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A família do advogado era dona do jornal
"Folha do Norte". Surgia a oportunidade
para Juarez Bahia iniciar seu destino. Aos 15 anos,
já era considerado um jornalista. Mas voltou
a Santos, onde foi trabalhar na estiva, como carregador
de saco no cais.
Mais
tarde, como tipógrafo, ingressou no "Diário
de Santos". Começou a escrever no jornal
"A Tribuna", onde fez carreira brilhante:
tornou-se repórter competente e respeitado,
transformando-se em jornalista premiado.
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Juarez
Bahia sempre se caracterizou pela modéstia.
Mas cultivou um projeto ambicioso: tornar-se
um profissional de imprensa reconhecido pela
sua corporação profissional. Não
hesitou em matricular-se no "Curso de Jornalismo,
criado no início dos anos 50, pela instituição
acadêmica santista que se converteria
depois na Universidade Católica de Santos.
Jornalista tarimbado pela vivência na
editoria de jornais e revistas, cedo granjeou
admiração dos seus colegas de
classe. Ao concluir o curso, foi escolhido como
orador da primeira turma de bacharéis
em jornalismo de Santos. Imediatamente, tornou-se
professor da faculdade onde realizaria a sua
formação acadêmica. Depois,
lecionou na Faculdade de Jornalismo "Casper
Líbero", de São Paulo. |
INTRODUÇÃO
À COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL.
Ed. MAUAD, 1ª Ed., 1995, 70 pág.
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Quando
foi criada a Escola de Comunicações
e Artes da Universidade de São Paulo, ele
foi convidado a lecionar no Curso de Jornalismo.
Ali editou, com seus alunos, a primeira revista-laboratório
do país - K-Comunicação - um
arrojado projeto gráfico-editorial, supervisionado
em parceria com o professor de diagramação
Hélcio Deslandes.
Na
época, não havia no Brasil muitos
teóricos na área. Bahia preocupou-se
em transformar suas aulas em textos didáticos.
Produziu
vários livros, escrevendo sobre história
e técnica da profissão, discorrendo
sobre assessoria de imprensa, relações
públicas e publicidade.
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Em viagem à China
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Sua
obra inicial como teórico do jornalismo
é constituída por: "Três
fases da imprensa brasileira" (Santos,
Ed. Presença, 1960); "Jornal, História
e Técnica" (Rio de Janeiro, Ministério
da Educação, 1964) e "Jornalismo,
Informação e Comunicação"
(SP, Martins, 1971). Posteriormente, ele ampliou
e consolidou todo o conhecimento sistematizado
sobre jornalismo, produzindo um manual com o
mesmo titulo do seu livro anterior: "Jornal,
História e Técnica" (SP,
Ed. Ática, 1990). |
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Ao
lado de Marques de Melo
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O
primeiro volume é dedicado à "História
da Imprensa Brasileira" e o segundo enfoca
especificamente "As técnicas do Jornalismo".
Trata-se de obra didática que, sendo reeditada
até hoje, serve de apoio aos estudantes dos
cursos de jornalismo de todo o país. Seu
último livro intitulou-se "Introdução
à Comunicação Empresarial"
(Rio de Janeiro, Mauad, 1995).
No
período da ditadura militar, além
do trabalho no jornal "A Tribuna", de
Santos, litoral do Estado de São Paulo, Juarez
Bahia passou a ser chefe do gabinete do prefeito
da cidade, José Gomes. Ali estreitou sua
relação com o advogado Francisco Prado
de Oliveira Ribeiro, reitor da Universidade Católica
de Santos e Secretário da Habitação
do Governo do Estado de São Paulo. Francisco
foi nomeado, em 1963, Secretário de Justiça
de Santos. Com ele, Juarez Bahia viveu os problemas
"pré-revolucionários" e
tornaram-se amigos.
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Em
março de 1964, Juarez Bahia acompanhou
o amigo Francisco Prado a Brasília, onde
ele receberia informações sobre
o cargo que iria assumir como interventor em
uma companhia estatal, nomeado por Darci Ribeiro,
chefe da Casa Civil do presidente da República
João Goulart. Tomando o avião
em São Paulo, estranharam o pouso em
Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais. O aeroporto
estava cercado por policiais. |
Juarez
Bahia nos anos 70
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Ninguém sabia que o golpe militar estava
se desencadeando. O vôo prosseguiu até
Brasília. O Palácio do Planalto estava
vazio. Darci Ribeiro, que esperava os dois, aconselhou-os
a voltar imediatamente, pois um grande problema
ganhava força. Colocou um carro da Universidade
de Brasília à disposição
para o regresso a Santos.Pelo aeroporto, já
não conseguiriam sair.
Depois
de alguns quilômetros, aparentemente em
direção à Goiânia,
avistaram dezenas de carros oficiais e barreira
na estrada. Sem saber o que fazer, Bahia propôs
que retornassem para o Congresso. Lá
encontraram Athiê Jorge Curi, deputado
federal e que fora presidente do "Santos
Futebol Clube". Ele abrigou Francisco Prado
e Juarez Bahia em sua casa, pedindo que não
saíssem em hipótese alguma, pois
se o Prado fosse identificado como interventor
do governo do PTB, os dois seriam presos. Assim
permaneceram por quinze dias. |
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No
regresso a Santos, tomaram conhecimento da perseguição
ao governo de José Gomes. Bahia foi intimado
a prestar depoimento e Prado o acompanhou como
seu advogado.Após o depoimento na Capitania
dos Portos, o comandante avisou Bahia de que
estava detido. A prisão foi no navio
Raul Soares. O advogado continuou acompanhando
o amigo jornalista sem restrições,
pois o capitão era um colega da Faculdade
de Direito. Bahia, homem de muita esperança,
sentia que o momento era passageiro. Foram nove
dias de prisão no navio. |
Em
Santos, todos os jornalistas conheciam Juarez Bahia.
Ele foi um grande mestre do jornalismo, em dois
sentidos: pelo conhecimento que tinha sobre Comunicação
e pela capacidade de transmitir o que sabia em sala
de aula. Lecionava no curso de Jornalismo da Faculdade
de Filosofia, Ciências e Letras da Sociedade
Visconde de São Leopoldo, atual Universidade
Católica de Santos. Entre aqueles que admiravam
Bahia, como mestre na profissão de ensinar
e fazer Jornalismo, estava Carlos Conde, vice-presidente
da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo.
Conde
trabalhava no "Diário de Santos",
quando teve a sorte de conhecer Bahia. Mas a amizade
surgiu quando, por indicação do mestre,
foi para o jornal "A Tribuna" de Santos,
veículo com circulação bem
maior do que aquele onde trabalhava e que lhe daria
melhores oportunidades para crescimento na carreira
profissional.
A
ligação entre os dois se fortaleceu
a partir de 1966, quando a empresa "Folha de
S.Paulo" inaugurou o jornal "Cidade de
Santos", o primeiro com o sistema off-set colorido
do Brasil. Giufredo e Roberto Mário Santini,
proprietários do jornal "A Tribuna",
chamaram Bahia, o melhor jornalista da região,
para fazer uma revolução no jornal.
Ele,
então, assumiu a responsabilidade, convidando
dois jornalistas para assessorá-lo diretamente:
Carlos Conde e Oswaldo Martins. Bahia, como secretário
de redação, organizou a redação
em editoriais. Assim, Martins ficou com a responsabilidade
das editorias locais, e Conde, com as editorias
Nacional e Internacional.
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Trecho
do livro "Ensina-me a Ler"
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Na
carreira de Juarez Bahia, constam passagens pelos
"Jornal do Brasil" e "Fundação
Padre Anchieta", mantenedora da TV Cultura,
Canal 2, a televisão pública do Estado
de São Paulo. Juarez Bahia conquistou o título
de Bacharel em Jornalismo pela Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras de Santos. E também
o de Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito
da Universidade Católica de Santos. Na Escola
de Comunicações e Artes da Universidade
de São Paulo ministrou cursos de "Jornalismo
Especializado".
Juarez
Bahia foi, ainda, correspondente internacional,
e fixou residência em Portugal. Daquele país
europeu, o mestre trabalhou na Espanha, China, Estados
Unidos e outros países, escrevendo para órgãos
de muita importância, tais como os jornais
"Folha de S.Paulo" e "O Estado de
S.Paulo", além da revista "Visão".
Fez também algumas incursões pelo
campo da literatura. Como ensaísta, publicou
"Um Homem de Trinta Anos" (Santos, SP,
Ensaio, 1964). Como ficcionista, escreveu o romance
"Setembro na Feira" (Rio de Janeiro, RJ,
1986), ambientado em sua terra, Feira de Santana.
Estado da Bahia.
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Do
mesmo gênero, o jornalista e escritor
lançou em 1994 "Ensina-me a ler",
que trata das greves do porto de Santos e
da perseguição política
após o golpe militar ocorrido no país
em 1964.
O
cenário descrito neste livro é
familiar ao autor, que viveu esse período
de repressão no clima de medo e vigilância
constante sobre seu trabalho. Sua morte ocorreu
na cidade do Rio de Janeiro, RJ, em janeiro
de 1998, quando contava apenas 67 anos de
idade. Juarez Bahia foi vítima de uma
embolia pulmonar.
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Edição
de Texto:
Osmar Mendes Júnior
Edição
de Arte: Marcelo Januário
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