão importantes, naquele contexto, como o artista brasileiro Paulo Rossi Osir e a crítica de arte italiana Margherita Sarfatti. A pesquisa levou também à descoberta do engajamento de nomes, como o do galerista veneziano Carlo Cardazzo e de Pietro Maria Bardi nessas aquisições. Eles aparecem ligados à promoção da arte de seu País e da afirmação de sua identidade cultural, sua italianità , no contexto de uma política cultural de difusão da arte moderna italiana através da instauração de um sistema das artes lá e aqui. Assim, a mostra apresenta ainda dez pinturas de artistas brasileiros de nosso acervo, que dialogam com elas e são vestígio dessas relações. Junto a esse núcleo de obras brasileiras, selecionamos alguns volumes importantes da biblioteca de Paulo Rossi Osir, adquirida pelo MAC USP em 1963, sobre arte moderna italiana.

Em outra seção da mostra, apresentamos as primeiras análises que fizemos de dez pinturas da coleção italiana, com a colaboração do grupo coordenado pela Profa. Dra. Márcia Rizzutto do Departamento de Física Nuclear Aplicada do Instituto de Física da USP, usando técnicas não-destrutivas de análise física das superfícies das pinturas, que revelaram dados importantes para a documentação e histórico de conservação das obras. O que nos levou a buscar essa colaboração foi o fato de cinco pinturas da coleção estudada possuírem composições inteiras no verso, que também mostraram ser um fenômeno excepcional das práticas artísticas do período.

Em relação ao objetivo inicial da pesquisa, que era o da reavaliação crítica da catalogação desse conjunto de obras, trabalhamos em duas direções. De um lado, o catálogo da exposição procurou consolidar os dados que se encontravam entre as fichas catalográficas do antigo MAM e demais documentos de catalogação desse museu, e aqueles da ficha catalográfica em papel do MAC USP. De outro, estamos certos de que a ferramenta mais adequada para publicação do acervo do MAC USP em sua totalidade deve ser virtual: um catálogo online na página web do Museu. É por isso que buscamos a parceria do Prof. Dr. Flávio Soares Corrêa da Silva e de sua doutoranda Cláudia J. Abrão de Araújo, do Departamento de Ciências da Computação do Instituto de Matemática e Estatística da USP, que elaboraram um projeto piloto de ambiente virtual para a exposição dessas obras. Nele, pretendemos oferecer ao visitante outros instrumentos de leitura dessa coleção, que não seriam facilmente demonstráveis nas galerias do Museu.

A mostra pretende marcar o estado atual da pesquisa em torno dessas obras, que ainda estão abertas à investigação pontual – considerando-se que muitas delas são inéditas ou publicadas como sendo de localização desconhecida. Nesse sentido, a exposição dá conta de apresentar as primeiras pesquisas acerca de algumas obras – como no caso das pinturas de Gino Severini, objeto de dissertação de mestrado da bolsista Renata Dias Ferraretto Rocco, do Programa de Pós-Graduação Interunidades em Estética e História da Arte, do qual o MAC USP faz parte. Também contamos com a colaboração com uma pequena equipe de bolsistas e estagiários, que ao longo do trabalho de sistematização da documentação das obras, colaboraram com verbetes sobre algumas delas na exposição.

Com esses elementos, pretendemos propor uma nova leitura desse conjunto de obras e discutir sua pertinência no acervo do MAC USP, como vestígio de um momento de nossa história da arte moderna, que teve papel importante mesmo na década seguinte e na construção de nossas experiências de abstração.





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