26 de maio a 5 de agosto de 2018
Entrada Gratuita

 

Paradoxo(s) da Arte Contemporânea:
Diálogos entre os acervos do MAC USP e do Paço das Artes


MAC USP: Acervo(s) em diálogo
Carlos Roberto F. Brandão
Diretor MAC USP

A partir de sua criação, em 1963, o MAC USP teve por finalidade preservar pesquisar e ampliar o acervo que havia recebido do MAM SP e fomentar a produção artística contemporânea. Nessa dupla chave, o Museu foi pioneiro no colecionismo de fotografia, videoarte e proposições artísticas processuais que emergiram no país nas décadas de 1960 e 1970. Constituiu assim o acervo mais importante para uma história da arte contemporânea internacional, no Brasil. Sua participação na emergência das novas tendências artísticas é conhecida desde então, tendo sido recentemente o primeiro museu do país a colecionar artemidia e arte digital - como no caso da instalação de Gilbertto Prado em exposição aqui.

Várias foram as ações de preservação e documentação da arte contemporânea no MAC USP, implantadas, sobretudo, na gestão do primeiro diretor do Museu, Professor Walter Zanini (1924-2013). Para ele, a colaboração estreita com os artistas era fundamental para a atualização da ideia de museu, de pesquisa e da própria arte. Essa ideia de museu foi retomada na instalação do MAC USP em sua nova sede, na qual a distribuição de seu programa de exposições reflete sua visada prospectiva e seu diferencial de pesquisa acadêmica em torno de suas coleções, nas mostras de longa duração de acervo do quinto e do quarto andares do prédio.

A parceria com o Paço das Artes é, portanto, da maior relevância no programa do MAC USP. Assim como o Museu, o Paço das Artes é estimulador da produção contemporânea mais atual, com enorme atenção à preservação da memória desta produção, e um enfoque especial nos debates sobre documentação, arquivamento e conservação da arte contemporânea. As duas instituições vêm criando espaço para trocas de ideias e conhecimento sobre essas questões através de seminários e grupos de estudo. Era quase natural que o MAC USP acolhesse o Paço das Artes para uma exposição, em que a curadoria de ambas as instituições propusesse uma leitura do acervo do MAC USP, fazendo um cruzamento com os artistas que participaram de mostras e programas do Paço e que figuram no acervo do MAC USP.

A exposição Paradoxo(s) da arte contemporânea: diálogos entre acervo do MAC USP e o acervo do Paço das Artes foi momento oportuno para revisitar uma artista fundamental para as duas instituições, para a pesquisa artística no país, e para a formação e o diálogo perene com a produção mais atual: Regina Silveira. Sendo tomada como o cerne da exposição, a partir da obra Paradoxo do santo, as curadoras Priscila Arantes (Paço das Artes) e Ana Magalhães (MAC USP) selecionaram um conjunto de obras de artistas contemporâneos a Regina Silveira que, de certo modo, tratam das questões que emanam de seu trabalho. Outro aspecto importante no processo de produção da exposição foi justamente a atualização dos materiais de apresentação da obra de Silveira e de outros artistas aqui presentes, para sua conservação.


Paço das Artes: Acervo(s) em diálogo
Priscila Arantes
Diretora artística e curadora do Paço das Artes

A preservação da memória de suas atividades, bem como da arte contemporânea, tem sido uma das preocupações prementes do Paço das Artes. Não por acaso, desde 2010, quando completou quarenta anos, a instituição iniciou amplo trabalho no sentido de salvaguardar sua história através de um conjunto de ações e projetos curatoriais.

Por não ser um museu no sentido estrito da palavra e, portanto, não possuir uma coleção de obras de arte, o Paço das Artes tornou seu trabalho de registro e arquivo o eixo fundamental de seu "acervo". Poderíamos dizer que suas ações constituem uma espécie de Museu Imaginário, tal como o definiu André Malraux: o acervo do Paço das Artes são os artistas, as atividades, os curadores, críticos, educadores e público que passaram pela instituição.

Em 2010, o Paço das Artes lançou o projeto Livro_Acervo. Tratou-se de uma exposição portátil e da compilação do arquivo da instituição a partir de um dos mais importantes programas de experimentação artística do Brasil: a Temporada de Projetos. Criada em 1997, a temporada tornou-se ao longo dos anos um rico celeiro da jovem arte contemporânea, reunindo artistas, jovens curadores e críticos em início de carreira.

Arquivo Vivo, exposição apresentada em 2013, deu continuidade a esta pesquisa curatorial, ampliando a discussão do arquivo e do acervo ao conjunto das práticas artísticas contemporâneas. Formada por 22 artistas nacionais e internacionais o projeto teve como objetivo ser um espaço de reflexão em torno do arquivo e das estratégias de construção da memória no contexto da cultura contemporânea.

Recentemente foi lançada a plataforma digital MAPA: Memória Paço das Artes (2014) que reúne todos os artistas, críticos, curadores e membros do júri que passaram pela Temporada de Projetos desde sua criação nos anos 90. A plataforma foi pensada para ser um dispositivo não somente de pesquisa, mas de memória e história de parcela significativa da jovem arte contemporânea brasileira, muitas vezes esquecida pelas narrativas hegemônicas.

Desde que deixou sua antiga sede na Cidade Universitária que ocupou por mais de 20 anos, em março de 2016, o Paço das Artes está alocado no MIS (Museu da Imagem e Som), dispondo de uma sala expositiva que tem sido utilizada para dar continuidade às mostras da Temporada de Projetos.

Dentro desse contexto, da busca por uma sede própria, a instituição tem investido em projetos e exposições por meio de parcerias com outras instituições. Foi dentro desta perspectiva que pensamos a exposição Paradoxo(s) que propõe um diálogo entre o acervo do MAC USP e do Paço das Artes - no caso deste último com acento aos artistas que expuseram no Paço das Artes nos últimos anos. Esta aproximação se justifica por diversas frentes, mas especialmente pela importância que o MAC USP assim como o Paço das Artes, tiveram e têm no fomento e na difusão da arte contemporânea brasileira.

Acreditamos que este diálogo pode ser um instrumento fértil não somente para colocar luz sobre o trabalho das duas instituições, mas, especialmente, para alinhavar alguns fios soltos, como diria Hélio Oiticica, da arte brasileira presente nesses dois acervos institucionais.





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