Teledifusão
Walter Sampaio

João Walter Sampaio Smolka nasceu em Santos/SP, em 21 de julho de 1931. Sua história profissional tem início no ano de 1953, quando começa a trabalhar na "Rádio Bandeirantes", de São Paulo, como redator. Dois anos mais tarde, assume a função de Coordenador de Jornalismo da mesma emissora, onde ficaria até 1960. Em 1961, Walter Sampaio vai para a "Rádio Excelsior", e para a "Rádio Nacional", onde passa a dirigir um programa que ia ao ar em duas edições diárias, uma durante a manhã e outra no final da tarde. Era uma produção dirigida ao homem do campo.

   
   

Depois de trabalhar no setor de rádio, Walter Sampaio migrou para o jornalismo impresso, onde atuou no semanário "Shopping News" de São Paulo, como "Secretário Geral" e como "Secretario Gráfico". Trabalhou durante cerca de três anos nesses cargos e tinha como responsabilidade, além de copidescar as matérias dos colaboradores do jornal, a de escrever a primeira página da publicação, além de redigir algumas matérias. Atuou também durante dois anos no setor de publicidade, na agência APRA, de São Paulo, onde fazia pesquisa de opinião pública e de mercado.

Em 1966, depois de 15 anos de experiência na área de "Rádio" e de "Televisão", como autodidata em jornalismo é que surge a ECA na vida de Walter Sampaio. Ele presta vestibular em 1967 na antiga "Escola de Comunicações Culturais", da USP - Universidade de São Paulo, hoje ECA, sendo aprovado em terceiro lugar na classificação geral.

Nesse momento, muitos profissionais, que já estavam atuando no mercado voltaram-se para a academia. Isto porque não existiam professores das disciplinas consideradas práticas e/ou técnicas.

Walter Sampaio foi para a Universidade depois de 15 anos de prática no mercado jornalístico. Mesmo assim, encontrou barreiras entre seus colegas de trabalho, que menosprezavam sua atitude, porque não acreditavam na importância de um curso de "Jornalismo". Sampaio atuava na área sem a necessidade de um diploma. Apesar disso, Walter Sampaio sempre reafirmou ser muito importante a freqüência de uma Escola de Jornalismo para os interessados em atuar na profissão.

Os primeiros anos de faculdade de jornalismo para Walter Sampaio foram ricos em disciplinas teóricas. Quando, porém, chegou no terceiro ano do curso, surgiram as disciplinas chamadas teórico/práticas como "Radiojornalismo" e "Telejornalismo". Mas a ECA não possuía professor capacitado para ministrar estas disciplinas devido suas especificidades. As pessoas que se inscreveram na época não tinham a titulação necessária para ministrar aulas.

Foi então que Walter começa a mudar o rumo de sua vida dentro da própria faculdade. Passa a ser, ao mesmo tempo, aluno e professor. A necessária aproximação do mercado de trabalho com a Universidade não foi cem por cento benéfica. Por um lado, os grandes nomes do jornalismo diário tornaram-se chamariz para os cursos de jornalismo, atraindo cada vez mais alunos para a escola.

Por outro lado, estes mesmos profissionais não tinham tempo para se dedicar a seus alunos, em função da pressão diária do mercado, acabando por indicar suplentes para administrar suas disciplinas.

O "Curso de Comunicação Social" teria que ter matérias que natureza profissional. Para o "Curso de Jornalismo, Técnica de Produção e Difusão" deveria constar, entre outras, de "Técnicas de Produção no Jornalismo Gráfico e no Jornalismo Audiovisual". A partir deste tronco que surgiram as disciplinas direcionadas à produção de vídeos, fotografias, além de programas radiofônicos. Walter Sampaio tinha grande experiência nesses setores.

As produções sistematizadas que tratam do telejornalismo brasileiro começam a surgir apenas em 1971, quando o jornalista Walter Sampaio produz o primeiro manual, "Jornalismo e Audiovisual", sob orientação do Professor José Marques de Melo. A publicação teve como base as aulas elaboradas por Sampaio, para o curso de "Jornalismo" da ECA/USP, do qual era monitor, ao mesmo tempo em que freqüentava as aulas como aluno.

Segundo Walter Sampaio, seus colegas de turma deram uma grande colaboração na elaboração do que se tornaria o primeiro manual de telejornalismo brasileiro, pois tinham dúvidas que ele, enquanto profissional, nem sequer imaginava. Assim, ele ia anotando as dificuldades e preparando as próximas aulas em formato de fichas, enriquecidas ainda mais, de informações a partir dos questionamentos dos alunos em sala de aula.

Ao final do ano, Sampaio cumpria outra etapa do processo de ser professor, ele dava as notas a seus colegas baseados em exercícios realizados em sala de aula. Mas a sua nota, a do próprio Walter, era definida através de reunião do departamento e ela acabava tirando a nota 10. No semestre seguinte a nota se repetiu. Enquanto cursava os quatro anos da faculdade, Walter Sampaio, além de aluno, foi professor também do terceiro ano da disciplina de "Rádio e Telejornalismo".

Quando terminou o Curso de Jornalismo, o Professor José Marques de Melo, grande responsável pela produção do primeiro manual do setor, sugere que ele publique um livro fruto dessa experiência acadêmica. E, para tanto, Walter deveria juntar todas as suas fichas de aula e organizar no formato de livro didático. Graças ao incentivo do professor Marques de Melo, a publicação foi possível através de um convênio entre a Editora da USP e a Editora Vozes. O livro surge no início dos anos 70, ano de sua formatura, fruto de uma vivência acadêmica e da experiência de 15 anos como jornalista. E em 71, depois de ministrar aulas como monitor voluntário por dois anos, foi convidado para ser professor da disciplina e, finalmente, contratado pelo Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA/USP.

O livro "Jornalismo e Audiovisual" teve apenas duas edições, sendo que, em cada uma delas, foram publicados três mil exemplares. Nesta mesma época surgiram as faculdades de comunicação no País dentro da expansão do ensino superior e o livro acabou sendo difundido no Brasil inteiro. A obra contém informações para os alunos de jornalismo nas áreas de "Radiojornalismo", "Telejornalismo" e "Cinejornalismo".

Até 1975, Walter Sampaio continuou trabalhando em emissoras de televisão. Mas, a esta altura, já era professor de três escolas de jornalismo: na FACOS - Faculdade de Comunicação Social de Santos, no Mackenzie na área de televisão e também na ECA. Quanto à sua não titulação, além do excesso de trabalho, o jornalista alega que não possuía tempo para esta dedicação.

Segundo Sampaio, há um artigo no Regimento Interno da USP, que permite que pessoas com alta qualificação intelectual, cultural e profissional, pleiteiem a defesa de tese de doutoramento, sem fazer o curso. Assim, ele decidiu entrar com pedido na Instituição, que foi aprovado pelo Departamento de Jornalismo, CTA da ECA, mas foi reprovado no CEP - Conselho de Ensino e Pesquisa e Extensão.

Nessa ocasião, ele se desligou da ECA, numa época de crise na Universidade de São Paulo. Walter Sampaio finalmente se aposentou em 1987.

Walter Sampaio, nos últimos anos de vida, ou seja, até 2002, realizava palestras em Escolas de Jornalismo, participava de bancas de mestrado e doutorado na ECA, e prefaciou o livro "O Rádio no País das Amazonas", que faz um levantamento da radiodifusão na região do Amazonas. Era sempre convidado a participar de programas de debates em rádio e na televisão, na cidade de Santos, litoral do Estado de São Paulo. Ministrou a aula inaugural do curso de pós graduação Latu Sensu, em 1995 na UniSantos.

Walter Sampaio afirmou certa vez que, se não fosse o professor José Marques de Melo, seu manual não existiria, isto porque nunca teve a intenção de produzir alguma coisa para a perenidade. O livro foi um trabalho baseado na experiência acadêmica na USP, onde o jornalista pode sistematizar seus conhecimentos práticos na área do jornalismo audiovisual". O professor morreu em 4 de maio de 2002.

Edição de Texto: Osmar Mendes Júnior
Edição de Arte: Marcelo Januário