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Entrada Gratuita

Rastro dos Restos - Ricardo Ribenboim


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Educativo:
55 11 2648-0258

Imprensa:
55 11 2648-0299

MAC USP
Av. Pedro Álvares Cabral, 1301 - São Paulo-SP, Brasil
Horário de funcionamento:
Terça a domingo das 10 às 21 horas
Segundas: fechado
Entrada gratuita

Contato
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Ricardo Ribenboim no MAC USP

Ana Magalhães
MAC USP

[english]

A exposição Rastro dos restos do artista Ricardo Ribenboim, com curadoria de Rachel Vallego, apresenta seus trabalhos mais recentes, realizados no período da pandemia de Covid-19. Remexendo os objetos depositados em seu ateliê e suas memórias, bem como revisitando sua produção, Ribenboim concebeu obras nas quais objetos do cotidiano e suas referências artísticas se encontram.

Os 80 trabalhos aqui apresentados são uma síntese também de duas exposições que o artista realizou no Rio de Janeiro, em 2022. Eles atualizam sua poética, algo que o MAC USP busca fazer diligentemente com os artistas que possuem obras em seu acervo.

Esta exposição ainda acolhe a presença de uma jovem curadora, formada pelo Programa Interunidades de Pós-graduação em Estética e História da Arte (PGEHA), sediado no MAC USP. Convidada pelo artista, Rachel Vallego é um dos inúmeros profissionais que o Museu vem formando ao longo de seus 60 anos.

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Rastro dos Restos

Rachel Vallego
Curadora

[english]

A trajetória artística de Ricardo Ribenboim é tão significativa quanto a de gestor cultural. Desde sua juventude está inserido no meio e, aos 16 anos participa da Feira Paulista de Opinião. Também cria uma Escola de Educação Através da Arte no Clube Hebraica, que existe até hoje. Acompanha de perto a cena artística paulista dos anos 1970, sendo aluno de Evandro Carlos Jardim e da Escola Brasil, sob a orientação de José Resende e Carlos Fajardo. Em 1974, participa da Bienal de São Paulo. Trabalha como designer gráfico entre os anos 1970 e 1990. Nos anos 1980, cria o Museu Brasileiro do Papel, posteriormente incorporado ao MACUSP. Foi diretor do Paço das Artes em 1996, que o leva à direção do Itaú Cultural entre 1996-2002, sendo responsável pela criação dos Eixos Curatoriais, das Enciclopédias em meio digital e do Programa Rumos - que considera uma de suas grandes obras.

Ribenboim engloba as várias facetas da produção, tanto ao produzir grandes exposições e projetos culturais como sua própria produção artística. De fato, podemos dizer que a convivência com artistas e suas obras, por relações de amizade ou profissionais, mantém seu lado artista sempre mobilizado. Juntando ao longo dos anos ideias e materiais: objetos, tecidos, um giz de cera de seu neto e coisas de todo tipo, inclusive referências a procedimentos de artistas que admira - tudo funcionando como peças de um jogo em que o primeiro movimento no tabuleiro é dado por um desses elementos. Cada movimento dessa partida imaginária resulta em obras que por sua vez alimentam a próxima jogada. 

Para efeitos curatoriais, aqui sugerimos algumas linhas, direções apenas, que tentam refletir sobre a origem destas produções e como ressoam em cada movimento, em cada obra. O procedimento de acumular materiais diversos transforma o ateliê em um espaço vivo. O caderno de esboços recolhe inúmeras ideias que vão sendo experimentadas e que permitem entrever os diversos momentos de elaboração das obras. A série que leva o nome da exposição, O Rastro dos Restos, é indicativo deste processo.

Uma lona manchada e guardada por anos faz a vez da tela. O artista não espera uma superfície incólume; pelo contrário, o movimento inicial está em trabalhar a partir da mancha, do furo ou rasgo que despertam a próxima jogada. Ali o artista reúne outros materiais, brinca com eles, uma obra provoca a próxima, que modifica a anterior. O procedimento da colagem com todo tipo de material disponível no ateliê, incluindo obras antigas ou seus fragmentos, é continuamente revivificado, gerando novos enigmas. Ribenboim experimenta diversas combinações, a obra somente é dada como concluída quando sai para alguma exposição ou coleção.

As Miradas seguem esse mesmo procedimento, mas são inspiradas por obras de artistas que Ribenboim muito admira, como Mira Schendel e Willys de Castro. Aqui, ao compor cada peça, esses trabalhos de Ribenboim mantêm diálogo com alguns processos criativos desses artistas. 

Em In Memoriam, vemos como a discussão política e ecológica toma corpo poético. A partir das cinzas recolhidas nos escombros do Museu Nacional do Rio de Janeiro, de madeiras calcinadas nos incêndios da Amazônia ou da  frase “Quem mandou matar Mariele?”, Ribenboim ressignifica esses elementos, exalta-os para manter a memória dessas tragédias vivas. Compreende que o esquecimento gera descaso e que o descaso por nossa própria história é o maior perigo de uma vida em piloto-automático. 

Esta exposição, com algumas alterações e inserções de obras novas à realizada em 2022 no Paço Imperial, no Rio de Janeiro, abre-se com a obra Homenagem a Brancusi, na qual o artista faz pequenas intervenções na madeira natural para ressaltar suas formas, evocando o grande mestre da escultura moderna. Igualmente, recusando a necessidade de uma base, a obra de madeira direto no chão ondula num movimento ascendente. Nessa mesma perspectiva, vemos surgir da admiração por Waltercio Caldas, Frans Krajcberg e José Resende a série de esculturas Riscos no Espaço. Ali, a madeira encontra ocasionalmente o ferro e ambos criam um desenho no ar, numa leitura pessoal e potente.

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Yuri Quevedo
Curador

[english]

Cacos, gravetos, retalhos, cera. Cola, tinta, letras, lonas. Entulho, escombros, restos, sarrafos. Troncos calcinados, raízes do mangue usinadas, metais fundidos, chapas enferrujadas. Fragmentos do ordinário, do urbano e de outros ecossistemas combinados – interações provisórias entre o que é fabricado e o que brota, cresce e morre. Restos do cotidiano do ateliê. Rastros do trabalho do artista. Memórias de sua trajetória. O que Ricardo Ribenboim nos apresenta nesta exposição é seu programa para lidar com a passagem do tempo: sem assombro, ele entende o curso da história e a finitude das coisas, deixa o tempo agir e transformar o todo em apenas vestígios. Então, ele os recolhe. Considera de cada um o significado, seleciona trechos de sentido. Anima cada um deles, arrastando-os para o presente. A partir da lembrança, Ribenboim propõe a singularidade.

Enquanto muitos buscam encontrar o sentido de um todo coeso, o artista vai na contramão e faz da desarticulação o seu método. Ele sabe que, muitas vezes, as coisas não têm um significado único e que o tempo não reterá muita coisa do agora. Por isso, desmembra sistemas inteiros para analisá-los. Como um arqueólogo trata cada vestígio como a confirmação de uma existência. E, como artista que é, encontra poesia nova naquilo que sobrou – aquilo que é substantivo no rastro dos restos. Contudo, os trabalhos que estão aqui não se resumem a instrumentos de análise. Se assim fossem, já contribuiriam de forma generosa para um olhar renovado sobre o passado que nos rodeia. O artista formula uma ecologia própria – o que restou de algo, pode servir de suporte para uma nova realidade. Aqui, a história não é vista como uma cronologia única, progressiva, em que etapas superam umas às outras. Mas como uma trama, em que ciclos se reciclam intercalados com lacunas de esquecimento.

Ao construir marcos e estandartes com esses tecidos, Ribenboim compartilha conosco sua ética: a memória pode ser matéria do presente à medida que ela adquire significado no agora.

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Galeria

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Ricardo Ribenboim


Exposições individuais [seleção]


2023 - Rastro dos restos, Museu de Arte Contemporânea MAC USP São Paulo-SP

2023 - É doce morrer no mar, Centro Cultural Municipal Hélio Oiticica Rio de Janeiro

2022 - Rastro dos restos, Paço Imperial, Rio de Janeiro-RJ

2022 - O Acaso, Oasis Rio de Janeiro-RJ

2019 - De tudo fica um pouco, Galeria Raquel Arnaud, São Paulo-SP

2004 - Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador-BA

2004 - Vencedor do 5º Prêmio Sérgio Motta, São Paulo-SP

2003 - Martinez Gallery, Nova York (EUA)

2003 - Atitudes, Galeria Anna Maria Niemeyer, Rio de Janeiro-RJ

2001 - Paço das Artes, São Paulo-SP

2000 - Museum of Contemporary Art (MOCA), Miami (EUA)

2000 - Projeto especial, P.S.1 Contemporary Art Center (MoMA), Nova York (EUA)

2000 - Troca de Pele, Paço Imperial, Rio de Janeiro-RJ

2000 - Instala obra no Jardim das Esculturas do MAC USP, São Paulo-SP

1999 - KunstRaum, Berlim (Alemanha)

1999 - Troca de Pele, Galeria Nara Roesler, São Paulo-SP

1999 - Obra no Jardim das Esculturas, MAC USP, São Paulo-SP

1993 - Intervenção urbana, San German (Porto Rico)

1992 - Bólides Marinhos, Retrospectiva da ECO-92, MIS, São Paulo-SP

1992 - ECO-92 - Intervenção urbana na Praia de Ipanema, Rio de Janeiro-RJ


Exposições coletivas [seleção]


2022 - Elipses, Centro Cultural Oasis Rio de Janeiro-RJ

2022 - Resistência 1, Centro Cultural Hélio Oiticica Rio de Janeiro-RJ

2022 - Resistência 2, Centro Cultural da Justiça Federal do Rio de Janeiro-RJ

2021 - Acervo Oasis Rio de Janeiro-RJ

2013 - 8ª Bienal de La Paz (Bolívia)

2009 - Arte frágil, resistências MAC Ibirapuera, São Paulo-SP

2008 - Arte pela Amazônia Pavilhão Bienal de São Paulo-SP

2007 - Itaú Contemporâneo: Arte no Brasil 1981-2006 São Paulo-SP

2006 - Brazilian Art Show, Pavilhão Ciccillo Matarazzo, São Paulo-SP

2005 - 1ª Bienal Internacional de Arte Contemporânea da Romênia, Arad

2005 - Ocupação, Paço das artes, São Paulo-SP

2004 - Como é doce morrer no mar, MAC Ceará, Fortaleza-CE

2004 - // Paralela, São Paulo-SP

2003 - A Imagem do Rock Pop Brasileiro, Paço Imperial, Rio de Janeiro-RJ

2001 - Bienal 50 Anos: homenagem a Ciccillo Matarazzo, Bienal de São Paulo

2000 - Open 2000, escultura em espaço urbano, Veneza (Itália)

2000 - Obra Nova, MAC USP, São Paulo-SP

2000 - Resistência, Museu de Arte Contemporânea, San Sebastian (Espanha)

2000 - Museum of Contemporary Art, Miami (EUA)

2000 - 7ª Bienal de Havana, Centro de Arte Contemporáneo (Cuba)

2000 - Acervo ArtBA, Museu da Recolleta, Buenos Aires (Argentina)

1998-99 - Art for the World, itinerante Genebra (Suíça); P. S. 1, Nova York (EUA); Sesc (São Paulo) e Nova Délhi (Índia);

1998 - City Canibal, Paço das Artes, São Paulo-SP

1997 - Arte/Cidade 3, intervenções urbanas, São Paulo-SP

1997 - Brasmitte, intervenções urbanas São Paulo e Berlim (Alemanha)

1993 - Segni d'Arte, Fundacione Stanpalia, Veneza (Itália)

1992 - Intervenção urbana na via Anchieta projeto Agulha

1984 - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, Bienal de SP

1974 - 13ª Bienal de São Paulo, Fundação Bienal de São Paulo

1969 - 2º Salão dos Novos, A Hebraica, São Paulo

1969 - 3ª Exposição de Arte Contemporânea de São Caetano do Sul, São Caetano do Sul-SP

1968 - 2ª Exposição de Arte Contemporânea de São Caetano do Sul, São Caetano do Sul-SP

1968 - Exposição integrada à Feira Paulista de Opinião no Teatro Ruth Escobar, São Paulo-SP

1968 - 1º Salão dos Novos, A Hebraica, São Paulo-SP




[ENGLISH]


Ricardo Ribenboim at MAC USP

Ana Magalhães
MAC USP

[português]

The artist Ricardo Ribenboim's latest exhibition, "Rastro dos Restos," curated by Rachel Vallego, is on display at MAC USP. The exhibition showcases Ribenboim's recent works, created during the Covid-19 pandemic. The artist draws inspiration from everyday objects and his own memories to create thought-provoking pieces that pay homage to artistic references.

In total, 80 works are being presented, which are also a synthesis of two exhibitions held in Rio de Janeiro in 2022. It is an update of Ribenboim's artistic vision, something that MAC USP strives to do with all the artists in its collection. The exhibition also features Rachel Vallego, a young curator who was invited by the artist. Vallego is one of the many professionals trained by MAC USP over its 60-year history. She graduated from the Interunit Postgraduate Program in Aesthetics and Art History (PGEHA) based at MAC USP.

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Trace of Remains

Rachel Vallego
Curator

[português]

Ricardo Ribenboim had a long and significant artistic career as a cultural manager. He has been involved in the art environment since his youth, and, at the age of 16, he participated in the Feira Paulista de Opinião. He founded the School of Education Through Art at Clube Hebraica, which still exists today. In the 1970s, he closely followed the São Paulo art scene and was a student of Evandro Carlos Jardim and Escola Brasil, guided by José Resende and Carlos Fajardo. In 1974, he participated in the São Paulo Biennial. From the 1970s to the 1990s, he worked as a graphic designer. In the 1980s, he created the Brazilian Paper Museum, which was later incorporated into MAC-USP. In 1996, he became the director of Paço das Artes, which led him to the direction of Itaú Cultural between 1996-2002. He was responsible for the creation of the Curatorial Axes, the Encyclopedias in Digital Media, and the Rumos Program, which he considers one of his greatest works.

Ribenboim's artistic production includes his own works, as well as the major exhibitions and cultural projects he produces. His coexistence with artists and their works, through friendship or professional relationships, kept his artistic side always mobilized. Gathering ideas and materials over the years - objects, fabrics, a crayon belonging to his grandson, and references to procedures by artists he admires - all working like pieces in a game in which the first move on the board is made by one of these elements. Each move of this imaginary match results in works that in turn feed the next play.

For curatorial purposes, we suggest some lines, directions only, that reflect on the origin of these productions and how they resonate in each movement, and in each work. The procedure of accumulating different materials transforms the studio into a living space. The sketchbook collects countless ideas that are being experimented with and allows us to glimpse the different moments in which the works were created. The series that bears the name of the exhibition, Trace of Remains, is indicative of this process.

A stained canvas that has been stored for years takes the place of the canvas. The artist does not expect an unscathed surface; on the contrary, the initial movement is to work from the stain, hole, or tear that triggers the next move. There the artist gathers other materials and plays with them - one work provokes the next, which modifies the previous one. The collage procedure with all types of material available in the studio, including old works or their fragments, is continually revived, generating new enigmas. Ribenboim experiments with different combinations, and the work is only considered complete when it is shown in an exhibition or collection.

The Miradas follow this same procedure but are inspired by works of artists that Ribenboim greatly admires, such as Mira Schendel and Willys de Castro. Here, when composing each piece, Ribenboim's works maintain a dialogue with some of these artists' creative processes.

In In Memoriam, we see how the political and ecological discussion takes on a poetic form. From the ashes collected in the rubble of the National Museum in Rio de Janeiro, from wood burned in the Amazon fires, or from the phrase "Who ordered Marielle to be killed?", Ribenboim reframes these elements, exalts them to keep the memory of these tragedies alive. He understands that forgetfulness breeds neglect, and that disregard for our own history is the greatest danger of a life on autopilot.

The exhibition, presented in 2022 at Paço Imperial in Rio de Janeiro, opens with the work Homage to Brancusi, in which Ribenboim makes small interventions in natural wood to highlight its shapes, evoking the great master of modern sculpture. Likewise, refusing the need for a base, the wooden work directly on the floor undulates in an upward movement. From this same perspective, we see the series of sculptures Riscos no Espaço (Scribbles in Space) emerge from the admiration for Waltercio Caldas, Frans Krajcberg, and José Resende. There, wood occasionally meets iron and creates a drawing in the air, in a personal and powerful reading.

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Yuri Quevedo
Curator

[português]

“Shards, sticks, scraps, wax, glue, paint, letters, canvas, rubble, and more – these are the fragments of everyday life that Ricardo Ribenboim presents in his exhibition. A combination of the ordinary, urban, and other ecosystems, they represent provisional interactions between what is manufactured and what grows, sprouts, and dies. These are the remains of the artist's work and the traces of his trajectory. Ribemboim's program for dealing with the passage of time involves understanding the course of history and the finiteness of things. He lets time act and transform the whole into just traces. Then he collects them, considers their meaning, selects sections of meaning, and animates each of them to drag them into the present. From memory, Ribenboim proposes singularity.

While many seek to find the meaning of a cohesive whole, Ribenboim makes disarticulation his method. He knows that often things do not have a unique meaning, and time will not retain much of the present. Therefore, he breaks down entire systems to analyze them, treating each trace as confirmation of an existence. As an artist, he finds new poetry in what remains – what is substantive in the wake of the remains. However, Ribenboim's work is not limited to analysis tools. He formulates his own ecology and believes that what remains of something can serve as support for a new reality. For him, history is not a single, progressive chronology in which stages surpass one another, but a plot in which cycles are recycled interspersed with gaps of forgetfulness. By building landmarks and banners with these fabrics, Ribenboim shares his ethics with us: memory can be a matter of the present as it acquires meaning in the now.”

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