Vizinhos Distantes: Arte da América Latina no Acervo do MAC USP


VIZINHOS DISTANTES - Arte da América Latina no acervo do MAC USP

Uma fronteira de quinze mil quilômetros separa o Brasil de outros países na América do Sul. Além da extensa faixa territorial que atravessa florestas e rios, a experiência de uma proximidade remota é reforçada pela variação linguística entre o português e o espanhol.

No Brasil, "latino-americano" remete a uma alteridade familiar, uma espécie de vizinhança distante, onde a coexistência e a convivência são, de certo modo, restritas e pontuais. No entanto, um mesmo processo civilizatório de expansão, antes imperialista, agora globalizante, nos aproxima. Se, por um lado, os negócios e a economia avançam com tratados políticos e financeiros, a integração regional na cultura e nas artes é muito lenta. A discrepância na distribuição e assimilação da informação artística, apesar dos circuitos integrados da globalização, remete a uma matriz colonial de valores e representações que se orienta, invariavelmente, para o Hemisfério Norte. A exposição Vizinhos Distantes é uma plataforma de apresentação dos repertórios artísticos latino-americanos reunidos no acervo do MAC USP, ao longo de sua história. A contingência heterogênea, híbrida, plural e mestiça desse Continente estimula um deslocamento do olhar do sul para o sul, nessa geografia crítica da arte.

Ao operar nessa perspectiva, a cultura e a arte brasileiras estão presentes nessa mostra como contrapontos latentes. Isto é, o repertório de cada um, seu acervo individual de imagens pode ser mobilizado quando confrontado com a arte da América Latina em exposição, num exercício que estimula as aproximações horizontais. A categoria "arte latino-americana" torna-se insuficiente para reunir as diversidades e contextos culturais da região, bem como contemplar os exílios e as migrações de artistas em trânsito pelo mundo e os efeitos da globalização sentidos deste lado do mundo.

Universalismo construtivo, espacialismos, geometrismos, cinetismos, antropofagias afro-cubanas, neobarrocos, revolucionários, pós-utópicos, articulam-se na exposição numa constelação de núcleos temáticos não cronológicos. São eles: Identitários, Construtivos, Oníricos e Conceituais que apresentam de maneira ampla os muitos perfis do acervo do MAC USP em pinturas, esculturas, instalações, objetos, fotografias, registros e projetos de performances, vídeos e publicações de artistas.

As práticas artísticas conceituais têm lugar privilegiado nessa mostra que apresenta, pela primeira vez, um conjunto específico de trabalhos de artistas latino-americanos, em diálogo com o Museu, nas décadas de 1960-70.

Resultante da pesquisa dessa parcela do acervo, a publicação Terra Incógnita. Conceitualismos da América Latina no acervo do MAC USP acompanha a exposição.

O mapeamento dos circuitos subterrâneos de trocas revela comunidades transnacionais pautadas em estratégias de comunicação e criação, organizadas em redes pré-digitais, como táticas de resistência artística e política. O espírito moderno e as práticas revulsivas austrais, reunidos na exposição, remetem à potência crítica originária desse Continente para seguir ativando outras visadas e vizinhanças.

Cristina Freire
Curadora





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