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Entrada Gratuita

SOLASTALGIA, por Lucas Bambozzi

A manutenção do extrativismo em estado continuo é um resquício anacrônico das diversas formas de colonização que se apossaram do mundo. No cenário atual, não há solução limpa para uma energia minimamente limpa. Instalou-se um modelo de catástrofe que cruza esferas imateriais e atinge a fisicalidade bruta das paisagens do planeta.

Na paisagem que circunda Belo Horizonte, a mineração está em toda parte. Dissimulada entre barreiras de eucalipto nas margens das estradas no alto das cadeias de montanhas, não era vista facilmente até que começaram a surgir uma diversidade de mapeamentos e cartografias, formas de visão aérea mais acessíveis, documentários, mapas abertos em milhares de dispositivos pessoais, ações ativistas e outros movimentos afrontando o controle do espaço aéreo por parte das mineradoras.

Se antes usurpavam apenas as entranhas da terra, de forma barulhenta, mas que pouco se dava a ver, a danação da paisagem passou a ser de conhecimento muito mais amplo, principalmente pela ruptura criminosa de barragens precárias e pouco cuidadas, em Mariana em 2015, Brumadinho em 2019 e outras localidades pelo estado de Minas Gerais. 

O visível nessas montanhas já́ não pode esconder aquilo que Achille Mbembe chama de perda de “continuidade entre o céu e a terra”, uma zona da paisagem onde acontece a devastação dos recursos de terra, água, espaço aéreo – também sonoro, olfativo – que se intromete nos olhos como poeira de minério de ferro suspenso no ar.

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Curadoria

Fernanda Pitta
Curadora Responsável MAC USP

O MAC USP, museu público e universitário, acompanha e incentiva a prática artística contemporânea por meio do acolhimento de propostas de exposição de artistas não integrantes no acervo do museu.

SOLASTALGIA é uma proposta de Lucas Bambozzi (Matão, São Paulo, 1965), pesquisador, cineasta e artista visual, que vem investigando em seus últimos trabalhos algo característico da contemporaneidade: a solastalgia (termo cunhado pelo filósofo Glenn Albrech, em 2005), o sentimento de perda diante de transformações radicais na paisagem. Seja natural ou urbana, essas transformações advindas do extrativismo, a exploração intensiva e extensiva do meio-ambiente provoca consequências que são vividas como catástrofes “naturais”, mas que de fato são antropogênicas, isto é, criadas pelos seres humanos.

Como artista visual, Lucas Bambozzi imagina e cria imagens para esse sentimento, investigando suas causas, a partir de sua vivência com a paisagem de Minas Gerais, estado onde cresceu. Projeções, painéis luminosos, imagens de bancos de imagens digitais) e outros dispositivos dão forma a essa investigação, que também reflete sobre o modo de apresentar visualmente os processos disparadores da solastalgia, de maneira que a nossa experiência de afetação por essas imagens também é indagada.

Daí o artista utilizar-se de diversas tecnologias da imagem. A linguagem do filme, na peça central da instalação – SOLASTALGIA, evidencia paisagens e montanhas corroídas. A monumentalidade das imagens produz impacto corpóreo e nos conduz, entre o fascínio e o terror, a adentrar o cenário de tragédias causadas mineração na região de Minas Gerais, que aniquilam modos de vida em nome de uma noção arcaica de progresso.

PAISAGENS RASGADAS apresenta imagens produzidas por dispositivos de captura da imagem por satélite, que permitem o acesso ao espaço aéreo das mineradoras, interditado à maioria dos habitantes dessas paisagens. O trabalho contrasta com a perspectiva imersiva da filmagem. A linguagem objetificada desses registros, mostrando crateras de mineração inacessíveis aos olhares fotográficos das câmeras, tensiona a capacidade de dissociação provocada por esses aparatos e nos faz refletir sobre o papel ativo do olhar científico na aniquilação extrativista.

Há ainda o vídeo EXTRA, EXTRA! criado a partir de imagens publicadas por vários veículos de imprensa, em sua grande maioria, registros foto-jornalísticos de tragédias, acidentes naturais ou causados por ações exploratórias recentes, em várias partes do mundo. O trabalho insere a situação abordada em SOLASTALGIA em escala global e questiona a percepção reiterativa que a circulação dessas imagens produz. Em PROMPT, a imagem é resumida a uma descrição semântica, direcionando o que ver ou imaginar nas cenas, como em um roteiro às avessas.

Complementam a instalação o trabalho de 3 pensadores, que apresentam em LUZES, painéis luminosos posicionados no chão, uma frase-texto em que cada uma sintetiza sua ideia de solastalgia. Novas participações de artistas, em diálogo com a exposição, devem se somar ao espaço instalativo, ao longo do período em que a exposição permanece em cartaz, ativando o desdobramento das reflexões da mostra.

SOLASTALGIA é em parte derivada do filme LAVRA (2021, 91min) de Lucas Bambozzi, que tem roteiro de Christiane Tassis e produção de Andre Hallak e Eder Santos.

Ao acolher a mostra de Lucas Bambozzi, o MAC USP reforça o entendimento do museu como um espaço de escuta atenta à produção artística experimental e de plataforma para práticas artísticas que refletem sobre questões e problemáticas urgentes do mundo contemporâneo.

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