Diário de Cheiros - Teto de Vidro


A exposição individual de josely Carvalho, artista brasileira radicada em Nova York, é um desdobramento de seu trabalho desde os anos de 1970. Multimídia, a mostra utiliza diversos suportes, do desenho e objeto às instalações olfativas. A artista utiliza o olfato como veículo de resgate da memória individual e coletiva. A mostra se desdobra em duas instalações. Na primeira, Estilhaços, taças de vinho quebradas contêm seis memórias olfativas (Prazer, Ilusão, Persistência, Vazio, Ausência e Afeto) originadas de textos de seis escritores convidados pela artista. Para a instalação seguinte, Resiliência, a artista criou outros seis cheiros: Pimenta, Lacrimae, Ano?xia, Barricada, Poeira e Dama da Noite, inspirados nos estilhaços de vidros das manifestações que ocorreram no Rio de Janeiro em 2013 e que ocorrem em diversas partes do mundo. Para Josely, "os cheiros fortes nos remetem a sensação de perigo, instabilidade, intimidação e fragilidade, com exceção da Dama da Noite, cheiro puro da flor noturna, cheiro inebriante e narcótico que pode chegar a mascarar ou potencializar os outros odores".

Para Katia Canton, docente e curadora do MAC USP, "a artista nutre-se da experiência pessoal e dos fatos sócio-políticos que mobilizam o mundo, sobretudo, aqueles que tocam a condição do feminino, para criar uma teia híbrida onde costura a relação tempo/espaço de maneira espiralada e contínua, assimilando em seus fluxos, imagens, sons, lembranças e, cada vez mais, cheiros retirados de seu cotidiano e de suas histórias de vida".

O público é convidado a tocar, cheirar, ouvir e ver a obra de arte. O sentir permite a abertura da memória. Ao segurar em suas mãos as esculturas levando-a ao nariz, consequentemente os sentidos do olfato e do tato são ativados. O mito de que uma obra de arte não pode ser tocada é quebrado nesta exposição.





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