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© 2011 Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo

MODERNISMOS NO BRASIL

Tadeu Chiarelli
Curador

O objetivo da mostra MODERNISMOS NO BRASIL é apresentar o “Modernismo Brasileiro” (1917-1948) a partir de uma postura que problematize a visão cristalizada da arte produzida no país durante o período. Neste sentido a mostra se adéqua aos estudos recentes que buscam desconstruir ou pelo menos atenuar a visão ainda hegemônica, como aquela presente no livro De Anita ao Museu .

A referência ao livro de Paulo Mendes de Almeida não é gratuita uma vez que foi a partir do surgimento em forma de livro daquele importante estudo (1976), que se consolidou a visão “exemplar” do que se convencionou chamar “Modernismo Brasileiro”: um fenômeno estético e artístico aflorado em São Paulo por uma necessidade individual (a produção do início da carreira de Anita Malfatti), desenvolvido praticamente sem conflitos, até tornar-se uma vontade coletiva, cuja realização maior teria sido a criação do antigo Museu de Arte Moderna de São Paulo (matriz do MAC USP).

Com parte das obras que compõem a coleção brasileira do MAC USP, esta mostra explicita que durante aquelas décadas não houve um modernismo no Brasil, e sim várias vertentes em que demandas estéticas e artísticas diversificadas muitas vezes se confundiam e/ou se combatiam, comprometendo o caráter unitário e heroico que um dia quiseram conceder à arte daquele período.

Como apoio para suscitar os debates esperados, as obras brasileiras escolhidas para esta exposição são apresentadas ao lado de peças internacionais também pertencentes à coleção do MAC USP. Focada no debate local, MODERNISMOS NO BRASIL, no entanto, ao colocar obras brasileiras em diálogo com a produção internacional, contribui para dar a dimensão da complexidade do que foi o fenômeno da arte produzida no país durante as primeiras décadas do século passado.

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Com o objetivo de sugerir outras possibilidades de apreciação das obras, MODERNISMOS NO BRASIL está dividida em blocos, sempre levando em conta a porosidade inerente à produção do período:

1. A arte como subjetivação do real;

2. A arte como suspensão do real aparente;

3. A arte como fuga do real aparente;

4. A arte como representação do real aparente/apresentação de seus limites;

5. A arte como apresentação de si/rompimento dos limites impostos pela tradição;

Para tal divisão – meramente instrumental, uma vez que a curadoria é consciente da resistência de toda obra de arte em adequar-se a qualquer catalogação – partiu-se das seguintes premissas: em primeiro lugar, o caráter experimental e, ao mesmo tempo, conservador dessas obras. A maioria das peças, mesmo atestando insatisfação com a tradição, não transgride os limites impostos por ela. Embora enfatizem a matéria, a bidimensionalidade do plano ou os volumes, as massas, e mesmo a própria ação aparentemente desenfreada sobre a matéria (deixando propositadamente à vista os índices dessa atividade), são ainda pinturas, esculturas, gravuras e desenhos. São, quase sempre, alegorias, retratos, paisagens e naturezas-mortas.

Dentro dessa insatisfação limitada pelo respeito à tradição que enfrentavam, percebem-se três eixos: no primeiro, aquelas obras que nos fazem entender o ato de criar como o espaço de emersão de alternativas à realidade circundante – quer criando outros mundos; quer denunciando as mazelas do mesmo – ou, simplesmente, dele se evadindo, projetando novas formas, em consonância com os limites da matéria e do suporte. Outras nos fazem compreender o ato de criar, simultaneamente, como afirmação/negação do entorno. Outras, ainda, nos fazem entender o ato de criar como espaço de afirmação do real e/ou como espaço para a transformação objetiva do mesmo.

Para melhor percepção dessas propostas, MODERNISMOS NO BRASIL reuniu todas as visões mais subjetivas da arte do período nos blocos referentes à “subjetivação”, “suspensão”, na “fuga” do real aparente e na “apresentação/representação do real”. Aquelas obras que desenvolvem a supremacia da forma objetiva até aquelas que rompem os estatutos das “belas artes”, foram reunidas em um único bloco.

Em todos os seguimentos, ganham protagonismo obras produzidas no Brasil, por artistas que aqui nasceram ou que aqui residiram. Não por considerá-los melhores e também não por um sentimento provinciano menor, mas apenas para que o visitante possa pensar a arte aqui produzida como mais um importante elemento constitutivo do debate artístico internacional – em que tanto as manifestações que um dia foram consideradas “derivativas”, quanto as pensadas como “matriciais” –, configuram um todo que precisa ser pensado sempre em relação umas com as outras.