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Direito
Flávio Galvão

Flávio de Almeida Prado Galvão nasceu em São Paulo, em 16 de janeiro de 1926. Era filho de Geraldo Galvão e de Albertina de Almeida Prado Galvão. Sua morte ocorreu em 18 de fevereiro de 1994, aos 68 anos de idade. Quando foi convidado a dar aulas na Escola de Comunicações e Artes, em 1968, exercia a prática do jornalismo há mais de 20 anos no jornal "O Estado de S.Paulo", embora não fosse formado na profissão por nenhuma academia, que em seu tempo ainda não existiam no Brasil. A formação acadêmica de Flávio Galvão era a de advogado.

   
   

Ele fez parte da turma de 1948 da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, a tradicional escola das famosas arcadas do Largo de São Francisco.
Flávio Galvão foi advogado do jornal "O Estado de S.Paulo" e da "Rádio Eldorado" durante a maior parte de sua vida profissional. No jornal "O Estado de S.Paulo" foi repórter, redator auxiliar, chefe de noticiário local, subsecretário, secretário interino e redator político. Além dessas funções principais, o advogado-jornalista exercia múltiplas outras atividades antes de tornar-se professor de jornalismo.


"Captação da Notícia e Acesso às Fontes de Informação". ECA/USP, 14.09.1968, 36 pág. (Apostila).

Flávio de Almeida Prado Galvão integrou a diretoria do tradicional Centro Acadêmico XI de Agosto como membro da Comissão de Sindicância e, em 1949, foi delegado do centro estudantil do congresso em que se fundou a UEE - União Estadual dos Estudantes. Era membro titular do Instituto Historio e Geográfico de S.Paulo.

Preservação das culturas locais era uma das suas maiores e mais constantes preocupações. Sempre transparente quanto às suas convicções e idéias políticas, era um democrata convicto, chegando, às vezes, a levar suas convicções ao extremo. Fora dos muros da academia, Flávio Galvão teve uma atuação política que, na época, suscitava algum desconforto entre seus colegas de redação no jornal "O Estado de S.Paulo".

Provavelmente por sua origem familiar (ele descendida de uma tradicional família paulista, os Almeida Prado), e, depois, por sua atuação enquanto pessoa de confiança da direção do jornal, visto que exercia a função de advogado da empresa, Flávio Galvão possuía trânsito livre nas esferas político-militares. Era amigo íntimo de várias personalidades que fizeram a história política de São Paulo e, mesmo do Brasil.

Vale registrar alguns fatos que constam da sua biografia oficial. Exemplo: em 1965 "recebeu prêmio, na casa do ex-governador Roberto da Costa de Abreu Sodré, da União Democrática Nacional paulista, pela cobertura jornalística da convenção do partido que lançou a candidatura do ex-governador Carlos Lacerda à Presidência da República". Aliás, Flávio Galvão deixa clara sua admiração pelo jornalista Carlos Lacerda, não apenas em seus artigos publicados pelo jornal "O Estado de S.Paulo", como também em sua apostila "Captação da Notícia e Acesso às Fontes de Informação", onde, na página 9 ao referir- se à missão da imprensa, cita que "a este respeito, merecem menção palavras de outro grande jornalista brasileiro - quiçá o maior de nossos dias - Carlos Lacerda." .

O fato é que nos obituários de Flávio Galvão, cita-se sua atuação como professor da Universidade Mackenzie em 1982, mas não na ECA/USP. Ele teria, ainda, ministrado aulas na Faculdade de Direito da USP e abandonado a escola pela obrigatoriedade de fazer o mestrado. Porém, tal informação não consta igualmente de seus obtuários publicados pelo jornal em que atuou por quase 30 anos. Que fora professor da ECA é informação apenas de uma notícia dada pelo mesmo "O Estado de S. Paulo" por ocasião de uma homenagem que recebera da Aeronáutica, a medalha da Ordem do Mérito Aeronáutico.

Flávio Galvão integrou a primeira equipe de professores da então chamada Escola de Comunicações Culturais, denominação original da Escola de Comunicações e Artes atualmente. Foi selecionado mediante concurso público de títulos, realizado em 1966. O Departamento de Jornalismo da então Escola de Comunicações Culturais foi criado em 5 de fevereiro de 1968, tendo Flávio Galvão iniciado suas atividades em março do mesmo ano com as aulas da cadeira "Técnica e Prática de Jornal periódico".

Flávio Galvão (esq.) com Barbosa Lima Sobrinho e Marques de Melo

O departamento teve como diretor designado o professor José Marques de Melo e Flávio Galvão integrou o corpo docente como professor colaborador, por não ser formado em Jornalismo, ao lado de Freitas Nobre, Alfredo Weisflog, Hélcio Deslandes e Francisco Morel.

Atendendo a decisão da Comissão de Ensino, e no sentido de estabelecer coordenação com os outros órgãos da escola, o Departamento de Jornalismo ministrou cursos monográficos aos alunos de outros departamentos. Coube a Flávio Galvão o curso "Jornalismo e Técnica de Redação" para o Departamento de Relações Públicas e "Jornalismo no Período Entre Guerras" para o Departamento de Estudos Históricos e Filosóficos em conjunto com o professor Freitas Nobre.

Sob a orientação de Flávio Galvão foi realizada a pesquisa de campo denominada "Funções de Direção e Secretaria na Grande Imprensa Paulistana" e "Opinião do Jornalismo Brasileiro - Análise de Conteúdo" enfocando preferencialmente o Jornalismo Opinativo; estudo realizado nos jornais diários das principais capitais brasileiras.

Em meados de 1970, Flávio Galvão participou como debatedor do painel "O Jornalismo Sensacionalista e a incidência na criminalidade, durante o seminário "O Jornalismo Sensacionalista" promovido pelo Departamento de Jornalismo coordenado pelo professor José Marques de Melo. Esse painel contou com a participação, também como debatedores, do jornalista Freitas Nobre e do acadêmico João Batista Natali - os expositores foram Darcy de Arruda Miranda da Universidade Mackenzie e Zuleika Sucupira, curadora de menores.

Flávio Galvão foi o primeiro editor da "Revista da Escola de Comunicações e Artes" da USP - Universidade de São Paulo. Em seu primeiro número, de 1970, Flávio Galvão relata o motivo principal da existência da nova publicação e que ela vinha substituir uma tentativa anterior - a "Revista da Escola de Comunicações Culturais" - que viveu apenas por duas edições, uma em 1967 e outra em 1968. Flávio Galvão justifica a alteração do nome da publicação em função da mudança do próprio nome da escola, elogia a direção e deixa entrever que 1970 fora um ano de muitas novidades para a ECA que, por exemplo, ganhara sede própria.

Não se sabe exatamente quais foram os motivos que levaram Flávio Galvão a se afastar da ECA - Escola de Comunicações e Artes da USP. Tudo indica, porém, que após a reforma de 1969, os docentes sem formação acadêmica em Jornalismo foram convidados a elaborar a defesa de suas dissertações para obtenção de titulagem de mestres ou doutores, exigência sem a qual não poderiam continuar a exercer a profissão como jornalistas.

Consta do relatório do departamento que o jornalista Flávio Galvão estaria desenvolvendo uma trabalho sobre Legislação de Imprensa, tendo como professora-orientadora a professor Ester de Figueiredo Ferraz, livre docente da faculdade de Direito da USP a partir de 1969. Porém, alguns professores pioneiros decidiram ingressar na carreira acadêmica defendendo teses de doutoramento, como foram os casos de Freitas Nobre, Gaudêncio Torquato, Tjomas Farkas e José Marques de Melo. Mas Flávio Galvão preferiu não submeter-se a esse ritual, da mesma forma que o fizeram Alfredo Mesquita, Rudá de Andrade, Maria Luiza Monteiro da Cunha e Hélcio Deslandes. Ao término de seu contrato como professor-colaborador, Flávio Galvão preferiu encerrar sua atuação da na escola.

Uma das características que compõem o perfil do professor Flávio de Almeida Prado Galvão é a de ser um defensor do jornalismo interpretativo. Em sua apostila "Captação da Notícia e Acesso às Fontes de Informação", Galvão expõe que o jornal diário deveria tomar a si essa função para poder sair-se bem na disputa pelos mercados com o rádio e com a televisão. Assim ele se expressa:

"Se o jornal diário se limitar à notícia, pura e seca, não poderá concorrer com o rádio, muito menos com a televisão. Daí a necessidade do aprofundamento da notícia, da sua interpretação, o que nem o rádio, nem a televisão fazem, nem poderia fazer em face das limitações de tempo. Assim, na sua luta competitiva com outros meios de comunicação coletiva, os periódicos não mais ficam no campo exclusivo do jornalismo informativo e entram cada vez mais no do jornalismo interpretativo".

Nos artigos que Flávio Galvão publicou no jornal "O Estado de S.Paulo", o leitor mais atento poderá fazer um mergulho na história recente do Brasil. Poderá também penetrar na história do jornalismo porque sua forma de dar redação ao texto, sua linguagem, os termos que utiliza, seu jeito, enfim, de escrever denotam uma linhagem de jornalistas que já não existem.

Flávio Galvão é claro, transparente; deixa a certeza quando está ou não de bom-humor ou indignado; suas idéias não deixam dúvida em relação às suas convicções políticas. Não fica em cima do muro, não é dúbio. Deixa claro de que lado está. O leitor pode até não estar do mesmo lado. Mas não poderá acusá-lo de dizer meias verdades, de tentar manipular ou enganar, de deixar subentendidos. Flávio Galvão assume seu posicionamento, diz a que veio e assina em baixo.

O material deixado por Flávio Galvão é extenso e rico.

Edição de Texto: Osmar Mendes Júnior
Edição de Arte: Marcelo Januário