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Entendia
que o fazer jornalismo deveria incluir um posicionamento
e optou sempre por aquele que o encaminhava para
os segmentos menos favorecidos da população.Foi
um intelectual na acepção da palavra,
mas despido da arrogância comum aos que freqüentam
os postos de prestígio.
Trabalhou na grande imprensa, mas manteve-se íntegro,
não negociando com os patrões, em
nenhum momento, as suas posições pessoais,
filosóficas ou políticas. Colaborou
com o "Correio da Cidadania", voluntariamente,
colocando-se à disposição do
debate amplo das questões e dos desequilíbrios
nacionais. Foi um dos mais importantes jornalistas
voltados para a cobertura do agronegócio
e sempre acreditou e defendeu a necessidade de compatibilizar
o desenvolvimento da agricultura com a preservação
do meio ambiente e com as demandar e expectativas
de quem passa fome neste País.
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JAIR BORIN. O JORNALISTA PROFISSIONAL NO ESTADO
DE SÃO PAULO. Perfil Sócio-econômico
e Cultural. ECA/USP, 1972 (Série Jornalismo) |
Jair
Borin mantinha a convicção de
que os meios de comunicação
de massa têm rabo preso com o poder
e que o conflito capital X trabalho está
presente no jogo das redações.
O mestre pregava e praticava a ética,
a integridade profissional, a responsabilidade
social. Era intolerante com os corruptos,
com os que abusam da autoridade e com aqueles
que atentam contra os interesses dos miseráveis.
Lutou e contribuiu para uma reforma agrária
democrática, simpatizava-se com os
interesses genuínos do Movimento dos
Sem Terra e buscou dar voz aos desamparados,
criando e e mantendo jornais em favelas e
paróquias. Jair Borin foi o amigo de
todas as horas. Sempre disposto a estender
a mão e a ouvir os que precisavam de
consolo e apoio, privando-se muitas vezes
para socorrer os outros, ainda que não
fossem conhecidos ou amigos. Por isso, quando
a ECA resolveu fazer a ele uma justa homenagem,
tantas pessoas ali estiveram dando seu depoimento
comovido.
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O
professor Borin tornou-se reitor de fato, tendo
sido o mais votado em todos os segmentos da comunidade
uspiana (alunos, professores e funcionários).
Foi chefe do Departamento de Jornalismo mais de
uma vez e buscou dotá-lo de estrutura que
garantissse uma boa formação para
os futuros profissionais de imprensa. Sobretudo,
inspirou estudantes e orientandos com sua dedicação,
competência e profissionalismo. Todos aqueles
que o conheceram tem um compromisso: apresentá-lo
às novas gerações, àqueles
que não tiveram a felicidade de privar de
sua amizade e ensinamentos, para que também
eles se tornem seus amigos. O exemplo permanece
e este é o legado de quem nasceu para compartilhar
e para fazer história.
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Jair
Borin foi professor-titular da Escola de Comunicações
e Artes da USP, tendo sido por diversos mandatos
chefe do Departamento de Jornalismo e Editoração.
Docento do curso de jornalismo de 1971, especialista
em Jornalismo Agropecuário e em Mídia-criticism
coordenou os estudos de Mídia-criticism do
setor de Pós-Graduação da ECA/USP.
Orientou 54 trabalhos de conclusão de curso,
além de várias dissertações
de mestrado e teses de doutorado. Teve cerca de
200 artigos sobre jornalismo e mídia-criticism
publicados em revistas e jornais brasileiros e internacionais.
Foi
repórter, redator e editor nos jornais "O
Estado de S.Paulo", "Movimento" e
"Folha de S.Paulo". Publicou os livros
"O estudo do café no Brasil", pela
Fundação Getúlio Vargas;"A
apropriação do tempo e do espaço
no telejornalismo brasileiro"; "A luta
pela terra", em parceria com José Gomes
da Silva e outras obras. Foi o representante oficial
do governo brasileiro na Conferência Mundial
sobre Fome e Reforma Agrária, patrocinada
pela FAO, EM 1986.
Foi
diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais
no Estado de São Paulo em duas gestões
e presidente da Associação dos
Docentes da Universidade de São Paulo.
Apoiou o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra
(MST) e, em todas as áreas de atuação,
destacou-se como um incansável militante
pela democracia e contra as desigualdades
sociais.
Defendeu e praticou um jornalismo comprometido
com a cidadania e foi responsável por
coberturas memoráveis, como a série
de reportagens sobre o Projeto Jari. Sua
atuação na luta pela democracia
na USP teve dois momentos de grande destaque.
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Paulo Pinto/AE
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Borin em 2001, quando
foi candidato a reitor da USP
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Na
Escolha Partidária do Reitor, organizada
em outubro de 2001 pelas entidades de alunos professores
e funcionários, Borin obteve 44,6% dos votos
partidários, enquanto o segundo colocado,
o professor Antonio Massola, obteve somente 9,8%,
e o nono e último colocado, professor Tupã
Gomes Correa, 1,1%.
Participaram
da consulta 6.399 pessoas, num total de 26.459 votos
paritários.
O
professor Jair Borin foi eleito pelas três
categorias. Recebeu 360 votos dos docentes (4.608
paritários), 1.196 votos dos funcionários
(5.410 paritários) e 1.778 votos dos estudantes
(também 1.778 paritários), alcançando
um total de 3.334 votos diretor ou 11.796 paritários.
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Porém,
no colégio eleitoral restrito que decidiu,
em novembro daquele ano, o processo institucional
de escolha do Reitor, formado por cerca de
1.400 pessoas (membros das congregações
e dos conselhos centrais da USP), Borin ficou
em oitavo lugar no primeiro turno.
No
segundo turno, quando esse colégio
se reduziu a somente cerca de 250 pessoas
(integrantes do CO e dos conselhos centrais),
ele não alcançou os votos necessários
para figurar entre os três mais votados
e integrar, assim, a lista tríplice
a ser enviada ao governador. O escolhido pelo
colégio eleitoral e pelo governador
foi o professor Adolpho Melfi, que recebera
apenas 7,6% dos votos na Escolha Paritária.
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Em
novembro de 2000, a história fora semelhante.
Candidato a Diretor da ECA, Borin obteve esmagadora
vitória na eleição paritária,
derrotando largamente nos três segmentos o
professor Waldenyr Caldas, então vice-diretor.
Participaram da eleição paritária
729 alunos, 104 professores e 183 funcionários,
num total de 1045 pessoas. Borin recebeu 613 votos
dos alunos, 54 dos professores e 95 dos funcionários,
o que totalizou 59,6% dos votos.
Na
eleição oficial, na Congregação,
Borin ficou em segundo lugar, tendo obtido quatro
votos a menos que o professor Caldas no primeiro
escrutínio. No segundo escrutínio,
Borin recebeu os mesmos 50 votos que o seu adversário
recebeu no primeiro, e foi incluído na lista
tríplice. Mas à época o reitor
Jacques Marcovitch escolheu o professor Caldas para
dirigir a ECA, com base no "argumento"
de que era o primeiro da lista.
Borin
também colaborou com a imprensa alternativa.Durante
a ditadura militar, nos anos 70, integrou um movimento
de renovação do Sindicato, contrário
aos pelegos apoiados pela ditadura. Juntou-se a
um grupo clandestino de oposição ao
regime militar e chegou a ser preso e torturado.
Após o fim da ditadura, foi diretor do Sindicato
dos Jornalistas em duas ocasiões, entre 1984
e 1987 e de 1997 a 2000. Era um entusiasta da reforma
agrária e apoiador de primeira hora do MST.
Jair
Borin faleceu em São Paulo aos 61 anos, no
dia 22 de abril de 2003.
Edição
de Texto:
Osmar Mendes Júnior
Edição
de Arte: Marcelo Januário
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