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© 2011 Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo

HERVÉ FISCHER NO MAC USP
Arte Sociológica e Conexões

Cristina Freire
Curadora

 

Farmácia Fischer & Cia, Higiene da Arte , Arte e Comunicação Marginal mais do que ‘obras de arte' no sentido convencional são plataformas de ação, propostas e desdobradas por Hervé Fischer em sua trajetória que se orienta, há décadas, pela reflexão do lugar da arte e do pensamento plástico para além dos condicionantes ideológicos e mercadológicos em que se enredam.

Se o Coletivo de Arte Sociológica, que formou na França com Jean-Paul Thénot e Fred Forest teve vida curta (1974-77), na história da arte contemporânea, suas premissas são presentes na atualidade. Artistas e antropólogos estão associados quando se valem dos métodos clássicos de investigação das ciências sociais, incluindo as diferentes modalidades da pesquisa de campo, análises de índices econômicos, políticos e demográficos. Nada a estranhar se lembrarmos que a articulação de saberes está na agenda da arte desde, pelo menos, o fim do modernismo, com a derrocada dos pilares que o sustentavam como as noções de autonomia da arte e autenticidade de um objeto único, raro e caro.

As dificuldades encontradas, ainda hoje, para apresentar o trabalho de Fischer no Museu explicitam a resistência ativa que impõe à sua lógica e nos obrigam a rever, uma vez mais, os princípios que regem as práticas convencionais.

Os projetos e ações de Hervé Fischer registrados em fotografias, textos e relatos são índices de uma espécie de ausência no tempo e remetem, simultaneamente, ao passado e ao futuro. Do passado, fornecem as pistas para a reconstrução atual do que poderia ser essa ‘obra', que, necessariamente, escapa. Sobre o futuro, indicam que a contemplação deixa de ser a função primordial do museu e propõem outras possibilidades. Isto porque ler e ver encontram pontos de equilíbrio e equivalência na obra de Fischer. Seus textos teóricos, manifestos e livros atestam um pensamento que não se desvincula de sua prática e solicitam um esforço extra, outra disposição e atenção por parte do público.

Texto e imagens, documentos e obras, ações e projetos reinvestem o Museu como um espaço de trocas privilegiado, onde circulam outras ideias e representações, para além dos padrões e conteúdos impostos pela mídia, pela comunicação de massas e pelo mercado interessado no consumo rápido.

Essa exposição e a publicação que a acompanha registram a vinda de Hervé Fischer ao MAC USP para um ciclo de palestras, quase quatro décadas depois de sua primeira passagem pelo país. Trazem à tona a fecundidade e a generosidade de sua prática artístico-pedagógica assim como a potência de um pensamento divergente, ainda mais necessário e urgente no contexto de um museu público e universitário no Brasil.

 

 

Cristina Freir