|
|
Ele fez parte da turma de 1948 da Faculdade de Direito
da Universidade de São Paulo, a tradicional
escola das famosas arcadas do Largo de São
Francisco.
Flávio Galvão foi advogado do jornal
"O Estado de S.Paulo" e da "Rádio
Eldorado" durante a maior parte de sua vida
profissional. No jornal "O Estado de S.Paulo"
foi repórter, redator auxiliar, chefe de
noticiário local, subsecretário, secretário
interino e redator político. Além
dessas funções principais, o advogado-jornalista
exercia múltiplas outras atividades antes
de tornar-se professor de jornalismo.

"Captação da Notícia
e Acesso às Fontes de Informação".
ECA/USP, 14.09.1968, 36 pág. (Apostila).
|
Flávio
de Almeida Prado Galvão integrou
a diretoria do tradicional Centro Acadêmico
XI de Agosto como membro da Comissão
de Sindicância e, em 1949, foi delegado
do centro estudantil do congresso em que
se fundou a UEE - União Estadual
dos Estudantes. Era membro titular do Instituto
Historio e Geográfico de S.Paulo.
Preservação
das culturas locais era uma das suas maiores
e mais constantes preocupações.
Sempre transparente quanto às suas
convicções e idéias
políticas, era um democrata convicto,
chegando, às vezes, a levar suas
convicções ao extremo. Fora
dos muros da academia, Flávio Galvão
teve uma atuação política
que, na época, suscitava algum desconforto
entre seus colegas de redação
no jornal "O Estado de S.Paulo".
|
Provavelmente por sua origem familiar (ele descendida
de uma tradicional família paulista, os Almeida
Prado), e, depois, por sua atuação
enquanto pessoa de confiança da direção
do jornal, visto que exercia a função
de advogado da empresa, Flávio Galvão
possuía trânsito livre nas esferas
político-militares. Era amigo íntimo
de várias personalidades que fizeram a história
política de São Paulo e, mesmo do
Brasil.
Vale
registrar alguns fatos que constam da sua biografia
oficial. Exemplo: em 1965 "recebeu prêmio,
na casa do ex-governador Roberto da Costa de Abreu
Sodré, da União Democrática
Nacional paulista, pela cobertura jornalística
da convenção do partido que lançou
a candidatura do ex-governador Carlos Lacerda à
Presidência da República". Aliás,
Flávio Galvão deixa clara sua admiração
pelo jornalista Carlos Lacerda, não apenas
em seus artigos publicados pelo jornal "O Estado
de S.Paulo", como também em sua apostila
"Captação da Notícia e
Acesso às Fontes de Informação",
onde, na página 9 ao referir- se à
missão da imprensa, cita que "a este
respeito, merecem menção palavras
de outro grande jornalista brasileiro - quiçá
o maior de nossos dias - Carlos Lacerda." .
O
fato é que nos obituários de Flávio
Galvão, cita-se sua atuação
como professor da Universidade Mackenzie em 1982,
mas não na ECA/USP. Ele teria, ainda, ministrado
aulas na Faculdade de Direito da USP e abandonado
a escola pela obrigatoriedade de fazer o mestrado.
Porém, tal informação não
consta igualmente de seus obtuários publicados
pelo jornal em que atuou por quase 30 anos. Que
fora professor da ECA é informação
apenas de uma notícia dada pelo mesmo "O
Estado de S. Paulo" por ocasião de uma
homenagem que recebera da Aeronáutica, a
medalha da Ordem do Mérito Aeronáutico.
Flávio
Galvão integrou a primeira equipe de
professores da então chamada Escola
de Comunicações Culturais, denominação
original da Escola de Comunicações
e Artes atualmente. Foi selecionado mediante
concurso público de títulos,
realizado em 1966. O Departamento de Jornalismo
da então Escola de Comunicações
Culturais foi criado em 5 de fevereiro de
1968, tendo Flávio Galvão iniciado
suas atividades em março do mesmo ano
com as aulas da cadeira "Técnica
e Prática de Jornal periódico".
|
 |
Flávio Galvão (esq.) com
Barbosa Lima Sobrinho e Marques de Melo
|
O
departamento teve como diretor designado o professor
José Marques de Melo e Flávio Galvão
integrou o corpo docente como professor colaborador,
por não ser formado em Jornalismo, ao lado
de Freitas Nobre, Alfredo Weisflog, Hélcio
Deslandes e Francisco Morel.
Atendendo
a decisão da Comissão de Ensino, e
no sentido de estabelecer coordenação
com os outros órgãos da escola, o
Departamento de Jornalismo ministrou cursos monográficos
aos alunos de outros departamentos. Coube a Flávio
Galvão o curso "Jornalismo e Técnica
de Redação" para o Departamento
de Relações Públicas e "Jornalismo
no Período Entre Guerras" para o Departamento
de Estudos Históricos e Filosóficos
em conjunto com o professor Freitas Nobre.
Sob
a orientação de Flávio Galvão
foi realizada a pesquisa de campo denominada "Funções
de Direção e Secretaria na Grande
Imprensa Paulistana" e "Opinião
do Jornalismo Brasileiro - Análise de Conteúdo"
enfocando preferencialmente o Jornalismo Opinativo;
estudo realizado nos jornais diários das
principais capitais brasileiras.
Em
meados de 1970, Flávio Galvão participou
como debatedor do painel "O Jornalismo Sensacionalista
e a incidência na criminalidade, durante o
seminário "O Jornalismo Sensacionalista"
promovido pelo Departamento de Jornalismo coordenado
pelo professor José Marques de Melo. Esse
painel contou com a participação,
também como debatedores, do jornalista Freitas
Nobre e do acadêmico João Batista Natali
- os expositores foram Darcy de Arruda Miranda da
Universidade Mackenzie e Zuleika Sucupira, curadora
de menores.
Flávio
Galvão foi o primeiro editor da "Revista
da Escola de Comunicações e Artes"
da USP - Universidade de São Paulo. Em seu
primeiro número, de 1970, Flávio Galvão
relata o motivo principal da existência da
nova publicação e que ela vinha substituir
uma tentativa anterior - a "Revista da Escola
de Comunicações Culturais" -
que viveu apenas por duas edições,
uma em 1967 e outra em 1968. Flávio Galvão
justifica a alteração do nome da publicação
em função da mudança do próprio
nome da escola, elogia a direção e
deixa entrever que 1970 fora um ano de muitas novidades
para a ECA que, por exemplo, ganhara sede própria.
Não
se sabe exatamente quais foram os motivos que levaram
Flávio Galvão a se afastar da ECA
- Escola de Comunicações e Artes da
USP. Tudo indica, porém, que após
a reforma de 1969, os docentes sem formação
acadêmica em Jornalismo foram convidados a
elaborar a defesa de suas dissertações
para obtenção de titulagem de mestres
ou doutores, exigência sem a qual não
poderiam continuar a exercer a profissão
como jornalistas.
Consta
do relatório do departamento que o jornalista
Flávio Galvão estaria desenvolvendo
uma trabalho sobre Legislação de Imprensa,
tendo como professora-orientadora a professor Ester
de Figueiredo Ferraz, livre docente da faculdade
de Direito da USP a partir de 1969. Porém,
alguns professores pioneiros decidiram ingressar
na carreira acadêmica defendendo teses de
doutoramento, como foram os casos de Freitas Nobre,
Gaudêncio Torquato, Tjomas Farkas e José
Marques de Melo. Mas Flávio Galvão
preferiu não submeter-se a esse ritual, da
mesma forma que o fizeram Alfredo Mesquita, Rudá
de Andrade, Maria Luiza Monteiro da Cunha e Hélcio
Deslandes. Ao término de seu contrato como
professor-colaborador, Flávio Galvão
preferiu encerrar sua atuação da na
escola.
Uma
das características que compõem o
perfil do professor Flávio de Almeida Prado
Galvão é a de ser um defensor do jornalismo
interpretativo. Em sua apostila "Captação
da Notícia e Acesso às Fontes de Informação",
Galvão expõe que o jornal diário
deveria tomar a si essa função para
poder sair-se bem na disputa pelos mercados com
o rádio e com a televisão. Assim ele
se expressa:
"Se
o jornal diário se limitar à notícia,
pura e seca, não poderá concorrer
com o rádio, muito menos com a televisão.
Daí a necessidade do aprofundamento da notícia,
da sua interpretação, o que nem o
rádio, nem a televisão fazem, nem
poderia fazer em face das limitações
de tempo. Assim, na sua luta competitiva com outros
meios de comunicação coletiva, os
periódicos não mais ficam no campo
exclusivo do jornalismo informativo e entram cada
vez mais no do jornalismo interpretativo".
Nos
artigos que Flávio Galvão publicou
no jornal "O Estado de S.Paulo", o leitor
mais atento poderá fazer um mergulho na história
recente do Brasil. Poderá também penetrar
na história do jornalismo porque sua forma
de dar redação ao texto, sua linguagem,
os termos que utiliza, seu jeito, enfim, de escrever
denotam uma linhagem de jornalistas que já
não existem.
Flávio
Galvão é claro, transparente; deixa
a certeza quando está ou não de bom-humor
ou indignado; suas idéias não deixam
dúvida em relação às
suas convicções políticas.
Não fica em cima do muro, não é
dúbio. Deixa claro de que lado está.
O leitor pode até não estar do mesmo
lado. Mas não poderá acusá-lo
de dizer meias verdades, de tentar manipular ou
enganar, de deixar subentendidos. Flávio
Galvão assume seu posicionamento, diz a que
veio e assina em baixo.
O
material deixado por Flávio Galvão
é extenso e rico.
Edição
de Texto:
Osmar Mendes Júnior
Edição
de Arte: Marcelo Januário
|
|