Antagonistas: resistências algorítmicas
Estamos num momento em que as promessas da Inteligência Artificial estão rapidamente capturando a imaginação coletiva. O discurso de empresas e governos foca nos potenciais sem
precedentes de uma revolução tecnológica. O debate público sobre as tecnologias algorítmicas segue marcado por um presentismo aterrador: ignora como chegamos aqui e como estamos esculpindo
o futuro com nossas decisões.
ANTAGONISTAS: resistências algorítmicas busca subverter esta lógica. Partindo do acervo do MAC USP, a exposição contextualiza a vasta produção de artistas, ativistas e cientistas que, desde
os anos 1960, propuseram estratégias de resistência às tecnologias informacionais hegemônicas. Mesmo com recursos limitados, criaram maneiras alternativas para lidar com o novo regime de
dados e algoritmos que se formava à sua volta.
Entendemos algoritmo como um conjunto de instruções ou regras que orientam sistemas informacionais, desde os saberes ligados à produção de cerâmica até o desenvolvimento de aplicativos
para celulares. As obras apresentadas questionam as ideias de alta e baixa tecnologia, da eficiência e do erro, do arquivamento e do apagamento. Algumas são constituídas por softwares
obsoletos e espremedores de fruta, outras criam plataformas inovadoras. A conservação de tecnologias que são vistas como ultrapassadas se torna ato político: artistas reparam códigos e
coletam dados faltantes.
As obras são antagonistas à medida que respondem a necessidades que vêm sendo negligenciadas ou mesmo apagadas pelas tecnologias dominantes e seus interesses. Nos anos 1970, como reação às
ditaduras latino-americanas, artistas fizeram uso do sistema postal para criar redes dissidentes de comunicação e circulação de arte. Hoje, num mundo digital cada vez mais plataformizado,
artistas encontram brechas nos sistemas para criar espaços de expressão e resistência. Diante da onipresença dos mecanismos de monitoramento e vigilância, imaginam como podemos nos
apropriar de imagens e dados para criar narrativas de resistência. As cosmologias indígenas, por exemplo, oferecem perspectivas capazes de conceber tecnologias muito além da lógica
ocidental.
Antagonistas de diferentes épocas mostram que sempre existiram e existirão outras formas de imaginar e construir nosso futuro tecnológico.
Bruno Moreschi
Gabriel Pereira
Heloísa Espada
Curadores
Gabriele Conti
Assistente de curadoria
Antagonists: algorithmic resistances
We are living in a moment when the promises of Artificial Intelligence are rapidly capturing the collective imagination. The discourse of companies and governments centers on the
unprecedented potential of a technological revolution. Yet, public debate around algorithmic technologies remains haunted by a troubling presentism: it overlooks how we arrived here and
how our decisions are actively shaping the future.
ANTAGONISTS: algorithmic resistances seeks to subvert this logic. Drawing from the MAC USP collection, the exhibition contextualizes the vast production of artists, activists, and
scientists who, since the 1960s, have proposed strategies of resistance to hegemonic information technologies. Even with limited resources, they devised alternative ways to engage with the
emerging regime of data and algorithms forming around them.
We understand an algorithm as a set of instructions or rules that guide information systems — from knowledge concerning ceramic production to the development of mobile applications. The
works presented question notions of high and low technology, efficiency and error, archival and erasure. Some are composed of obsolete software and fruit juicers, others create innovative
platforms. Preserving technologies deemed outdated becomes a political act: artists repair code and collect missing data.
These works are antagonistic insofar as they respond to needs that have been neglected or even erased by dominant technologies and their interests. In the 1970s, as a reaction to Latin
American dictatorships, artists used the postal system to create dissident networks of communication and art circulation. Today, in an increasingly platformized digital world, artists find
cracks in the system to carve out spaces for expression and resistance. Faced with the omnipresence of surveillance and monitoring mechanisms, they imagine how we might reclaim images and
data to craft narratives of resistance. Indigenous cosmologies, for instance, offer perspectives capable of conceiving technologies far beyond Western logic.
Antagonists from different eras show us that there have always been—and there always will be—other ways to imagine and construct our technological future.
Bruno Moreschi
Gabriel Pereira
Heloísa Espada
Curators
Gabriele Conti
Curatorial assistant
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