23 JAN 2015 - 28 ABR 2019
Entrada gratuita

Samson Flexor – Traçados e Abstrações


Samson Flexor - Traçados e Abstrações

O Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo dispõe de espaços que nos inspiram propostas curatoriais desafiadoras: são diversas visualidades imersas num acervo com mais de dez mil peças. Além desses possíveis roteiros visuais, o desafio reside ainda em desenhar uma exposição que supere uma cenografia meramente ilustrativa para se aproximar de uma criação curatorial, na qual texto, expografia e obras tenham uma interação perfeita. A partir de discussões sobre cenografia, relançamos nossas interrogações sobre “a visualidade de determinados fenômenos estéticos para a compreensão de obras de arte”, por exemplo, na comparação entre teatro e artes visuais, o texto do teatrólogo seria a pesquisa do curador que com motivações e conceitos fazem-no criar um recorte do conhecimento. Já o papel do diretor seria o do museógrafo. No caso específico da mostra Samson Flexor: Traçados e Abstrações , a interação da curadora e a designer possibilitou uma discussão profícua desvelada em uma compreensão do estilo da exposição e dos imbricamentos do texto curatorial com a proposta de construção espacial. E as obras, os atores? Como se situam? O conjunto de obras selecionadas para a exposição reúne parte da coleção de desenhos e pinturas de Samson Flexor pertencentes ao Acervo do MAC USP. A seleção apresenta aspectos de sua trajetória, o que torna possível a visualidade de sua investigação e da transformação plástica que essa produção sofreu. Cinco pinturas são os pontos de suporte para as correlações que os desenhos procuram situar e os agrupamentos de desenhos buscam obedecer a uma movimentação na qual “o desenho constrói e espacializa a estrutura do pensamento artístico de Flexor , refletindo-se em telas que pontuam estruturas formais da linguagem do artista”.

Assim, a exposição Samson Flexor: Traçados e Abstrações é uma apresentação da produção do artista, enfatizando a abstração geométrica, com obras de 1948 a 1960. Os desenhos indicam relações evidenciadas no próprio percurso de Flexor e, como decorrência, o título da mostra nasceu da observação desse segmento que, por meio de muitas aparências do seu pensamento, multiplicaram formas, planos e espaços em diagramas que se projetaram em muitos outros. Os traçados e as decorrentes abstrações constituem a própria essência da estética abstrato-construtiva-expressiva do artista, principalmente quando conduziu o “Ateliê Abstração” a partir de 1951 . Os desenhos a lápis grafite e tinta nanquim nos mostram um recorte do trabalho de ateliê, permitindo o contato com aquilo que, normalmente, fica à sombra do público. Ao observá-los, somos levados a perceber que a arte é resultado de trabalho meticuloso, dedicação ao exercício do fazer e, especialmente uma busca constante por uma linguagem que se desenvolve ao longo do tempo. Por fim, ressalta-se que Samson Flexor: Traçados e Abstrações pode compor, para o visitante da mostra, um panorama da obra do artista. Walter Zanini definiu-a como “uma pesquisa da ordenação calculada de formas e cores, com incessante atenção para o movimento que atinge um clímax nas telas com múltiplos pólos de fuga, com espaços que afloram e recuam e que, mais tarde, aproxima-se de uma pintura gestual para desenvolver uma figuração rigorosa e sistemática de sua plástica”.

Carmen S. G. Aranha
Curadora

 

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Samson Flexor - Traçados e Abstrações [Strokes and Abstractions]

The Museum of Contemporary Art of University of São Paulo has spaces that inspire us to embrace challenging curatorial proposals: there are several visualities immersed in a collection of more than ten thousand pieces. In addition to these possible visual routes, the challenge lies in designing an exposition that surpass the mere illustrative scenography in order to approach a curatorial creation in which text, expography and artworks interact perfectly. Due to discussions on cenography, we relaunched our questions about "visuality of certain aesthetic phenomena for understanding works of art". For example, in a comparison between theater and visual arts, the playwright's text would be the curator's research that—with motivations and concepts—create a piece of knowledge. But the role of the director would be the museographer . In the particular case of the exhibition “Samson Flexor: Traçados e Abstrações” [Strokes and Abstractions], the interaction of the curator and the designer enabled a fruitful discussion unveiled in an understanding of the exhibition style and the imbrications of the curatorial text along with the proposed construction of the space. And what about the artworks, the actors? How do they situate themselves? The selection of artworks in this exhibition gathers part of Samson Flexor's drawings and paintings belonging to MAC USP collection on Samson Flexor. It presents aspects of his career, and this enable us to visualize his investigation and the plastic transformation that his production went through. Five paintings are the support points for the correlations the drawings try to situate, and the groups of drawings try to follow a movement in which “the design builds and spatializes the structure of Flexor's artistic thinking process, reflected on paintings that point to formal structures on the artist's language.”

Thus, the exhibition “Samson Flexor: Traçados e Abstrações” [Strokes and Abstractions] is a presentation of the artist's production emphasizing geometric abstraction, with artworks from 1948 to 1960. The drawings point to evident relations in Flexor's artistic language —as a result, the title of the exhibition comes from them—and these relations reveal at times his visual thought, forms, plans, spaces in diagrams that project themselves in many of his artistic works. Pencil and ink drawings show us part of the studio work, allowing us to contact that which normally stays out of the public sight. On observing it, we come to realize that art is the result of meticulous work, dedication to the “doing”, and especially a constant search for a language that develops over time. Finally, we emphasize that Samson Flexor: Traçados e Abstrações” [Strokes and Abstractions] could build an overview of the artist's work to the visitor. Walter Zanini defined it as "a research for calculated organization of shapes and colors, with constant attention to the movement that reaches a climax on pictures with multiple poles of escape, with spaces that emerge and recede and later approaches a gestural painting to develop a rigorous and systematic figuration of its plastic".

Carmen S. G. Aranha
curator

© 2015 Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo