Cristina Freire
Curadora

Redes alternativas de trocas de trabalhos artísticos envolveram artistas de diferentes países nas décadas de 1960-70. O correio era, naquele momento, o meio privilegiado nesse circuito de comunicação abrangente, alheio ao mercado de arte e aos desígnios dos centros artísticos hegemônicos. O MAC USP foi um dos destinos desse circuito alternativo naquelas décadas difíceis. Apesar da ditadura militar vigente no país, esse museu público e universitário tornou-se ponto de encontro para trabalhos enviados de todo o mundo. De suas exposições participaram muitos artistas europeus, sobretudo do Leste da Europa, que também buscavam, como os latino-americanos, estratégias para ir além da censura imposta pelos regimes ditatoriais. Essa mostra privilegia artistas latino-americanos e do leste da Europa que se valeram, direta ou indiretamente, da fotografia como registro de performances, ações e situações. Isso porque manter um laboratório fotográfico clandestino em casa era possível apesar da censura e repressão. As experiências artísticas, não raro, envolvendo o próprio corpo poderiam ser reveladas e facilmente distribuídas pelo correio. Nesse livre fluxo de trocas, o corpo e as ações de artistas, apartados pela geografia, apresentam táticas comuns de resistência simbólica, articulam arte e vida e revelam, ainda hoje, um instigante potencial utópico.

© 2011 Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo